Friday, 29 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

Aereo entra com pedido de recuperação judicial nos EUA

A Aereo chegou ao mercado de mídia dos Estados Unidos com pompa e circunstância há cerca de três anos, oferecendo uma pequena antena e um grande projeto não só para mudar a forma como as pessoas viam televisão, mas também prometendo abalar a lógica econômica do setor de TV.

O projeto, que desencadeou uma das maiores batalhas legais da história da televisão americana, essencialmente morreu na sexta-feira, quando a startup de streaming de TV anunciou que apresentou um pedido de proteção contra falência. Chet Kanojia, o diretor-executivo da companhia, afirmou em um blog que as dificuldades legais e regulatórias se tornaram impossíveis de superar.

O anúncio ocorreu cerca de cinco meses após a decisão da Suprema Corte americana, que basicamente destruiu o modelo de negócio da Aereo. O tribunal decidiu que a empresa violou leis de direitos autorais, ao capturar sinais de TV por intermédio de suas antenas e transmiti-los a seus assinantes ao custo de uma taxa.

O processo foi devolvido a instâncias inferiores da Justiça, e a Aereo passou os últimos meses tentando encontrar uma abordagem, que a permitisse continuar suas operações. A empresa informou na sexta-feira que o pedido de proteção judicial vai permitir “maximinizar o valor de seu negócio e ativos”, sem os custos e os desgastes de um litígio. A Aereos também apontou Lawton Bloom, da Argus, como diretor-chefe de Reestruturação.

O chamado Capítulo 11 da legislação americana de falências permite que a empresa ponha fim a batalhas na Justiça e resguarde o que restou de ativos. A companhia, por exemplo, pode buscar vender suas gravações armazenadas na nuvem e tecnologias de streaming.

Equipe eclética

Embora a Aereo fosse uma empresa pequena, com seu serviço limitado a algumas dezenas de milhares de assinantes, as grandes redes de TV temeram que as empresas a cabo e por satélite desenvolvessem tecnologias similares, evitando o pagamento de licenças de retransmissão, que somam quase US$ 5 bilhões anualmente, de acordo com a SNL Kagan.

As emissoras argumentaram que o negócio da Aereo violava direitos autorais e era uma forma de roubar seus programas por meio de alta tecnologia. A Aereo respondeu que seu serviço era um solução digital para assitir gratuitamente transmissão.

A Aereo foi fundada por uma equipe de engenheiros, advogados, especialistas em marketing e até mesmo um medalhista olímpico com o propósito de prover um novo serviço de visualizar programas, que “permite opções e liberdade”. A empresa arrecadou um total de US$ 97 milhões em financiamento e foi apoiada pela empresa de mídia e internet de Barry Diller, IAC/InterActiveCorp.

Os clientes pagavam entre US$ 8 e US$ 12 por mês para alugar uma das antenas da Aereo, que capturavam os sinais de transmissão das emissoras. A partir daí, os clientes podiam assistir e gravar programas de grandes emissoras, usando seus smartphones, tablets, laptops e televisores conectados à internet.

Sem plano B

Desde o início do processo, a empresa informou que não possuía um “plano B”, caso fosse derrotada na Justiça, e analistas e especialistas legais disseram que a companhia tinha poucas opções para sobreviver sem mudar seu modelo de negócio. Porém, após a decisão da Suprema Corte, Kanojia afirmou que o trabalho da companhia não havia terminado e acrescentou que continuaria a “lutar para criar tecnologias inovadoras”. A Aereo suspendeu seus serviços em junho, três dias após a decisão da Suprema Corte.

Por outro lado, desde meados do ano, algumas emissoras lançaram planos que permitiriam seus telespectadores fazer streaming de seus programas preferidos via internet e on demand. A CBS, por exemplo, anunciou uma assinatura de serviço streaming no mês passado.

“Fizemos uma longo e desafiador caminho”, disse Kanojia na sexta-feira. “Fomos sinceros em relação à nossa missão e acreditamos tivemos um papel importante em levar a conversa adiante, ajudando a forçar uma mudança positiva no setor para os consumidores”.