Tuesday, 23 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Jornalista preso no Egito critica atuação da Al-Jazeera

O jornalista Mohamed Fahmy, que aguarda em liberdade condicional um novo julgamento após ficar mais de um ano preso no Egito, acusou a rede de TV Al-Jazeera de “negligência épica” e afirmou que canal pode ser parcialmente culpado por sua condenação. Fahmy disse ainda que a rede de TV do Catar usou seu caso numa “guerra midiática contra o governo egípcio”.

Fahmy foi preso em dezembro de 2013 junto com outros dois colegas – Baher Mohammed e Peter Greste – sob acusação de disseminar notícias falsas e de conspirar com a facção político religiosa Irmandade Muçulmana, a que pertencia o presidente deposto Mohamed Morsi.

O caso dos jornalistas chamou atenção internacional e atraiu críticas de ONGs e governos, que acusavam as autoridades egípcias de usá-lo com motivação política. O australiano Peter Greste foi deportado para a Austrália em 1/2, e seus dois colegas – Baher Mohammed, de nacionalidade egípcia, e Mohamed Fahmy, de dupla nacionalidade egípcia e canadense – enfrentaram nova audiência em 13/2, quando receberam liberdade condicional.

Os comentários de Fahmy sobre a Al-Jazeera parece seguir uma linha de defesa adotada nos últimos meses para tentar apresentar seu caso de uma maneira mais favorável ao governo local. Recentemente, Fahmy escreveu um artigo de opinião em que expressava seu apoio à queda do ex-presidente Mohamed Morsi. O jornalista renunciou, em dezembro, a sua nacionalidade egípcia numa tentativa de agilizar o processo de deportação para o Canadá.

Rede falhou

“Eu não estou perdendo de vista aqueles responsáveis por terem me colocado na prisão. Porém, a negligência épica da Al-Jazeera fez a nossa situação ser muito mais complicada. É uma violação da liberdade de expressão silenciar três pessoas inocentes, jornalistas reconhecidos. Mas um aspecto muito importante nesse caso é o abuso do Catar sobre a plataforma árabe da Al-Jazeera numa guerra midiática contra o Egito”, declarou Fahmy.

De acordo com o jornal britânico The Guardian, as críticas de Fahmy são repetidas por outros funcionários e ex-funcionários da rede de TV, que acreditam que, apesar das ações do canal não justificarem o encarceramento de seus jornalistas, a empresa falhou em protegê-los da ameaça de prisão.

Funcionários declararam ao jornal que a Al-Jazeera ignorou os diversos sinais de que sua equipe no Egito corria mais risco do que outros jornalistas internacionais; falhou em esclarecer a posição legal dos jornalistas perante o governo egípcio enquanto eles ainda estavam livres; e contratou advogados incapazes de prover uma defesa qualificada num caso que claramente tinha motivações políticas.

Segundo um funcionário da rede, os sinais de que algo aconteceria eram cada vez mais claros, mas a única ação que a empresa tomava era substituir aqueles que expunham suas preocupações por novos repórteres sem experiência na cobertura egípcia. “Isso foi pura negligência. Tudo que importava para eles naquele momento era garantir que as histórias seriam reportadas, a qualquer custo”, afirmou o funcionário, que diz ter alertado seus chefes sobre uma crescente pressão das autoridades poucos meses antes da prisão dos jornalistas.