Friday, 15 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1314

A mídia como freio social

Na semana passada, durante debate na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, estudantes questionavam por que razão a imprensa tradicional funciona como um freio na sociedade, embora se esforce por parecer moderna e vanguardista.

Os participantes do evento não avançaram na discussão, mas o tema merece alguma reflexão.

De fato, se observarmos os movimentos sociais, iremos constatar que, de modo geral, a imprensa, como instituição, não atua de modo constante como força mobilizadora de mudanças. Quase sempre faz conjunto com as forças mais conservadoras da sociedade.

Há exceções, condizentes com os papéis que assume este ou aquele veículo de comunicação, principalmente no temas comportamentais ou mundanos.

Mas, no que se refere aos assuntos centrais do noticiário, como a política e a economia, pode-se perceber que a primeira resposta de jornais, revistas e meios eletrônicos associados às empresas dominantes de comunicação é sempre a mais conservadora.

Continuidade

Mesmo quando algum evento extremo ou escandaloso evidencia a necessidade de reformas, por exemplo, a imprensa se omite no aprofundamento dos debates e deixa esfriar o ânimo da mudança. Nesse sentido, pode-se alinhar uma série de acontecimentos que nunca merecem continuidade ou destaque no noticiário.

Por exemplo, as propostas legislativas de iniciativa popular, as consultas públicas e outras formas de suprir deficiências do sistema representativo são apenas pontualmente noticiadas mas nunca merecem o tratamento de alternativas válidas para as omissões do Parlamento.

Da mesma forma, os crimes na fronteira agrícola da Amazônia saem nos jornais mas logo desaparecem e nunca se discute o conflito agrário e as possíveis relações entre mandantes de assassinatos.

Instituição a serviço da imobilidade

Mesmo que rotineiramente se dedique a expor as mazelas do sistema, a imprensa se nega a colocar em debate público a possibilidade de mudanças estruturais, ainda que cabíveis no regime democrático e republicano.

Uma das causas pode ser o fato de que a mídia, em sua natureza, seleciona e oferece padrões, dita modas e modos, incorporando novos comportamentos às estruturas sociais e culturais já consolidadas, domesticando a novidade para que caiba nos padrões convencionais. Trata-se de uma instituição a serviço da imobilidade, ou de uma mobilidade relativa e sempre sob controle.

Como todas as instituições que fiscaliza e critica, a mídia tem ojeriza a rupturas. Por essa razão, é vista mais como freio do que como acelerador de mudanças na sociedade.

 

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Amazônia, assunto estranho*

É triste a constatação, mas a imprensa brasileira ainda olha a região Amazônica com distância e pouco interesse.

O assassinato dos castanheiros José Cláudio Ribeiro e Maria do Espírito Santo, por exemplo, foi noticiado pela maior parte dos grandes jornais, mas uma reportagem mais profunda, explorando detalhes desse crime político, foi publicada apenas pela revista Carta Capital, assinada por Felipe Milanez.

A revolta trabalhista no canteiro de obras da usina hidrelétrica de Jirau, em Rondônia, só foi aprofundada pela revista Piauí, nas mãos do repórter Fábio Fujita.

No mais, apenas a produção jornalística regional – como os trabalhos de Lúcio Flávio Pinto, no Pará, e de Altino Machado, no Acre – se preocupa em dar conta de narrar os fatos encobertos pela distância dos grandes centros econômicos do país.

O Observatório da Imprensa desta terça-feira, 14 de junho, vai mostrar a limitação dos grandes jornais e redes de TV – localizados na região sudeste do Brasil – em mostrar o país em sua totalidade.

As mortes por conflito fundiário que aconteceram no Pará e em Rondônia; a revolta dos peões de Jirau e as polêmicas sobre a construção da usina Belo Monte e sobre as mudanças no Código Florestal nortearão as discussões.

Será que, se a grande mídia se mostrasse mais presente fora dos grandes centros, com uma cobertura mais efetiva, as autoridades não se sentiriam mais pressionadas e teriam que sair em busca de soluções para os conflitos amazônicos?

Quem nos ajuda a responder essa questão participando do programa são: o cientista político Sérgio Abranches, o antropólogo Alfredo Wagner Almeida e a repórter de meio ambiente Afra Balazina, do Estado de S.Paulo. O jornalista Washington Novaes e o Padre Dirceu Fumagalli, coordenador da Comissão Nacional da Terra, participam por meio de entrevistas.

O Observatório da Imprensa vai ao ar nesta terça-feira às 22 horas, pela TV-Brasil, ao vivo em rede nacional. Em São Paulo pelo canal 4 da NET e 116 da Sky.

* Com Tatiane Klein