Friday, 26 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Sony Pictures sofre consequências do ataque de crackers

A Sony Pictures Entertainment cancelou oficialmente o lançamento do filme A Entrevista depois que vários cinemas nos EUA se recusaram a exibi-lo por temer retaliações terroristas. Desde que anunciou o longa que parodia o assassinato do líder norte-coreano Kim Jong-un, a empresa enfrentou uma série de problemas, incluindo a invasão de seus sistemas por crackers e a divulgação de uma série de documentos confidenciais e e-mails de seus executivos.

Os ataques foram assumidos por um grupo autodenominado Guardiães da Paz (Guardians of Peace, ou GOP), que publicou uma mensagem online avisando para que espectadores não assistissem ao filme estrelado por Seth Rogen e James Franco.

Em comunicado, a Sony disse respeitar e compreender a decisão de seus parceiros, e ressaltou que compartilha do interesse primordial de zelar pela segurança de funcionários e frequentadores das salas de cinema.

As ameaças desencadearam uma investigação por parte do Departamento de Segurança Interna dos Estados Unidos, no entanto os agentes federais alegaram ainda não haver “inteligência crível” de uma conspiração para atingir os cinemas do país.

Celebridades em defesa da Sony

A decisão da Sony surgiu simultaneamente às acusações de que a Coreia do Norte é diretamente responsável pelos ataques ­– fato refutado pelos governantes do país comunista –, situação que pode causar uma crise diplomática grave entre os envolvidos. O FBI, no entanto, diz não ter confirmações sobre a origem dos ataques.

Segundo o IMDB, popular banco de dados sobre cinema, o filme tem seu lançamento na Europa agendado para o final de janeiro 2015 (com exceção do Reino Unido, que seria em 6/2). A Sony, no entanto, não esclareceu se planeja adiar o lançamento em outros países.

Várias figuras de Hollywood, incluindo o ator Brad Pitt, o roteirista e produtor Aaron Sorkin e o próprio Seth Rogen, criticaram publicamente a imprensa por divulgar as mensagens crackeadas no sistema da Sony Pictures.

Em sua conta no Twitter, o escritor brasileiro Paulo Coelho chegou a oferecer cem mil dólares para que a Sony Pictures liberasse os direitos do filme e ele pudesse exibi-lo em seu site pessoal.

“O que a Sony estava pensando?”

Em artigo para o Guardian, o professor de jornalismo e colunista Roy Greenslade disse não se surpreender com a postura dos cinemas de suspender a exibição do filme. No entanto, questionou: “O que a Sony pensava estar fazendo ao permitir a produção do filme, para começo de conversa? Será que o estúdio não foi capaz de prever que haveria uma reação?”. Greenslade diz que a Sony pode até argumentar que tudo não passa de liberdade artística, mas alega que descrever a morte de um líder político na ativa vai muito além do bom senso, da boa educação e do bom gosto. “Imagine a indignação, por exemplo, se um estúdio de cinema russo ou chinês fizesse um filme em que Barack Obama fosse objeto de um plano de assassinato”, provocou.

Ele reitera, no entanto, que o ataque dos crackers não é justificável. E criticou a postura dos estúdios Sony, taxando-a de ingênua, depois que a empresa solicitou à imprensa que não publicasse as informações reveladas pelos crackers.

Outros líderes políticos já foram satirizados em filmes de ficção, inclusive Kim Jong-il; não houve maiores consequências. Saddam Hussein foi “morto” em várias películas quando ainda estava na ativa – como em Corra que a polícia vem aí, com Leslie Nielsen, ou Top Gang, com Charlie Sheen. Diz-se que Hitler assistiu a O Grande Ditador; embora tenha banido cópias do filme nos países que estavam sob seu controle, pediu que uma cópia viesse de Portugal para si. Sua reação é desconhecida, mas sabemos que Charlie Chaplin não foi alvejado por nenhum membro do Exército alemão.

De acordo com a coluna Media Monkey, também do Guardian, toda a atividade ligada aos interesses comerciais da Sony foi afetada pelos ataques e os executivos redirecionaram a comunicação interna para celulares e e-mails pessoais.