Saturday, 20 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Peter Greste defende cartilha com direitos dos jornalistas

O jornalista australiano Peter Greste, correspondente da Al Jazeera que passou mais de um ano preso no Egito sob acusação de compactuar com o terrorismo, decidiu lutar pelo respeito à liberdade de imprensa e para ajudar jornalistas presos por questões políticas. Enquanto estava na prisão, Greste juntou-se ao produtor egípcio Baher Mohamed, seu colega de emissora, e formulou um plano para proteger profissionais da imprensa que enfrentam acusações com motivação política.

A ideia é fazer uma espécie de cartilha universal dos direitos dos jornalistas com uma regulamentação para definir os limites do relacionamento entre governo e imprensa. Greste diz que gostaria que o projeto funcionasse tal qual a declaração da ONU sobre os Direitos Humanos.

Durante um evento do National Press Club, em Washington, Greste discursou sobre seu período na prisão e sobre os abusos que muitos jornalistas vêm sofrendo devido a interesses políticos. Disse que, em função disso, a liberdade de expressão está seriamente ameaçada e os jornalistas devem ser protegidos. “No mundo atual, simplesmente questionar um conflito ou investigar seriamente o extremismo e a manipulação do governo significa apresentar-se como um alvo”, disse. “O problema para nós, jornalistas, é que neste conflito não há território neutro nem um terreno seguro para fazermos nossos relatos”.

Estudos mostram que apenas 14% da população mundial possui uma imprensa livre e que o período entre 2011 e 2014 foi um dos mais perigosos para os jornalistas, de acordo com dados do Comitê para a Proteção dos Jornalistas, que desde 1991 mantém registros sobre as regiões mais perigosas e insalubres para o trabalho jornalístico.

Críticas ao governo australiano

Greste também expressou preocupação em relação à proposta do governo australiano para fazer com que empresas de telecomunicações coletem dados de seus usuários, alegando que isto enfraqueceria o papel dos meios de comunicação e comprometeria o funcionamento da democracia. Ele conta que, ao longo de sua carreira, observou que na relação entre governo e organizações jornalísticas existe uma escala que define a forma como o poder é distribuído. “Se você tirar o poder de um, então por definição você o entrega a outro”, analisou. Ele teme que esse tipo de controle iniba o espaço para denúncias e reitera que é fundamental que a imprensa possa trabalhar com denunciantes sem temer represálias.

Greste ressaltou, ainda, que a imprensa existe principalmente para fazer com que os políticos prestem contas sobre seus atos e que nenhum jornalista deve pedir desculpas por estar fazendo seu trabalho.

O australiano foi preso no Cairo em dezembro de 2013 junto com outros dois colegas da Al Jazeera. Em junho de 2014, os três foram condenados sob acusação de conspirar com a Irmandade Muçulmana, facção político-religiosa a que pertencia o presidente deposto Mohamed Morsi, disseminando notícias falsas e pondo em risco a segurança nacional. O julgamento foi amplamente visto como uma ferramenta política e criticado por organizações internacionais.