Friday, 19 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Canal de TV descobre que crime compensa

Em setembro, Seth Techel foi condenado à prisão perpétua em Iowa por assassinar sua mulher, que estava grávida, a fim de manter um romance com um colega de trabalho.

Em outubro, uma equipe de produção apareceu numa casa suburbana de Jericho com a tarefa de recriar o drama para a popular série Scorned: Love Kills, do canal Investigation Discovery, especializado na elucidação de crimes reais.

As câmeras acompanharam um jovem casal que se beijava numa esquina do quintal, um vizinho carrancudo portando uma arma na outra esquina e agentes da polícia vasculhando o quintal em busca da arma do crime. Os produtores embalaram os tiros num programa de uma hora, que será transmitido neste semestre para mais de 100 milhões de lares em 157 países e territórios.

Programas como Scorned e Deadly Affairs, apresentado por Susan Lucci, são dominados por uma combinação sensacionalista de misteriosos crimes passionais. O canal atrai uma audiência global de fãs, tão fervorosa que chega a se queixar da presença constante do logotipo da rede nas suas telas de televisão.

O Investigation Discovery, que estreou nos Estados Unidos em 2008, tornou-se um dos canais pagos de maior crescimento. É especialmente popular entre as mulheres e, nos Estados Unidos, é considerado um dos cinco canais mais nobres para o público feminino de 24 a 54 anos.

Quando iniciou sua expansão, em 2009, o Discovery rapidamente descobriu que havia um apetite global por dramas criminais. O canal – que apresenta no resto do mundo praticamente os mesmos casos baseados em crimes dos EUA – planeja chegar a um total de 200 mercados neste ano.

“O crime é universal”, disse David Zaslav, presidente-executivo da Discovery Communications, proprietária da rede.

Programação indecorosa

A decisão de lançar o Investigation Discovery, há quase sete anos, foi uma aposta bastante discutível. Rebatizada após uma encarnação anterior como Discovery Times, parceria com a The New York Times Company para abordar a cultura americana, a rede se viu concorrendo com centenas de canais já estabelecidos.

Foi aí que Henry Schleiff chegou, em 2009, como presidente da Investigation Discovery.

Em sua primeira reunião com Zaslav, Schleiff apoiou a ideia de exibir apenas histórias reais sobre crimes e mistérios. Os executivos fizeram essa aposta com base na popularidade dos romances e séries policiais. Ele disse que o grupo considerava que poderia construir uma marca de sucesso “se pudermos ser um lugar onde os espectadores, a qualquer hora, a qualquer dia, podem zapear e encontrar uma história de mistério, crime ou suspense”.

O canal decolou rapidamente. Legiões de fãs debatem na internet programas com nomes como Wives With Knives [esposas com facas] e Momsters: When Moms Go Bad [mãestras: quando as mães se tornam más].

“Apreciamos a importância de sermos ligeiramente exagerados”, disse Schleiff.

Postos avançados do Discovery no exterior quiseram testar o formato em seus mercados. Alguns ajustes foram necessários, como o uso de celebridades locais na função de apresentadores, a dublagem e até mesmo mais cenas de sexo. O Investigation Discovery atualmente é líder de audiência entre mulheres na Polônia, no Reino Unido, no México e em outros países.

Lisa Kort-Butler, professora de sociologia da Universidade de Nebraska, em Lincoln, que estuda a abordagem de crimes e da Justiça na mídia, disse que os espectadores são atraídos para esses dramas por causa da clássica luta entre o bem e o mal. “Vale ressaltar que os tipos de crimes apresentados nesses programas são sensacionais e extraordinários no contexto americano, e mais ainda em países como Canadá, Reino Unido, Austrália e Japão, que têm taxas de criminalidade menores”, disse.

Lucci observou que, mesmo depois de passar anos no mundo das novelas, ficou surpresa com o apetite voraz dos fãs pela programação indecorosa do Investigation Discovery. “A realidade é realmente mais estranha que a ficção.”

Veja também

APELO UNIVERSAL – Vídeo sobre a expansão global do Investigation Discovery: www.nytimes.com, busque “Schleiff”

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Emily Steel, doNew York Times