Saturday, 16 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1314

Paulo Rogério

“‘Para um jornalista, abandonar o compromisso com a verdade não é um deslize, é uma falha ética e grave…’ Rogério Christofoletti, professor e jornalista

O jornal abriu a cobertura das denúncias de irregularidades no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) envolvendo o Colégio Christus apelando para o bom senso. Em Editorial no dia 27 de outubro, O POVO defendeu a apuração dos fatos e punição dos responsáveis. Ressaltou a necessidade da cautela e o cuidado em não ‘atirar na lama a história de uma instituição’. Uma referência aos 60 anos da escola. Em um longo e-mail leitor Pedro Albuquerque viu no texto a defesa antecipada da escola. ‘O jornal já isenta o Colégio Christus sem que tenha havido qualquer investigação’. Ele critica ainda a omissão do nome do colégio em matéria do O POVO Online do dia 26. Cerca de 80 comentários foram postados no Portal, no espaço reservado ao Editorial. Alguns com acusação semelhante, outros parabenizando serenidade. A maioria, no entanto, esqueceu o bom senso e tomou partido.

Antes de tudo é preciso separar a cobertura do jornal impresso com a do jornalismo digital, infinitamente mais ágil, com atualizações constantes. No impresso, o que você lê hoje são notícias apuradas até o fim da noite anterior. Não há como comparar uma linguagem com a outra. Pois bem. Na quarta-feira as irregularidades não passavam de um boato em uma rede social. O jornal agiu correto ao omitir o nome do colégio e explicar o procedimento ao leitor. Na edição seguinte, dia 27, com a confirmação das denúncias todos os envolvidos foram revelados. A chefia de Redação descarta parcialidade. ‘O editorial defendeu que é preciso evitar o pré-julgamento’. Também não vi tal postura. O que se prega é o equilíbrio.

DNA O Povo

Se foi bem no início da cobertura, o mesmo não aconteceu no dia seguinte. Com a concretização das irregularidades, o tema ganhou a manchete – ‘MEC anula provas de 639 alunos em Fortaleza’. As páginas internas fizeram o básico. A cidade fervilhou em torno do assunto. O jornal, no entanto, virou uma ilha. Faltou interagir com os leitores que postaram dezenas de comentários. Nem mesmo a repercussão do fato nas redes sociais – onde surgiu denúncia – sensibilizou editores. Acabou sem reproduzir os casos de xenofobia contra nordestinos que invadiram a rede.

As matérias não mostraram a indignação – marca do O POVO – diante de tantas perguntas sem respostas. Ora, quem copiou as questões? Onde mais houve pré-testes? Quem fiscalizou provas? Quais as penalidades previstas? Ambos os casos bem explorados pela concorrência.

Manchete questionada

Na sexta-feira o jornal estampou a manchete ‘Enem em xeque – MEC admite falha no pré-teste’. O leitor João Carlos Cardoso apontou erro no enfoque. ‘A manchete induz o leitor a acreditar que o MEC admite ser seu o erro. O próprio ministro declarou que se trata de cópia feita por professores’. A matéria relata que o MEC admite inclusão das questões no pré-teste realizado em outubro no Christus. As acusações do ministro até constavam na edição e mereciam maior visibilidade que a secundária publicada em Radar.

A chefia de Redação concorda, mas diz que a informação chegou tarde. ‘Não fosse isso, receberia mais destaque e também alguns questionamentos’. Mas não vê equívoco. ‘A manchete não diz que o MEC admite culpa. Diz que admite falha – são coisas bem diferentes’. A falha seria exatamente a cópia feita por alguém, sujeito ainda indefinido.

Há de se considerar opiniões divergentes com relação ao Enem e a imprensa precisa mostrar essa pluralidade. O jornal está certo em colocar em xeque a questão e incentivar o debate. E isso requer o maior número de detalhes possíveis. Detalhes que o mesmo comunicado do MEC utilizado como fonte da matéria – http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_content&view=article&id=17187 – denunciou que funcionários da escola envolvida, ao distribuírem apostilas, pediram para não compartilhar a mesma com candidatos de outras escolas. Nada foi dado pelo jornal. Realmente é preciso bom senso.

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FOMOS BEM

MOBILIDADE

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FOMOS MAL

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