Thursday, 28 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

Editor foi o símbolo da ‘era de ouro’ do jornalismo americano

Amigo do presidente John Kennedy e depois comandante da cobertura que levou à renúncia do presidente Richard Nixon, o editor Ben Bradlee foi o símbolo da era de ouro do jornalismo nos EUA, dos anos 1950 aos 1970.

Interpretado pelo ator Jason Robards em Hollywood, em versão ainda mais romanceada do já lendário caso Watergate, estabeleceu o paradigma de excelência em jornalismo mundo afora.

Expressões como “follow the money”, siga o dinheiro, criada pelo roteirista de “Todos os Homens do Presidente”, tornaram-se leis pétreas para qualquer repórter iniciante, em qualquer país.

Mas Watergate, na visão corrente da história do jornalismo americano, foi o final de uma era, não seu início ou ápice. E não faltam questionamentos sobre os excessos e desvios que inspirou.

Mais importante, aliás, teria sido a atuação de Bradlee num caso anterior e de impacto institucional maior, os Papéis do Pentágono. Foi o primeiro sinal de grandeza do “Washington Post”, até então um jornal local.

O caso havia sido revelado pelo “New York Times”, mas o “WP” também obteve os documentos da guerra do Vietnã e, pressionado pelo governo, resistiu junto com o concorrente –e juntos venceram.

As duas coberturas, Watergate e Pentágono, impuseram limites ao poder do Estado e se somaram à lição da primeira era de ouro do jornalismo, hoje pouco lembrada, na virada do século 19 para o 20.

Naquele período, editores e repórteres da revista “McClure’s” revelaram os abusos de gigantes como Standard Oil e US Steel e ajudaram a impor limites ao poder dos monopólios corporativos.

Para além de qualquer ficção hollywoodiana, o modelo de jornalismo deixado por editores como Ben Bradlee e S.S. McClure é de enfrentamento dos poderosos, por maior que seja a pressão que consigam exercer.

No que muitos veem hoje como uma terceira era de ouro do jornalismo americano, com revelações como o escândalo de espionagem da NSA, a Agência Nacional de Segurança, as lições –e as pressões– seguem presentes.

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Nelson de Sá, da Folha de S.Paulo