Friday, 29 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

Após ataque da PM, estudantes são satirizados por Polícia Civil

Em 2013, P., estudante de Presidente Prudente que não quis ser identificado, estava em um grupo com oito estudantes quando foi abordado por uma viatura da Polícia Militar devido a uma denúncia anônima sobre uso de drogas. De acordo com seu depoimento, durante a abordagem os policiais empunharam armas e agiram de forma racista e violenta, apesar de não terem encontrado nenhum tipo de drogas com o grupo. “Fizemos o que eles nos pediram. Eles começaram agredindo física e psicologicamente as pessoas negras do grupo, mantiveram a arma apontada pra cabeça deles e xingavam de forma racista essas pessoas”, conta o estudante.

Após o ocorrido, o grupo se dirigiu a uma delegacia da polícia civil, onde fez queixa contra a PM. O ambiente na delegacia não foi um dos mais receptivos. “Nunca fui tratado com tanto desdém. Parecíamos bandidos, com policiais tirando sarro da gente, nos chamando de vagabundos por sermos estudantes” é como P descreve sua experiência na delegacia. As vítimas deste caso nunca foram chamadas para reconhecimento dos policiais.

Segundo Relatório Semestral de Prestação de Contas da Ouvidoria da Polícia do Estado de São Paulo, no 1º semestre de 2014, foram registradas na Ouvidoria de Presidente Prudente e região 34 denúncias de crimes cometidos pela polícia do estado, sendo nove contra a Polícia Civil e 25 denúncias contra Polícia Militar. No mesmo período, 4.101 denúncias foram registradas pela Ouvidoria da Polícia no Estado de São Paulo.

Falta de acesso à informação

A competência da Ouvidoria da Polícia no Estado de São Paulo é recepcionar denúncias da população contra irregularidades na ação da polícia do estado, encaminhar para o órgão responsável pela apuração e acompanhar a denúncia até o final do processo. Porém, é questionável a eficiência deste órgão diante de algumas situações de descaso com a população.

Júlio César Fernandes, Ouvidor da Polícia do Estado de São Paulo, enfatiza que “a Ouvidoria não tem o poder de apurar e investigar, mas isso não significa que o ouvidor não possa sair a campo e verificar a situação, onde ele pode ajudar até na investigação”. Entretanto, cabe à população cobrar por resultados também.

O estudante acredita que casos como este aconteçam em regiões mais afastadas de centros urbanos devido à falta de acesso à informação das camadas mais baixas da população. “Aqui as pessoas têm mais medo e não sabem tanto dos seus direitos, em cidades menores é mais fácil de ocorrer esses fatos. Em Presidente Prudente, temos a Rota, que já é bem conhecida por represálias à população”, declara.

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Isabel Silva é estudante de Jornalismo