Thursday, 28 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

A insana e religiosa liberdade de expressão

Liberdade. É uma palavra muito ampla. Logicamente não é tanto, a ponto de que não possa ser contestada. A liberdade vai até onde não cause danos à imagem de outrem, ou que lhe venha trazer indignação.

De expressão, tem que se analisar o que vai transmitir, com respaldo dessa lei universal, bem defendida pela grande mídia. Algo que se fala ou publica, deve haver avaliação prévia dos possíveis desdobramentos. Terá que ser avaliado se causará constrangimento, ou se virá disso feedbacks aterrorizantes. Na semana passada, foi a leva do disse e desdisse do papa Francisco na imprensa. Uma delas foi encarada de forma apocalíptica: “Católicos não devem procriar como coelhos.”Mas, pera lá! Onde está a liberdade de expressão? Um papa não pode pedir para os fieis pararem de se comportar como animais irracionais? Chamá-los como tais, seria um pouco demais – mas pedir para não sê-los – nem tanto.

Porém, apesar de não ser nada demais, o santo anjo de deus na terra insana de filhos ingratos, teve que engolir todas as letras goela a baixo e desfazer o seu discurso aterrorizante aos ouvidos puros. Se não aceitamos bem uma coisa – mesmo enraizada em nossa cultura há séculos – ir com luxúrias para o oriente é falta de discernimento, e não liberdade de expressão. O jornalismo também aprende com os erros, como em trocar muitas vezes o certo pelo mau gosto. Mas sempre queremos mais, ultrapassar os nossos limites…

Estamos bem evoluídos para prever as possíveis reações daqueles que ainda não estão em repúdio a nossa insanidade. Em uma ação, existe correspondente reação, em maior ou menor crueldade. Entendamos que loucos somos nós em ofender uma crença, um Deus, uma religião. Ela sempre, ou quase, será maior que o próprio fanático, mais que uma vida, maior que o jornalismo em sua vã liberdade de expressão. O nosso Deus é do tamanho da nossa loucura, o nosso Maligno também. Viver está abaixo do senso lógico de quem encara a vida como uma passagem para ser feliz no pós. Se quem vê a cor é daltônico, por ilusão, confundirá a cor marrom com a vermelha. Quem olha para a esquerda, fatalmente não verá a direita. São meramente limitações de alcance.

A religiosidade insana

Vivemos em uma sociedade envolta em uma chamada “liberdade de expressão”, mas existem as ponderações, as limitações e, definitivamente, a troca do termo por falta de bom senso. Jornalistas que não nos representam também incitaram a população a ir a desencontro da ética, e enforcam em suas falas os direitos humanos. Uma discriminação pode ser facilmente encarada como livre expressão e vice-versa.

Paremos para analisar. O Natal chega, sorrimos e nos alegramos em um nome ou basicamente na troca de presentes. É estranho pensar que em outra parte do mundo, ou até mesmo entre nós, não se tenha essa cultura ou não se dê o crédito a imagem do cristo supremo.

Caso de vida ou morte é a religião em mentes febris. A vida como humanos aqui na terra? Não há a menor importância se a minha idealização de vida vai muito além desta bacia cheia de água salgada. Se mil virgens virão ao meu encontro após meu desencarne – será minha recompensa em um paraíso – eu não sou louco de não defendê-lo agora em minha lucidez desnorteada, mas lucidez – isto é fato.

Não existe aqui apologia ao crime de ceifar vidas laboriosas em informar os transeuntes nas calçadas de bancas. Já falava o Cristo, “quem tem ouvidos, ouça”.

As primeiras notícias que se vincularam em jornais nacionais foi que a mídia estaria sendo ferida no direito à liberdade de expressão. Quem fere quem? Um lado foi morto, outro ferido em sua vida, a saber, a religiosidade insana. Contabilizem aí os seus feridos e seus mortos, e a outros, suas reflexões dolorosas.

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Francisco Júlio Xavier é jornalista e poeta