Saturday, 20 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

A exuberância prematura do ‘Times’

O New York Times segue sendo visto pela comunidade jornalística mundial como um modelo para o negócio, tanto em termos de conteúdo quanto das estratégias para enfrentar a crise de mais de 20 anos que aterroriza o setor.

Por isso, quando o seu tão elogiado sistema de paywall chegou ao número de 870 mil assinantes digitais, muitos – inclusive na direção do diário – acharam que a saída havia sido encontrada e que variáveis do sistema lhe dariam a sonhada sustentabilidade.

Mas, como disse Ken Doctor, do Nieman Journalism Lab da Universidade Harvard e um dos principais analistas da atividade empresarial jornalística neste século, o Times pode ter sofrido um caso de “exuberância prematura”.

No dia 1o de outubro, foi feito o anúncio de que cem jornalistas do diário estavam sendo demitidos, num claríssimo indício de que as coisas não estão indo tão bem quanto o previsto.

É verdade que, mesmo com essas demissões, o número de jornalistas na redação (1.230) agora ainda é 3,4% superior ao de 2011, quando o jornal começou a adotar a nova estratégia, que – portanto – ainda não pode ser descartada como ineficaz.

Em 1999, o Times vendia 1,6 milhão de cópias impressas de sua edição de domingo. Atualmente, cerca de 2 milhões de pessoas pagam por esse produto (desse conjunto, 1,2 milhão na forma impressa).

É um sucesso, sem dúvida, mas o problema é que isso não parece suficiente, provavelmente porque esse crescimento não tem sido acompanhado por aumento proporcional de faturamento publicitário e porque as assinaturas digitais custam menos que as tradicionais. Mas o modelo de paywall será mantido e aperfeiçoado, segundo os executivos do Times.

Jornais brasileiros acordam para o futuro

Após terem desperdiçado preciosos anos, os jornais brasileiros parecem ter acordado para a necessidade de ousar mais se quiserem superar a queda em vendas e faturamento publicitário que vêm registrando desde 2008.

O Congresso Brasileiro de Jornais de 2014, em agosto, e o seminário da International News Media Association, em outubro, tiveram possivelmente os trabalhos e debates mais realistas e produtivos realizados pelos responsáveis do setor em muito tempo. Deles, destacam-se a iniciativa publicitária “Jornais em Movimento”, a criação de plataformas para facilitar compras de anúncios em campanhas nacionais e a constatação de que é preciso investir em formatos para o consumo de conteúdo em plataformas móveis, em especial o telefone, a preferência do público jovem.

Pesquisas de opinião pública mostram que os jornais são veículos que gozam de credibilidade social superior a seus concorrentes, e essa relevância não pode ser jogada fora. É neles, em suas diversas versões, que a maior parte das pessoas diz procurar informações, e os leitores de jornais são os que prestam mais atenção à publicidade, segundo pesquisa de agosto da Ipsos Marplan.

Outra pesquisa, de março, feita pelo Ibope Inteligência para o governo federal, mostra que 53% dos brasileiros dizem ter mais confiança nos jornais do que na TV. Esses números contrastam radicalmente com a distribuição do bolo publicitário nacional, que dá 68,9% à TV e 8,6% aos jornais.

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Carlos Eduardo Lins da Silva é livre-docente, doutor e mestre em comunicação; foi diretor-adjunto da Folha de S.Paulo e do Valor