Saturday, 23 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Biblioteca Mundial da Ciência

Recursos didáticos aplicáveis ao ensino de ciências são sempre necessários e bem-vindos. Por isso, é de se aplaudir a iniciativa da Unesco – a agência da Organização das Nações Unidas (ONU) voltada para o desenvolvimento da educação, ciência e cultura – de criar e disponibilizar na internet a Biblioteca Mundial da Ciência (Word Library of Science – WLOS). 

O objetivo principal é criar uma comunidade global de usuários interessados em ciência, que possam contribuir para o projeto e ‘alimentar-se’ dele.

Visite a biblioteca virtual e confira. O projeto ainda está em fase inicial (foi lançado nesta semana), mas já disponibiliza 25 livros (e-books), cerca de 300 artigos e mais de 70 vídeos e animações, que certamente vão interessar os apaixonados pela ciência e auxiliar professores e alunos, principalmente, os do ensino médio.

Dê uma olhada especial nos vídeos e animações já disponíveis. São produções da Nature Education, a divisão de educação da Nature, grupo editorial que publica uma das mais importantes e consagradas revistas científicas. 

Entre eles, encontra-se, por exemplo, Betting on the cosmos (Apostando no cosmos), vídeo no qual os físicos Robert Betts Laughlin e David Jonathan Gross, ganhadores do Nobel de Física em 1998 e 2004, respectivamente, debatem o que teria acontecido logo após o Big Bang e discutem como testar as grandes ideias da física sobre o universo.

>> Assista abaixo ao vídeo, com legendas em português

 

 

Aliás, se você gosta ou ensina ciências, visite e conheça também os recursos disponibilizados pela Nature Education, pois é da Scitable (a plataforma de conteúdos livres da Nature) que se origina a maior parte dos recursos que estão sendo usados para alimentar inicialmente a biblioteca da Unesco. 

Se sua área de atuação é biologia, por exemplo, dê uma olhada especial nasanimações disponíveis sobre genética (tradução, transcrição, sequenciamento, replicação etc.), citologia (meiose e mitose, entre outros) ou evolução (mutações, migração, seleção etc.). Elas poderão auxiliá-lo a entender melhor os mecanismos envolvidos em processos biológicos complexos e, caso seja professor, a ilustrá-los melhor para seus alunos.

Visite também a área da Scitable chamada de Projeto do conhecimento. Nela, há um conjunto de artigos sobre genética, biologia celular, comportamento animal, ecologia e evolução, produzidos por pesquisadores renomados. Os artigos, além de apresentarem conteúdo de revisão, abordam sempre as fronteiras do conhecimento ou o que há de mais atual em relação aos temas abordados. 

Ler o que se encontra nessa biblioteca é, portanto, uma ótima oportunidade para quem quer se atualizar – o que muitas vezes falta para quem é professor de ciências no ensino fundamental ou médio. 

Aprendizagem compartilhada

Mas, voltando à Biblioteca Mundial de Ciência criada pela Unesco, a iniciativa não se resume apenas a disponibilizar informações e recursos. O interesse está, também, em incentivar a comunicação entre estudantes, professores e interessados em ciência, em uma experiência de aprendizagem compartilhada. 

Por isso, é interessante também cadastrar-se na plataforma e começar a compartilhar experiências, participando das discussões, das aulas e dos grupos de interesse ou mesmo ajudando a criar e ampliar esses recursos.

Faça isso acessando aqui e observe, na lista de pessoas já engajadas no projeto (rolando-se a página), que há vários brasileiros participando da iniciativa.

Como se declara nos pressupostos de lançamento da Biblioteca Mundial de Ciência, a Unesco busca, com essa iniciativa, tornar a aprendizagem em ciência acessível a todos; equalizar oportunidades de aprendizagem e disponibilizar material didático de qualidade. Pretende, ainda, usar futuramente a plataforma para a formação de professores e de alunos, sobretudo nas regiões menos favorecidas. 

Os objetivos são, portanto, condizentes com a proposta e os programas de incentivo à ciência mantidos por essa unidade da ONU que visam, de modo geral, melhorar a qualidade do ensino e da aprendizagem e fortalecer a educação científica no mundo.

Como defende a Unesco, ao ampliar e tornar mais disponível o conhecimento científico, aumenta-se a possibilidade de solução para os desafios econômicos, sociais e ambientais graves postos atualmente. Além disso, favorece-se o desenvolvimento sustentável, assim como se incentiva uma cultura de colaboração e paz. 

Nova tendência

Os objetivos certamente são nobres. Mas, além deles, é importante refletir também que, ao lançar a Biblioteca Mundial da Ciência como uma plataforma de livre acesso à informação e de incentivo à aprendizagem compartilhada, a Unesco está indicando claramente uma nova tendência e direção para a educação em ciência.

Com a informação cada dia mais acessível e franqueada, o caráter e a forma da educação em ciência oferecida em nossas escolas terão que mudar.

A boa escola não será, por exemplo, aquela que pretensamente oferece aos alunos a melhor informação (o ‘melhor material didático’, o ‘sistema apostilado x’ ou ‘livros didáticos virtuais’, como atualmente ainda é explorado pelo ‘marketing educacional’ de muitas escolas particulares). Será aquela que contar com professores competentes, capazes de se valer da informação amplamente disponível, para ensinar os alunos a pensar e agir com base nela. Ou, nas palavras da Unesco, capazes de formar alunos competentes o bastante para enfrentar desafios econômicos, sociais e ambientais, em uma cultura de paz e colaboração. 

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Vera Rita da Costa, do Ciência Hoje / SP