A revista de domingo do New York Times trouxe, na edição do dia 5/9, uma matéria sobre o escândalo de grampos ilegais do tabloide britânico News of the World, do magnata Rupert Murdoch, e como a polícia falhou em punir os envolvidos. Bill Akass, chefe de redação do jornal britânico, criticou a matéria, alegando que se tratava de um ataque velado a Murdoch, cujo império de mídia inclui o maior rival do NYTimes, o The Wall Street Journal, comenta o ombudsman Arthur S. Brisbane, em sua coluna de domingo [19/9/10]. ‘Difícil de acreditar que a decisão de investir tantos recursos para investigar uma matéria antiga seja um ato imparcial, não influenciado pela rivalidade’, disparou Akass.
Desde a publicação do artigo, há duas semanas, a controvérsia voltou à tona, resultando em duas novas investigações parlamentares e uma intensa briga política que ameaça tirar do cargo Andy Coulson, chefe de comunição do primeiro-ministro David Cameron. Coulson era editor do News of the World quando o caso dos grampos ilegais foi descoberto, há mais de quatro anos. Depois do escândalo inicial, ele renunciou e assumiu diversos cargos no governo de Cameron, que conta com o apoio de Murdoch.
O debate político ameaça dois importantes objetivos de Murdoch. O magnata está tentado adquirir as ações restantes da empresa de TV por satélite BSkyB (atualmente, ele é proprietário de 40%), uma transação que seus adversários querem que o governo impeça. Além disso, ele está há muito tempo fazendo lobby para cortar o orçamento da BBC. Alguns analistas de mídia no Reino Unido acreditam que se Murdoch ganhar o total controle da BSkyB, ele será capaz de juntar as assinaturas de TV e jornais e, futuramente, consolidar sua dominância na mídia britânica. Então, ele teria em suas mãos um novo modelo de negócio de mídia.
Uso de fontes anônimas
Na opinião de Akass, a matéria falhou em se basear quase que inteiramente em fontes anônimas. ‘Apenas uma fonte identificada alegou conhecimento direto dos grampos. Esta evidência é fraca para uma investigação de seis mil palavras’, acusou o chefe de redação.
O NYTimes defende-se. Matt Purdy, editor investigativo, disse que a matéria foi produzida com base em entrevistas longas com fontes anônimas e identificadas, além de documentos. ‘Como sempre fazemos, tentamos o máximo obter a identificação das fontes e conseguimos, muitas vezes. Mas, neste caso, foi particularmente difícil, pois envolvia jornalistas falando de atos potencialmente criminosos e de policiais opinando sobre a própria investigação da agência’, contou.
Para o ombudsman, a reportagem baseou-se muito em fontes anônimas – quase 2/3 das que se referiam ao News of the World e 80% das que tratavam da investigação policial. Ainda assim, houve muitas evidências fortes. Um ex-repórter do diário, Sean Hoare, foi uma testemunha direta e identificada. Outro ex-repórter, Matt Driscoll, disse que testemunhou um editor com registros telefônicos de um jogador de futebol, embora não tenham sido obtidos por meio de grampos.
O NYTimes reportou que as duas fontes haviam sido demitidas – informações que ajudaram os leitores a ter o próprio julgamento sobre credibilidade. Além disso, Sharon Marshall foi outra fonte identificada que disse ter testemunhado escuta ilegal, enquanto era repórter no News of the World. Estes depoimentos, junto com documentos e conclusões de um comitê parlamentar no começo do ano, contribuíram para tornar a matéria convincente.