Wednesday, 24 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Correspondente da al Jazeera é libertado no Egito

O jornalista australiano Peter Greste, da al Jazeera English, foi libertado no domingo [1/2] após 400 dias preso no Egito sob acusação de disseminar notícias falsas e ajudar um grupo terrorista. Greste e outros dois companheiros de equipe – Mohamed Fahmy, de nacionalidades egípcia e canadense, e o egípcio Baher Mohamed – foram detidos em dezembro de 2013 e condenadosem junho de 2014 a penas que variam de sete a 10 anos de prisão.

Greste foi deportado após a assinatura de um decreto presidencial que permite que detentos estrangeiros continuem sua pena em seus países de origem. Acredita-se que o decreto tenha sido baseado no caso do correspondente australiano, já que o presidente egípcio, Abdel-Fattah El-Sisi, havia, em diferentes ocasiões, sinalizado sua vontade de encerrar o caso – que teve grande repercussão internacional e gerou muitas críticas ao governo e judiciário do Egito.

Os outros dois funcionários da al Jazeera continuam presos. Espera-se que Mohamed Fahmy, por ter cidadania canadense, seja deportado em breve. Mais grave é o caso de Baher Mohamed, que, por ter apenas passaporte egípcio, não se adequa às regras estipuladas no decreto. Desta forma, a esperança é que ele – e cinco estudantes presos sob as mesmas acusações – seja absolvido em um novo julgamentoou receba o perdão presidencial. O irmão de Baher mostrou-se pouco otimista. “Ele não será libertado”, afirmou Assem Mohamed. “Como sempre, os egípcios pagam pelo que acontece no Egito”.

Ataque à liberdade de expressão

O caso da prisão dos jornalistas da al Jazeera English causou comoção por sua conotação política. Eles foram acusados de usar o jornalismo com o objetivo de ajudar a Irmandade Muçulmana, facção político religiosa a que pertence o ex-presidente Mohamed Morsi, deposto em julho de 2013. Após a queda do governo, a Irmandade foi classificada de organização terrorista no país, e os três funcionários da rede de TV do Catar foram acusados, desta forma, de apoiar terroristas.

Para observadores de organizações internacionais de direitos humanos, os profissionais de imprensa tornaram-se alvos deliberados do governo egípcio por conta da al Jazeera em árabe, que, de fato, fazia uma cobertura parcial em prol dos pontos de vista da Irmandade. O Estado do Catar, dono do canal, também já forneceu apoio financeiro e logístico ao grupo.

Mas, com a repercussão internacional que o caso recebeu, a condenação de Greste, Fahmy e Mohamed passou a ser vista como um exemplo claro de ataque à liberdade de expressão com motivação política. Hoje, ainda há 11 jornalistas presos do Egito, de acordo com o Comitê para a Proteção dos Jornalistas. Segundo a própria polícia egípcia, há pelo menos 16 mil presos políticos no país atualmente – estimativas independentes aumentam o número para 40 mil.