Tina Brown, editora-chefe do The Daily Beast e da Newsweek, e Baba Shetty, CEO do grupo The Newsweek Daily Beast Co., anunciaram o fim da edição impressa da Newsweek, após 80 anos nesse formato. “A transição da Newsweek para o digital será realizada no começo de 2013. Como parte dessa transição, a última edição impressa nos EUA será a de 31 de dezembro”, escreveram no The Daily Beast [18/10/12].
A revista irá expandir sua presença online e para aplicativos tablets, assim como suas parcerias globais. A Newsweek Global, como será chamada a publicação digital, será uma edição destinado a uma audiência móvel e líder em opiniões que quer ficar por dentro de eventos mundiais em um contexto sofisticado. A Newsweek Global será financiada por assinaturas pagas e estará disponível por meio de leitores eletrônicos tanto para web quanto para tablets, com conteúdo selecionado do The Daily Beast.
Fundada em 1993, a revista conquistou um lugar respeitável na mídia americana, competindo com o semanário Time. Na era pré-internet, as duas revistas eram vistas como as melhores fontes de notícias e análises – um produto atraente nas bancas e esperado ansiosamente por assinantes. Mas, com o ciclo semanal ficando ultrapassado, as publicações tiveram que se adaptar à era da internet e estabelecer uma presença digital, enquanto enfrentavam queda em circulação e anunciantes.
Tina e Baba lembram que há quatro anos lançaram o The Daily Beast. Há dois anos, uniram os negócios com Newsweek – vendida pelo grupo The Washington Post Company para Sidney Harman, magnata do áudio, por US$ 1. Desde a fusão, o The Daily Beast e a Newsweek continuaram a postar e publicar conteúdo jornalístico distinto e experimentaram um crescimento online explosivo.
Harman morreu em 2011 e seus herdeiros disseram logo depois que continuariam a apoiar a revista, mas em seguida decidiram que não investiriam mais na publicação. Em 2001, a Newsweek tinha uma circulação paga de 3.158.480 exemplares, segundo dados do Audit Bureau of Circulation. Mas, em junho último, a circulação caiu para 1.527.157. Prejuízos com a revista são estimados em US$ 40 milhões ao ano. Barry Diller, presidente do IAC, que é proprietário do The Daily Beast e Newsweek, deixou claro que não seguraria os prejuízos para sempre.
Investimento no online
O conteúdo online da Newsweek para e-reader ganhou público por meio das lojas Apple, Kindle, Zinio e Nook, assim como no The Daily Beast. Atualmente, o The Daily Beast atrai mais de 15 milhões de visitantes únicos por mês, um aumento de 70% no último ano – uma grande parte desse tráfego foi gerada semanalmente pelo jornalismo original da Newsweek. O uso de tablets cresceu rapidamente entre os leitores; até o final do ano, espera-se que o número de usuários desses equipamentos nos EUA ultrapasse a 70 milhões, um crescimento de 13 milhões em comparação com os números de dois anos atrás.
Além disso, 39% dos americanos dizem que acessam a notícias por uma fonte online, segundo um estudo do Pew Research Center divulgado no mês passado. Assim, o online mostra-se como uma oportunidade para financiar a excelência editorial da revista. “Julgamos ter atingido um ponto no qual podemos de maneira eficiente e efetiva alcançar nossos leitores em formato digital. Esse não era o caso há dois anos. E será cada vez mais o caso daqui para frente”, afirmaram.
Haverá redução da equipe nas operações editoriais e de negócios nos EUA e internacionalmente. “Deixar o impresso é um momento extremamente difícil para todos nós que amamos o clima romântico do papel e a camaradagem única uma vez por semana, nas horas antes do deadline, na sexta à noite. Mas, quando chegamos perto do 80º aniversário da Newsweek, no ano que vem, devemos manter o jornalismo que dá à revista o seu propósito – e adotar o futuro somente digital”, concluíram.
Fim da Newsweek?
Ambos reforçaram que estão fazendo uma transição – e não dando adeus à Newsweek. “Continuamos comprometidos com a Newsweek e com o jornalismo que ela representa. Esta decisão não é sobre a qualidade da marca ou do jornalismo – que estão tão poderosos como nunca. É sobre os desafios econômicos da publicação e distribuição impressas”, alegaram.
Mas há quem acredite que isso possa sinalizar o fim da Newsweek – em qualquer formato. "As chances de sucesso da Newsweek como revista digital mantida por assinaturas são nulas", disparou Felix Salmon, da Reuters. O NYTimes mencionou, entretanto, que a publicação tem outras formas de obter receita: "O nome Newsweek, embora tenha problemas no impresso, ainda tem valor em termos de licenciamento internacional, assim como as conferências que Tina criou".
A Newsweek Global não será a única empresa de mídia a realizar eventos temáticos – a Atlantic Media, por exemplo, promove diversas conferências, mantendo-se rentável por três anos seguidos. Seu novo site sobre negócios digitais, Quartz, foi financiado por quatro patrocinadores ao longo deste ano.
Confira o vídeo neste link com as declarações de Tina e Baba. Com informações de David Carr e Christine Haugney [The New York Times, 18/10/12] e de Sara Morrison [Columbia Journalism Review, 18/10/12].