Friday, 15 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1314

Audiência não pode reger tudo

No Observatório da Imprensa na TV de terça-feira (17/4), Alberto Dines conduziu com grande espírito esportivo e bom humor uma discussão sobre a invasão da mídia pelo MMA (Mixed Martial Arts). Os convidados foram José Trajano, que se orgulha de ter durante os 17 anos em que dirigiu o jornalismo dos canais ESPN evitado a transmissão de lutas, e considera o MMA um “esporte nojento”; Luciano Andrade, da SporTV, que considerou um erro de Trajano, como executivo, ter submetido a seu “gosto pessoal” a programação das emissoras sob sua direção, em detrimento da importância comercial da modalidade, que atrai audiência, e fez uma defesa enfática do MMA; e Roberto Assaf, do jornal Lance, que disse não tem qualquer simpatia pela modalidade e explicou como a TV Globo aderiu à moda para angariar audiência.

Todos, Dines à frente, consideraram inadmissível qualquer forma de censura ou proibição, mas necessária a regulamentação do inciso IV artigo 221 da Constituição de 1988: “A produção e a programação das emissoras de rádio e televisão atenderão aos seguintes princípios: (…) IV – respeito aos valores éticos e sociais da pessoa e da família”.

Sangue e jornalismo

O argumento comercial de Luciano Andrade não se sustenta. A lógica da busca de audiência acima de tudo destrói o jornalismo, atividade pública essencial à democracia. Levada às últimas consequências, todos os noticiários televisivos deveriam seguir os padrões de Wagner Montes, Gil Gomes, Datena et caterva. E todos os jornais deveriam copiar os finados Luta Democrática e Notícias Populares, que “pingavam sangue”.

A propósito, falou-se da violência contida em diferentes esportes, do futebol ao hóquei, mas não se fez referência à carga cada vez maior de violência nos noticiários televisivos, sobretudo quando há imagens dramáticas para exibir. E das novelas, filmes “tela quente”, desenhos animados, etc.

O bom executivo

A TV Globo, por exemplo, frequentemente baixa o nível do Jornal Nacional por conta da concorrência. O fenômeno começou na época do Aqui e Agora, da TV Tupi, em 1979, replicado em 1991 no programa O povo na TV, da TVS, antecessora do SBT, em 1982, com Wilton Franco, depois coadjuvado por Roberto Jefferson e outros. Em 1991, estreou o Aqui Agora do SBT, que provocou seguidos deslizamentos da Globo em direção ao sensacionalismo.

O profissionalismo de um executivo de jornalismo não se mede apenas pelo critério da audiência – evidentemente essencial para a existência de uma imprensa livre. Mede-se igualmente por sua responsabilidade social e política, por sua criatividade, por sua capacidade de detectar e traduzir, para público amplo, tendências da sociedade. Mede-se pelo exercício vibrante de uma consciência cívica.