Friday, 15 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1314

A necessidade de uma mídia de esquerda

Começo este artigo a partir de duas constatações. A primeira: desde a reeleição de Dilma Rousseff, observo o seguinte: ao abrir meus e-mails, verifico que 92% deles são contrários ao governo Dilma. O restante, 8%, faz alguma crítica aos tucanos. A segunda: os seis jornais de maior circulação no Brasil – Folha de S.Paulo (SP), Super Notícia (MG), O Globo (RJ), O Estado de S.Paulo (SP), Extra (RJ) e Zero Hora (RS) – são de direita, de acordo com a Associação Nacional de Jornais (2012). De esquerda, temos o Brasil de Fato, CartaCapital e Caros Amigos. Tem mais: isso, sem mencionar a mídia eletrônica, que é ideologicamente comprometida com a grande burguesia.

Na verdade, de esquerda temos pouquíssimas mídias de alcance nacional, isto é, se comparadas às mídias tradicionais à direita. O jornalista Rui Martins foi cirúrgico ao dizer que não temos grandes jornais de esquerda no país.

No artigo “Dois perfis, duas crises”, Luciano Martins Costa faz a seguinte reflexão: “O governo de Geraldo Alckmin venceu a crise de abastecimento de água no campo da comunicação. O governo de Dilma Rousseff perdeu em todas as crises que encara (…) e corre o risco de enfrentar um processo de impeachment alimentado pela imprensa. Geraldo Alckmin fala bastante, mas nada diz. Dilma Rousseff não fala, e quando fala não diz.”

Um desequilíbrio em termos de informação

Uma constatação. Ultimamente, tento compreender o motivo que leva o eleitor e a mídia de São Paulo a fechar os olhos para a falta d’água no estado e o propinoduto do metrô paulista. No entanto, esse mesmo eleitorado e a mesma imprensa adotam uma postura de bombardeio pesado e constante em relação à corrupção na Petrobras.

Um dado significativo que poucos sabem. Segundo Martins, em relação à Petrobras apenas 33% do capital pertencem ao Estado e 67% estão em mãos privadas. É claro que existe corrupção na empresa. Essa dura realidade vem desde o tempo da ditadura militar (1964-85). E tem muito mais: a cobertura da crise hídrica e da Petrobras é absurdamente desigual. Enfim, temos dois pesos e duas medidas com Alckmin e Dilma. Em bom português: com Alckmin a mídia é servil; com Dilma, a artilharia é pesada. Trocando em miúdos: falta uma mídia de esquerda, de forte penetração nacional. Na mesma medida da imprensa de direita. Melhor dizendo: há desequilíbrio abissal no consumo de informação. Aliás, não resta dúvida por que há um predomínio do pensamento à direita, neste país, em nossa opinião.

Para finalizar este artigo, a verdade é uma só: uma boa parte dos brasileiros leem Folha de S.Paulo, O Globo e O Estado de S.Paulo. Uma minoria lê CartaCapital e Brasil de Fato. Essa desigualdade, no tocante à informação, ocorre porque faltam, no país, grandes veículos midiáticos de esquerda. Resultado: isso gera exponencialmente um desequilíbrio em termos de informação e tem como consequência a complacência, da população e mesmo da imprensa, em relação ao pensamento majoritário da direita. Quem perde com isso é o país.

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Ricardo Santos é professor de História e jornalista