Friday, 29 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

Literatura em Teoria da Comunicação

Nos anos 1970, a pesquisadora alemã Elizabeth Noelle-Neuman (1916-2010) liderou um grupo de pesquisadores que desenvolveu o conceito de Espiral do Silêncio. A ideia da Espiral ajudava a explicar uma série de eventos trágicos, como a ascensão do nazismo na Alemanha.

Em linhas gerais, segundo a pesquisadora, o ser humano, enquanto ser social, tem medo do isolamento. Por isso, tende a omitir sua opinião quando sente que está em minoria, por receio de destoar dos demais. Por outro lado, se percebe que a sua opinião coaduna com o pensamento dominante no interior da comunidade da qual faz parte, sente-se motivado a se manifestar.

Em muitos casos, a opinião percebida como dominante não é a dominante de fato. Trata-se de uma mera questão de percepção, a qual pode não corresponder à realidade. Contudo, basta a opinião serpercebida como majoritária para que, assim, possa se beneficiar do fenômeno da espiral. E os meios de comunicação de massa são os principais responsáveis pela criação de percepções que nos induzem a crer que determinada ideia é ou não dominante.

Esta é uma das pesquisas clássicas em comunicação abordadas no livro Teoria da Comunicação: ideias, conceitos e métodos (Vozes), do jornalista e professor universitário Luís Mauro Sá Martino.

Mundo digital

A bibliografia no campo da Teoria da Comunicação é vasta. Vão dos clássicos – como Teorias da comunicação de massa, de Denis McQuail (Artmed) e Teorias da comunicação, de Mauro Wolf (sem edição recente no Brasil) – às obras compactas, com um tom didático, como o opúsculo Teorias da comunicação: da fala à internet, de Roberto Elísio dos Santos (Paulinas).

Seja pela linguagem, seja pelo forma de abordar os assuntos – complexos e, por vezes, abstratos –, as referências clássicas acabam não sendo bem digeridas pelos estudantes do primeiro período. O que é compreensível, uma vez que estes estão no início de suas jornadas acadêmicas e estão prestes a entrar em contato, pela primeira vez, com muitos dos teóricos da comunicação. Logo, é comum a recomendação de obras compactas, mais simples – pelo menos em um primeiro momento.

O livro de Luís Sá Martino encontra-se exatamente no meio termo. Possui uma abrangência e profundidade maior que as obras compactas. Entretanto, consegue abordar as teorias com uma linguagem leve, atual, próxima dos discentes. Para se ter ideia, no capítulo referente à Espiral do Silêncio, o autor utiliza exemplos como a de propagandas brasileiras, o que contribui para aproximar o leitor da pesquisa realizada por Noelle-Neuman, nos idos dos anos 1970.

Por fim, é importante frisar que a Teoria da Comunicação não é uma disciplina imutável. As mídias e as formas de consumi-las não param de mudar. E o mesmo se pode dizer das pesquisas em comunicação. Por esse motivo, uma obra de teoria da comunicação deve manter-se contemporânea, o que justifica a publicação de novas edições de um mesmo título, devidamente revisadas e atualizadas.

A edição mais recente de Teoria da comunicação: ideias, conceitos e métodos, por exemplo, dedica capítulos a fenômenos recentes de comunicação, como os reality shows, as redes sociais e as guerrilhas virtuais.

Referência recomendada

MARTINO, Luís Mauro Sá. Teoria da comunicação: ideias, conceitos e métodos. 4ª ed. Petrópolis: Vozes, 2013.

******

Tiago Eloy Zaidan é mestre em Comunicação Social pela Universidade Federal de Pernambuco, coautor do livro Mídia, movimentos sociais e direitos humanos (organizado por Marco Mondaini, Ed. Universitária da UFPE, 2013) e professor do curso de Comunicação Social na Faculdade Joaquim Nabuco (Recife, PE) e na Escola Superior de Marketing – FAMA (Recife, PE)