Thursday, 28 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

Jornalistas, mais do que nunca, necessários

Começo com um trecho de uma postagem recente do pesquisador, professor e jornalista Luiz Artur Ferraretto, na sua página no Facebook: “Do baixo nível dos comentários em redes sociais a respeito das eleições presidenciais, conclui-se que nunca foi tão importante a função de jornalista, mediador adequadamente constituído para tal entre os fatos e o público. Claro que estou falando do profissional sério, aquele que esgrime substantivos e verbos, deixando os adjetivos para os ficcionistas.”

Ou seja, o polo emissor da notícia não está mais restrito aos meios de comunicação tradicionais – afinal, através dos meios disponíveis, principalmente os que estão assentados na internet, praticamente todo mundo pode noticiar um fato ou mesmo inventá-lo. E nós, jornalistas, nos meios de comunicação em que trabalhamos, temos o dever ético e profissional de filtrar o que está sendo escrito e dito nos ambientes virtuais e, pelo menos, explicar ao público, de maneira quase didática, os fatos relevantes, neste caso específico, relacionados às eleições.

É preciso que observemos que neste pleito está acontecendo algo que já havia sido sinalizado em eleições passadas: os debates e guias eleitorais estão sendo pautados pelo que acontece, especificamente, nos sites de redes sociais. Nesse sentido, os jornalistas, como interpretadores da realidade social, devem suscitar assuntos que estão sendo deixados de lado pelas campanhas e que realmente interferem nos rumos do país.

Insanidade coletiva

Porém, não tenho a ilusão de afirmar que os meios de comunicação tradicionais estão cumprindo um papel social de atuarem filtrando e explicando os fatos relevantes para a sociedade. Diversas vezes deparamos com favorecimentos deliberados a determinado candidato e, o pior, essa corriqueira manipulação vem travestida como informação imparcial.

Melhor seria que os meios de comunicação assumissem qual candidato estão apoiando para que as pessoas tivessem clareza sobre o que estão lendo, assistindo e/ou ouvindo.

Diante disso, cresce a necessidade de uma pluralização maior dos meios de comunicação e isso, de certa forma, acontece com a internet. O problema é que as formas de regulação são mínimas ou não existem, propiciando assim a proliferação de plataformas supostamente jornalísticas que deturpam totalmente as funções da área.

Dentro desse contexto, é importante, sim, que haja um marco regulatório na comunicação, para que possamos ter meios plurais, mas que atuem seguindo padrões mínimos de legalidade e ética, sem, claro, terem a liberdade de expressão violada.

Cabe aqui mais uma citação do professor Ferraretto, que enfatiza a necessidade dos jornalistas neste tempo de informações líquidas: “Com certeza, nós, os jornalistas, erramos com frequência, mas nunca fomos tão necessários. Vamos registrar e deixar para a posteridade um lamentável momento de insanidade coletiva. Isto, se não formos calados como em outras épocas”.

Enfim, ainda é através dos jornalistas que as informações mais credíveis podem ser encontradas. Pelo menos essas informações passaram por apuração, checagem etc., sejam essas informações tendenciosas ou não.

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Raul Ramalho é jornalista