Tuesday, 16 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1283

O dono da gigante chinesa Alibaba

Quando o Alibaba Group abrir seu capital ainda este mês numa oferta pública inicial que pode levar o valor da empresa a cerca de US$ 160 bilhões, os investidores saberão muito bem quem está no controle da empresa. Jack Ma, 50 anos, pouco mais de 1,5 metro de altura, é o rosto público do grupo. É seu principal negociador. É o principal estrategista. E também o maior investidor individual, dono de participação de 9%.

O Alibaba, empresa fundada no apartamento de Ma em 1999, é hoje um gigante da tecnologia com valor superior ao de nomes conhecidos da indústria americana, como eBay e Hewlett-Packard. Sob a liderança dele, o Alibaba se tornou a força dominante do comércio eletrônico chinês e um símbolo da acelerada ascensão econômica do país. A empresa tem 250 milhões de compradores ativos na China, e seus pedidos correspondem a 60% de todos os pacotes entregues no país.

Esse sucesso ajudou a tornar Jack Ma uma espécie de celebridade entre os diretores executivos, um empresário que se sente à vontade na companhia dos gigantes dos negócios em Davos, comandando a elite política chinesa em visitas guiadas à sua empresa e promovendo a “Sabedoria de Jack Ma” em livros e DVDs.

A oferta pública inicial pode dar a ele (que já é um dos homens mais ricos da China) uma fortuna superior a US$ 15 bilhões. Ele já prometeu doar boa parte dessa riqueza, tornando-se quase instantaneamente um dos maiores filantropos do mundo. (Ma e o Alibaba não concederam entrevista para essa matéria, citando regras que limitam pronunciamentos públicos antes de ofertas públicas iniciais.)

Ma se acostumou a fazer tudo ao seu estilo. Ele tem o costume de fechar negócios com amigos do seu círculo mais próximo e compra empresas de indústrias que parecem não ter relação entre si. Às vezes, é difícil determinar se um investimento é pessoal ou profissional, porque os limites entre o portfólio de Ma e do Alibaba Group muitas vezes parecem tênues.

Essas atividades nem sempre são transparentes, algo que pode acender o alerta para os novos acionistas de uma empresa de capital aberto. Como muitas empresas chinesas, o Alibaba também funciona por trás de um véu de complicadas estruturas de propriedade, que podem limitar as objeções de acionistas discordantes.

Infância

Rebelde e precoce, Ma cresceu na cidade de Hangzhou, leste da China, o segundo dos três filhos de um casal de artistas de pingtan, tradicional técnica de narrativa musical. Os vizinhos dizem que o menino era problemático e, muitas vezes, rebelde, mas talvez ele fosse apenas precoce. Aos 10 anos, Ma Yun (seu nome chinês) começou a gostar de inglês e pedalava sua bicicleta até o hotel Hangzhou para praticar com turistas estrangeiros, experiência que ele diz ter aberto sua mente para um mundo mais amplo.

Suas dificuldades com a matemática quase o impediram de frequentar a faculdade. Mas, depois de ser aprovado no exame nacional de admissão universitária na terceira tentativa, Ma entrou numa universidade de professores locais, onde obteve resultados impressionantes.

Com a economia chinesa começando a decolar, Ma enxergou oportunidades no empreendedorismo. Os amigos dizem que, no tempo livre, ele participou da fundação de uma agência de tradução, vendeu remédios e tentou a sorte no mercado de ações.

“Se eu não ficar milionário antes dos 35”, brincou Ma com o amigo Qi Xiaoning, “mate-me, por favor!” Ele visitou os EUA pela primeira vez em 1995. Ma tinha feito amizade com Bill Aho, um americano que ensinava inglês em Hangzhou, e hospedou-se na casa dos parentes de Aho em Seattle. Lá, ele foi apresentado à internet pelo genro de Aho, Stuart Trusty, que administrava a VBN, um dos primeiros provedores de acesso à internet dos EUA.

Ma voltou para casa e fundou uma das primeiras empresas chinesas da web, a China Pages, um diretório online de empresas locais em busca de clientes no exterior. Ex-colegas dizem que Ma trabalhava incansavelmente, batendo em portas, tirando fotos, reunindo informações e traduzindo-as para o inglês.

A China Pages enfrentou dificuldades no início, mas Ma manteve o otimismo. Durante uma viagem a Seattle em 1996 para conhecer os sócios da VBN, ele parecia confiante num futuro de riquezas, diz Aho, que viajou com ele. Em 1996, a China Pages foi pressionada a formar uma joint venture com a Hangzhou Telecom. O acordo definiu que o comando ficaria com o governo.

Fundação

Quando Ma fundou o Alibaba em 21 de fevereiro de 1999, ele pediu a 17 amigos que se reunissem em seu apartamento no segundo andar do Lakeside Gardens, em Hangzhou. No quartel-general improvisado, ele fez uma longa palestra a respeito de suas ambições e do quanto a China precisava de uma grande startup. Posteriormente, Ma revelou que escolheu o nome porque “todos conhecem a história de Ali Babá”, disse. “Trata-se de um jovem disposto a ajudar os outros.”

A empresa foi erguida com base numa premissa semelhante: ajudar empresas a encontrar clientes no exterior. Se um varejista americano estivesse procurando por um fornecedor de pantufas de algodão na China, talvez recorresse ao alibaba.com. Se um produtor chinês de botões quisesse exportar para a Coreia do Sul, poderia publicar um anúncio no site. Para ele, o Alibaba seria como uma sala de reuniões virtual para pequenas e médias empresas envolvidas no comércio global.

No começo, Shirley Lin, banqueira do Goldman Sachs, visitou o apartamento de Ma. “Fui ao apartamento deles, onde todos trabalhavam sem parar”, diz Shirley, que hoje leciona na Universidade Chinesa de Hong Kong. “O cheiro do lugar era horrível, havia pilhas de embalagens velhas de macarrão instantâneo. A dedicação dele a fazer o modelo dar certo na China era total. Fiquei comovida com o que vi.”

Um mês mais tarde, o Goldman esteve à frente de um investimento de US$ 5 milhões na empresa. Pouco depois, Masayoshi Son, presidente do SoftBank japonês e um dos homens mais ricos do mundo, concordou em liderar outra rodada de investimentos na casa dos US$ 20 milhões. Com os investidores internacionais, Ma compartilhou uma grande fatia da empresa com seus 17 cofundadores: em sua maioria amigos e ex-estudantes, e contando entre eles a mulher de Ma, Cathy.

Mas o poder ainda continuava concentrado em grande parte nas mãos de Ma. Ele e seu principal vice, Tsai, detinham duas das quatro cadeiras no conselho de administração da empresa. Ma controlava também as companhias operadas pelo Alibaba na China.

Quando o Alibaba começava a ganhar dinheiro, em 2002, Ma propôs criar um site voltado para o consumidor para concorrer com o eBay. Com o financiamento do SoftBank, o Alibaba montou uma força tarefa secreta para desenvolver o site do consumidor, que chamou Taobao, ou “em busca do tesouro”.

A partir de então, trimestre após trimestre, ano após ano, o Alibaba registra um crescimento fantástico. E a companhia, que em 2004 apresentou um faturamento de cerca de US$ 50 milhões, este ano poderá chegar a cerca de US$ 10 bilhões. 

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David Barboza, do New York Times