Tuesday, 16 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1283

Grande mídia ignora o lado humano na cobertura do ebola

A recente epidemia do ebola na África Ocidental desencadeou várias matérias ao redor do mundo, porém críticos como Ishmael Beah, nascido em Serra Leoa e autor do livro A Long Way Gone: Memoirs of a Boy Soldier, no qual relata experiência como criança soldado na guerra civil do país, não acreditam que a mídia esteja reportando corretamente as histórias dos africanos em meio à epidemia.

Para Beah, as reportagens, em sua maioria, mostram apenas o lado negativo, sem dar espaço aos africanos que superaram a doença, e por isso acabam reforçando o estereótipo dos africanos que só aparecem na mídia quando precisam da ajuda dos países europeus e dos Estados Unidos.

Cobertura reforça preconceito

Beah diz que gostaria de ver mais reportagens mostrando o lado humano da história, como, por exemplo, os africanos que são obrigados a se separar de familiares atingidos pelo ebola, ou relatos de pais ou filhos que veem familiares contaminados. Para o escritor, a mídia acaba focando apenas nas imagens dos médicos e voluntários cobertos da cabeça aos pés na tentativa de evitar o contágio.

Ele diz que tal abordagem reforça o preconceito e faz as pessoas acharem que a contaminação pode se dar pelo ar, ou que todos os africanos são transmissores em potencial.

Discriminação generalizada

Recentemente, vários casos de discriminação contra africanos foram registrados ao redor do mundo devido ao temor de contaminação pelo ebola. Em Seul, por exemplo, um bar proibiu a entrada de africanos. O próprio Beah relatou olhares preocupados de funcionários quando precisou ir a um consultório médico nos Estados Unidos. Ele disse que a postura dos presentes só mudou quando revelou não ter estado na África recentemente.