Wednesday, 24 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Sim, eu continuo discutindo política

Escolhi esse título porque já imagino muita gente torcendo o nariz e dizendo: “Chega de falar de política! A eleição já passou”. Mas, na minha humilde opinião, é justamente aí que está um dos problemas mais graves na sociedade atual. As pessoas agem apenas por impulso; não procuram descobrir a raiz dos problemas que assolam a população. Nessas eleições isso ficou muito claro, pois a reprodução de bobagens (tanto de um lado, quanto do outro) foi intensa. Eu separei alguns temas para discutir neste texto: mídia-educação, democracia e falta de noção de alguns eleitores.

Começo pela mídia-educação, justamente porque essa é uma práxis, ou seja, uma ação e reflexão sobre a realidade. Qual é seu principal objetivo? Tornar os sujeitos mais críticos, ativos e criativos diante de um universo midiatizado. Sou jornalista e faço esse trabalho com crianças e adolescentes visando sempre a buscar a garantia do direito da criança e do adolescente em relação às mídias para, acima de tudo, buscar formar cidadãos para uma sociedade cada vez mais contaminada de informações.

A impressão que se tem é que as pessoas só tomam como realidade o que passa na TV. Mas, quantas outras coisas aconteceram naquele dia? Milhões! Por que nenhuma emissora se preocupou em demostrar para a população que os programas sociais, além de transferir renda, também se ocuparam em melhorar a moradia, educação, saúde, eletricidade e saneamento das pessoas? Na verdade, todos sabem a resposta. A mídia faz parte dessa nova fase do capitalismo, que visa ao lucro acima de tudo. Distribuição de renda?! Frase que provoca asco nos grandes capitalistas.

Fatos positivos

E, depois das eleições, as pessoas passaram a não aceitar o resultado. Elas se esqueceram da face mais bela da democracia! Não importa cor, raça, religião etc. O voto de todos tem exatamente o mesmo valor. Quando vejo postagens dizendo que deveríamos dividir o Brasil, percebo mais uma vez que a mídia, ao invés de mostrar a notícia de uma maneira mais ampla, apenas reforçou esse sentimento, como se quem votou no PT fossem apenas os nordestinos e beneficiários dos programas sociais. Você sabia que muitas pessoas devolvem o cartão do Bolsa Família depois que melhoram de vida? Eu sei porque pesquisei em outros lugares, mas a mídia não mostrou isso antes das eleições. A criticidade é uma coisa que deve ser trabalhada desde a infância. O que passa na televisão é apenas um recorte da realidade. Por isso devemos olhar para as informações sempre desconfiados, buscando outras fontes.

E para fechar com chave de ouro, nos últimos dias estão ocorrendo passeatas para pedir a derrubada da presidenta eleita. E, mais do que isso, para pedir a intervenção militar, ou seja, a volta da ditadura. Neste momento, podemos perceber o quanto o imaginário das pessoas está contaminado. Será que elas sabem o que foi esse período de nossa história? Eu prefiro acreditar que não. Dói muito menos.

Diante de tanta bobagem, também surgiram coisas positivas como, por exemplo, a inserção das pessoas no ambiente político. Mesmo disseminando inverdades, os sujeitos estão mais envolvidos nesse espaço que lhes pertence por direito. A única coisa para que precisamos atentar é que, antes de reproduzir qualquer informação, devemos pesquisar em várias fontes, e não aceitar como verdade absoluta tudo que os meios de comunicação de massa reproduzem. Muitos eleitores já se preocupam com isso, o que se tornou evidente quando o candidato que era apoiado pelos principais grupos de comunicação foi derrotado pela maioria da população. Isso demostra que os indivíduos começaram a parar de engolir tudo que é despejado por uma minoria que insiste em obter o poder em todos os âmbitos da sociedade.

< ****** Laís Cardoso é jornalista