Saturday, 20 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

China abre campanha contra imprensa ocidental

Leia abaixo a segunda parte da seleção de quarta-feira para a seção Entre Aspas.


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Folha de S. Paulo


Quarta-feira, 26 de março de 2008


TIBETE
Raul Juste Lores


China promove campanha contra imprensa ocidental


‘A China partiu para o contra-ataque com o que julga ‘preconceito da mídia ocidental’. Os principais jornais do país, assim como a TV estatal CCTV, atacam diariamente a cobertura ‘manipulada’ sobre a crise no Tibete após os protestos violentos de 14 de março.


A versão estatal é de que 22 civis foram mortos em distúrbios separatistas. Tibetanos no exílio dizem que houve cem mortos pela repressão.


A menos de cinco meses da Olimpíada de Pequim, a mídia estatal chinesa insinua um complô de potências ocidentais para estragar os Jogos. Na edição de ontem do ‘China Daily’, maior jornal do país em inglês, especialistas em comunicação do país insistiram na teoria conspiratória.


‘Parte da mídia ocidental não hesita em espalhar rumores para minar a Olimpíada e usa os protestos para manchar a imagem da China’, disse Guan Shijie, professor da Universidade de Pequim.


O Clube dos Correspondentes Estrangeiros da China enviou e-mail a seus associados, dizendo que um veículo de comunicação tinha recebido ameaças. A mensagem sugere precaução aos correspondentes no trabalho de rua.


‘Nos fóruns da internet, há dúzias de internautas dizendo que querem matar o correspondente da CNN. A ironia é que boa parte deles não têm CNN ou BBC em casa, então só sabem o que vêem na TV do governo’, disse à Folha o jornalista americano Paul Mooney.


O site www.anti-cnn.com chama a rede americana de ‘líder mundial em mentiras’. Também ataca a rede britânica BBC. Reportagem da CNN, em que a legenda falava de ‘jovens tibetanos atacando um chinês’ foi das mais criticadas. ‘Todos são chineses, esses editores deveriam estudar história’ diz comentário em fórum mantido na internet pelo governo.


Depois de o site ficar dez dias bloqueado pela censura chinesa, foram postados vários vídeos nacionalistas no YouTube, dizendo que o Tibete ‘foi, é e sempre será parte da China’. Os vídeos podem ser vistos em www.youtube.com/watch?v=x9QNKB34cJo e www.youtube.com/watch?v=uSQnK5FcKas.


Sinais de abertura


Apesar dos ataques à mídia, o governo chinês deu ontem sinais de abertura. A BBC anunciou que, pela primeira vez em anos, a versão em inglês de seu site podia ser acessada na íntegra no país -a versão em chinês seguia censurada.


O Ministério das Relações Exteriores anunciou que organizou pequeno grupo de jornalistas estrangeiros para ir ao Tibete ‘e falar com as vítimas dos distúrbios’. Será a primeira visita de correspondentes, 12 dias após os piores incidentes.


Quando estes ocorreram, só um jornalista ocidental, da revista britânica ‘The Economist’, estava em Lhasa. Em reportagem, ele diz que os protestos começaram com a depredação de estabelecimentos comerciais da etnia han -majoritária na China-, após rumores de que dois monges teriam sido agredidos. Conta que as forças de segurança pareceram estar desprevenidas e demoraram dois dias para controlar os manifestantes, num ambiente de ‘lei marcial não-declarada’.’


 


SÉRGIO DE SOUZA
Juca Kfouri


Jornalista, idealista da ‘Caros Amigos’


‘Quando Bertolt Brecht escreveu que havia homens imprescindíveis porque lutavam a vida inteira, certamente pensou em alguém como o jornalista Sérgio de Souza. Quando Miguel de Cervantes imaginou seu cavaleiro magro, alto e inconformado com as injustiças, talvez conhecesse alguém como Souza viria a ser numa carreira que fez do jornalismo, verdadeiramente, um sacerdócio.


O paulistano Serjão adentrou a profissão na Folha da Manhã, em 1958. Foi revisor, repórter e editor. Entre tantos trabalhos que desempenhou vida afora tinha orgulho de ter fundado e editado as revistas Realidade e Bondinho, que fizeram história no jornalismo brasileiro. Dirigiu ainda o jornalismo da Rede Tupi de Televisão, levou Osmar Santos para a rádio Globo e comandou a redação paulista do Fantástico.


São raros os textos assinados por ele, embora alguns dos melhores já publicados país afora tenham a marca de seu lápis cuidadoso e perfeccionista, sensível e voltado para um mundo melhor.


Há mais de uma década, Serjão dirigia seu último projeto, a revista ‘Caros Amigos’, que ele próprio fundou -razão pela qual morre pobre e sem nenhum bem, exceção feita à convicção do que fez ao Brasil.


Morreu ontem, aos 73, em São Paulo, de falência múltipla dos órgãos. Deixa sete filhos, dez netos e um a caminho, além da companheira Lana Novikow. Deixa, também, um lápis, preto, número 2.’


 


EPIDEMIAS
Clóvis Rossi


Memórias e vergonhas


‘SÃO PAULO – Quando a revista ‘Veja’ publicou a famosa entrevista com Pedro Collor de Mello, que acabaria por levar o irmão-presidente ao impeachment, eu era correspondente desta Folha em Madri. No domingo em que a revista começou a circular, Alon Feuerwerker, então no comando da Sucursal da Folha em Brasília, me ligou com uma ordem: ‘Quero você em Brasília amanhã de manhã’.


Peguei o primeiro vôo Madri/ Lisboa, para fazer em Portugal a conexão para o Rio. Mal me ajeitei no assento, notei os folhetos alertando os passageiros sobre os riscos da febre amarela, o surto da vez no Brasil. Pouco depois, o serviço de som reforçou o alerta.


Senti o que os espanhóis chamam de ‘vergüenza ajena’, vergonha pelos outros. No caso, na verdade, pelos meus patrícios, por em pleno final do século 20 ainda sermos vítimas de pragas com ecos medievais, na saúde, e da praga eterna da corrupção, na política.


Dezesseis anos, três presidentes e cinco mandatos depois, nem preciso entrar num avião para de novo sentir vergonha. Basta ver o ‘Jornal Nacional’, na segunda, com todas as cenas explícitas do primitivismo tropical que ele exibiu.


Ou ler o artigo de Cecilia Gianetti, nesta Folha, em que ela, com duas dengues no currículo, reclama: ‘Gostaria que estivéssemos num tempo em que alguém pudesse me acusar de alarmista. Antes fosse exagero meu, e não abandono. Abandono é novamente a palavra que define esta velha-nova estação (…e) a lentidão das autoridades a lidar com a epidemia que já fez neste ano mais de 23 mil doentes só na capital’.


Lembro que um dos textos meus que a censura cortou falava de um surto de meningite em São Paulo, há quase 40 anos. Não são, pois, 16 anos, 3 presidentes, 5 mandatos. É mais tempo, é ditadura, é democracia. É abandono, é lentidão.’


 


TOM E EDSON
Ruy Castro


Datas


‘RIO DE JANEIRO – No dia 28 de março de 1968, a PM invadiu um restaurante popular, de estudantes, na ponta do Calabouço, no Rio, para conter uma manifestação. Um tiro acertou o jovem Edson Luiz, recém-chegado do Pará e que morreu sem nada a ver com o peixe. Do episódio resultaram passeatas contra a ditadura e mais tiros, bombas e prisões, que, por sua vez, levaram à Passeata dos 100 Mil, e todo o imbróglio desaguou no AI-5.


No momento em que a bala atingia o garoto, eu entrevistava Tom Jobim num botequim em Ipanema, para a revista ‘Manchete’, onde trabalhava. O corpo de Edson seria levado nos ombros de seus colegas até a Assembléia Legislativa, na Cinelândia. Mas, ali, entre chopes, risos e bossas novas, não sabíamos de nada, nem podíamos saber.


Era a primeira vez que me sentava com Tom e, por isso, ficou fácil associar aquele dia ao assassinato de Edson. Mais tarde, à noite, eu próprio iria para a Cinelândia, onde Edson estava sendo velado, e seguiria seu enterro na noite seguinte, do Centro a Botafogo, a pé.


Calhou que, por muitos anos, eu não voltasse a ver ou a falar com Tom. Ele fora morar fora, eu também e, mesmo quando os dois estavam no Rio, as circunstâncias não favoreciam. Até que, um dia, em 1988, o destino (mais exatamente, a fome) me conduziu a uma churrascaria do Leblon. E lá estava Tom, numa mesa, com Ronaldo Bôscoli, meu ex-colega de TV Globo. Ronaldo me chamou a sentar com eles.


Para meu espanto, Tom me reconheceu. E, ao dar uma espiada de passagem no jornal que comprara na banca em frente, vi um título na primeira página: ‘Fazem hoje 20 anos da morte do estudante Edson Luiz’. Era uma incrível coincidência. Bem, pela intolerável urgência do tempo para passar, esta data, só importante para mim, também faz 20 anos nesta sexta-feira.’


 


IMPRENSA NA JUSTIÇA
Folha de S. Paulo


Caem mais três ações de fiéis da Universal


‘Mais três ações de indenização movidas por seguidores da Igreja Universal do Reino de Deus tiveram sentenças favoráveis à Folha e à repórter Elvira Lobato, autora da reportagem intitulada ‘Universal chega aos 30 anos com império empresarial’, publicada em dezembro. De 76 ações ajuizadas, já há 18 decisões nesse sentido.


O juiz Ricardo Arteche Hamilton, de Jaguarão, no Rio Grande do Sul, julgou improcedente o pedido do pastor Nalcimar Estevam Araújo, na primeira ação em que a jornalista foi ouvida em juízo.


Sobre esse depoimento, o juiz disse que ‘em nenhum momento deixou transparecer que a origem dos dízimos, quando repassados pelos fiéis, era ilícita, mas sim a utilização destes, não diretamente com a religião e com a construção de cultos ou coisas que o valha, fosse a utilização levada a efeito pelos dízimos, e sim, a aplicação em paraísos fiscais ou em empresas estranhas ao objeto principal da Igreja Universal, qual seja, o acolhimento e o respeito à crença de seus fiéis’.


O juiz entendeu que não ficou comprovado dano moral sofrido pelo autor e também levou em consideração que o jornal não circula na comarca.


Em Araguaína, no Estado de Tocantins, o juiz Deusamar Alves Bezerra extinguiu o processo sem julgamento do mérito. O magistrado entendeu que Wilson Martins de Oliveira não tinha legitimidade para propor a ação. ‘Os fatos alegados dizem respeito à possível má utilização de dízimo da igreja’, afirmou o juiz. ‘Os fiéis teriam legitimidade para propor ação em desfavor da igreja ou de seus dirigentes, caso confirmadas as informações da reportagem’, decidiu o magistrado.


O juiz Matias Pires Neto, da comarca de Santana, no Amapá, extinguiu ação movida por Edinei Lacerda de Lima, considerado parte ilegítima para fazer a reclamação: ‘Em nenhum momento da reportagem há referência à pessoa do reclamante, ainda que como bispo da entidade religiosa’.


‘Se tal reportagem levou a atos constrangedores praticados por terceiros contra os integrantes ou fiéis da igreja, não se pode atribuir responsabilidade ao jornal requerido e nem à autora da reportagem, e sim àqueles que, donos de seus atos, deixaram-se influenciar negativamente pela reportagem, levando-os a ações que abalaram o requerente’, afirmou o magistrado na sentença.’


 


CUBA
Elio Gaspari


O espectro do blog ronda o comunismo


‘COMEÇOU UMA bonita briga, a da ditadura cubana com os blogueiros. Os septuagenários veteranos da Sierra Maestra têm uma nova guerrilha pela frente. Em vez de viver escondida no mato, ela está na rede de computadores e seu símbolo mais visível é Yoani Sanchez, uma micreira filóloga de 32 anos que publica a página ‘Generación Y’ (1,2 milhão de visitas em fevereiro). No lugar dos fuzis, cabos, pen-drives e celulares com câmeras.


À primeira vista, os velhotes têm vantagem. Havana tem um só ponto de navegação pela internet acessível ao público. Fica numa pequena sala e custa 5 dólares por hora (um terço do salário mensal da terra). Dos 11 milhões de cubanos, só 200 mil têm acesso à rede, passando pelo único provedor, que pertence ao governo. Essa modalidade de bloqueio é burlada por um mercado negro de senhas e de acessos noturnos em empresas estrangeiras ou mesmo em agências estatais. Até parabólicas clandestinas já apareceram e a maior parte delas é usada para baixar músicas ou filmes.


No caso de Yoani (www.desde cuba.com/generaciony), seu blog vai completar o primeiro ano de existência e está hospedado num sítio alemão. Ela transmite suas mensagens valendo-se de algumas astúcias. Numa, fantasia-se de turista alemã, entra num hotel e despacha o texto previamente gravado. Não se pode dizer que o blog seja um palanque de dissidentes, mas, mesmo assim, no último fim de semana o Grande Irmão envenenou-o com filtros que dificultavam o acesso dos cubanos ao endereço. Yoani informa que já conseguiu se desvencilhar da macumba: ‘A reprimenda é tão inútil que dá pena, tão fácil de burlar que vira incentivo’.


A moça tem muita graça. Raúl Castro libera os eletrodomésticos e ela saúda a chegada dos aparelhos de ar refrigerado, lembrando que as torradeiras virão daqui a dois anos: ‘Nesse ritmo, as antenas parabólicas chegarão lá pela metade do século e meus netos conhecerão os GPS quando estiverem na adolescência’. Ouvindo o discurso de posse do comandante Raúl, ela se considerou um Champollion reencarnado, decifrando os hieróglifos da pedra da Roseta, ‘mais fáceis de desentranhar que o estatismo tedioso da política cubana’.


Yoani lista outros dez blogs da ilha. Um, o Havanascity, com bonitas fotografias da cidade. Outro, ‘Lo que yo y otros pensamos sobre la realidad cubana’, é pesado como o próprio nome. Todos carregam um certo gosto pela literatura. Lembram a lição de um engenheiro de computadores de São Petersburgo que, nos últimos meses do comunismo, recomendava: ‘Se você quer achar a democracia nesta cidade, procure a música’.


Nos anos 80 o banqueiro George Soros financiou o movimento democrático da Tchecoslováquia doando computadores, copiadoras e aparelhos de fax à Fundação Carta 77. Em 1991, durante a tentativa fracassada de golpe na Rússia, foram as máquinas de fax que garantiram a comunicação dos aliados de Boris Yeltsin. Comparados com a versatilidade da rede e dos pen drives, os equipamentos de Soros são carroças.


Por enquanto, os blogs cubanos são mercadoria para consumo externo, pois na ilha eles só estão acessíveis para a nomenklatura ou a turma do mercado negro. Se Raúl Castro não puder conviver nem com isso, suas prometidas mudanças acontecerão em 2131, quando completará 200 anos.’


 


FRANÇA
Folha de S. Paulo


Foto de Carla Sarkozy em 1993 vai a leilão


‘Sem anel nem botas. Uma foto da modelo, cantora e primeira-dama francesa Carla Bruni-Sarkozy em preto-e-branco, inteiramente nua, será leiloada em 10 de abril em Nova York. A imagem foi registrada pelo suíço Michel Comte em 1993, quando a terceira mulher de Nicolas Sarkozy tinha 25 anos e estava entre as modelos mais requisitadas do mundo.


Segundo a casa de leilões Christie, a foto, parte da coleção do alemão Gert Elfering, deve alcançar de US$ 3.000 a US$ 4.000 -bem menos que os estimados US$ 80 a 120 mil necessários para arrematar um retrato de Brigitte Bardot que também faz parte do lote. Em fevereiro, mês do seu casamento com Sarkozy, a cantora estampou a capa da revista espanhola ‘DT’. Na imagem de Mario Testino, ela usava apenas botas de cano longo e um anel.


Com agências internacionais’


 


PROPAGANDA
Cristiane Barbieri


Publicidade faz congresso em busca de novas regras


‘Nas três vezes em que foi realizado, desde 1957, o Congresso Brasileiro de Publicidade marcou viradas importantes do setor. No primeiro, foram criadas as bases da legislação que regulamenta a propaganda brasileira. Do último, que aconteceu 30 anos atrás, nasceu o Conar (Conselho Nacional de Auto-Regulamentação Publicitária).


Organizados pela Abap (Associação Brasileira de Agências de Propaganda), os publicitários convocaram ontem todo o setor de comunicação para o 4º Congresso Brasileiro de Propaganda, que acontecerá em julho, em São Paulo. Espera-se, nessa edição, a constituição de mais um marco: o das regras que fundamentarão o modelo de negócios da área para os próximos anos.


‘Não existe capitalismo sem regras nem proteção’, disse Nizan Guanaes, presidente do grupo ABC, que coordenará uma das comissões do evento. ‘Não queremos privilégios, mas direitos claros como os do agricultor francês ou da siderurgia nacional. Somos um setor importante da economia e queremos ser tratados como empresários, não apenas como criativos.’


Isso porque a matemática do setor, hoje, não fecha. Até poucos anos atrás, o lucro das agências vinha do chamado bônus por veiculação. A prática consiste em concentrar a veiculação do maior número possível de anúncios em determinada rede de TV, rádio, revista ou jornal. Em troca da fidelidade, o meio de comunicação devolve à agência parte da quantia paga.


Com o surgimento de novas mídias, como marketing direto, promocional, de ponto-de-venda e internet, por exemplo, a verba foi pulverizada e o bônus, reduzido drasticamente. As agências partiram para competições agressivas, e os percentuais cobrados sobre as verbas publicitárias despencaram.


‘Só que agora os publicitários estão unidos’, disse Sérgio Amado, presidente da Ogilvy Brasil. ‘Agências grandes, pequenas, nacionais e múltis perceberam que não podemos passar pela situação de outros países, onde o setor foi esvaziado.’


Em lugares como Espanha, Argentina e México, o modelo de birô de comunicação, no qual a compra de espaço publicitário não passa pelas agências, resultou no encolhimento do mercado. ‘O efeito foi de terra arrasada, tanto que há empresas de outros países vindo contratar a criatividade brasileira’, disse Amado.


Por aqui, as agências começam a testar novos modelos de remuneração, como bônus por sucesso das campanhas, usado pela Ogilvy. Guanaes, por sua vez, planeja ser remunerado com ações dos clientes em troca de seus serviços.


Atrações


É para discutir esse tipo de alternativa, entre outros assuntos, que 25 entidades participarão do congresso. Uma das atrações do evento será o ex-presidente da ONU (Organização das Nações Unidas) e prêmio Nobel da Paz Kofi Annan, que falará sobre liberdade.


Outra será a divulgação de dados oficiais do setor, medidos pela primeira vez pelo IBGE. Baseados em números apresentados pelas próprias agências, as estatísticas do setor existentes até então não são um reflexo fiel do mercado. Isso porque dados como os descontos de bônus por veiculação ou mesmo as novas mídias não entravam na contabilidade.


‘Sempre tivemos dificuldades em ter números reais do mercado’, disse Dalton Pastore, presidente da Abap. ‘Esse primeiro levantamento feito pelo IBGE foi o mais difícil, mas daqui para a frente teremos dados precisos do setor.’


Alguns números prévios divulgados mostraram que o mercado é bem maior do que alguns imaginavam. O IBGE analisou dados de 2004 e 2005, que mostraram que havia mais de 23 mil agências de propaganda e serviços especializados e 200 mil alunos de comunicação no país. ‘Achávamos que havia 4.000 agências e 150 mil alunos’, disse Pastore.’


 


TELEVISÃO
Daniel Castro


20% dos cariocas abandonam TV em 3 anos


‘A audiência da TV aberta no Rio de Janeiro despencou nos últimos anos. Quase 20% do total de televisores da Grande Rio foram desligados entre 2005 e 2008. O comportamento chamou a atenção da Globo, que, preocupada com a situação, pediu ao Ibope uma investigação sobre o que está ocorrendo.


Em 2005, o Rio registrava média diária de 44% de televisores ligados, dentro da média nacional. Em 2006, foram 42%. Em outubro de 2007, o percentual despencou para 37%. Em fevereiro, o índice atingiu 36%. O número de TVs ligadas caiu em todo o país, mas nada comparado com o Rio. A média nacional continua superior a 42%.


Com a queda, o Rio ultrapassou Belo Horizonte no ‘ranking’ das capitais que menos vêem TV. Na capital mineira, a média em fevereiro foi de 38% de televisores ligados. Brasília, outra cidade tradicionalmente de maior resistência à TV, teve 41% de ligados no mês passado.


Fortaleza e Salvador, capitais praianas como o Rio, têm alto índice de televisores ligados: 46% e 45%, respectivamente. São Paulo teve 44%.


Especulam-se sobre três supostos motivos para a queda no Rio: elevado número de evangélicos, alta pirataria a cabo em áreas controladas pelo tráfico e dificuldade de medição pelo Ibope. Procurado, o Ibope não confirmou os dados, obtidos pela Folha em duas grandes redes, e se recusou a comentar o que está ocorrendo no Rio.


SACOLINHA 1 Um executivo da Record sinalizou à Globo que a TV de Edir Macedo poderá dividir com ela os direitos de transmissão das Olimpíadas de Londres. Seria uma forma de compensar eventual prejuízo com a aquisição dos Jogos de 2012 e de negociar a partilha do futebol.


SACOLINHA 2 Edu Zebini, diretor de esportes da Record, confirma que a emissora ‘colocará à disposição’ de outros grupos os direitos de Londres-2012, mas apenas para TV paga e internet. ‘Não pretendemos colocar à disposição, por enquanto, [os direitos para] TV aberta’, diz.


SOBE A segunda edição do bom ‘Custe o que Custar’, da Band, deu 3,3 pontos no Ibope. Na estréia, marcou só 2,0.


COLIGAÇÃO A TV Brasil, TV pública federal, e a TV Cultura, TV pública de São Paulo, negociam parceria para co-produzirem o ‘Observatório da Imprensa’. Isso significa que a Cultura poderá interferir no programa.


DEMOCRACIA O ‘Globo Repórter’ fez uma enquete para definir o tema da edição do dia 4, que marca seu retorno ao ar. As opções eram saúde e qualidade de vida, relações familiares, trabalho, educação, vida após a morte e curas espirituais. Venceu a primeira. O programa mostrará que há 35 anos, quando estreou, 26% dos brasileiros estavam acima do peso. Hoje, são 51%.


DIPLOMA Na nova temporada de ‘A Grande Família’, Lineu (Marco Nanini) será veterinário.’


 


Mônica Bergamo


Namoro


‘A TV Record já tem três cartas de anunciantes interessados em comprar o pacote para os Jogos de Inverno de Vancouver, em 2010, junto com a Olimpíada de Londres, em 2012. A emissora oferece cada cota por US$ 37,5 milhões, ou cerca de R$ 63 milhões. O anunciante terá direito, em troca, de exibir sua marca por quatro anos em programas da emissora.


Namoro 2


A comparação do plano de comercialização com o que a TV Globo fez para os Jogos de Pequim é indevida. A Globo informa que vendeu cotas de R$ 25 milhões para apenas oito meses de inserções – e não 48 meses, como no caso da TV Record.


Cola


Os advogados de Preta Gil vão anexar ao processo que movem contra a Rede TV! as imagens dos apresentadores do ‘Pânico na TV!’ tentando entregar a ela um ovo de Páscoa gigante. ‘Vamos mostrar que é uma perseguição e que eles continuam fazendo brincadeira com a minha forma física’, diz ela.


Pedra na Britney


Depois de a cantora participar de um seriado de TV e manter-se há vários dias longe de escândalos, o site da CNN perguntou: Britney Spears está mudando de vida [para melhor]? 71% dos 2.200 internautas disseram que ‘não’.’


 


Janaina Fidalgo


Troisgros mostra sabor brasileiro a Oliver


‘Por mais ‘brasileiro’ que o ítalo-francês Claude Troisgros seja, é engraçado vê-lo ensinar ao britânico Jamie Oliver o que é que a cozinha brasileira tem: caju, jabuticaba, rrrrapadurrrra, farrrrrofa e… calor humano.


‘No Brasil, a gente faz assim’, diz Troisgros, tascando um abraço no colega de canal em ‘Truques de Confiança’ -uma brincadeira com o nome do programa que cada um deles apresenta no GNT: ‘Truques de Oliver’ e ‘Menu Confiança’.


Gravado em Miami, durante o Miami South Beach Wine & Food Festival, o encontro inédito vai ao ar hoje à noite no canal pago. Tendo como cenário um jardim verdejante, bem ao estilo de Jamie Oliver, o episódio traz Troisgros apresentando alguns sabores brasileiros. Com caju e jabuticaba fazem caipirinha -a primeira adoçada com rapadura. Falam das próprias histórias, da influência familiar que eles tiveram e das incursões à cozinha iniciadas ainda na infância.


No cardápio, ufa!, não tem feijoada, o ‘fish and chips’ dos britânicos. Troisgros prefere divulgar uma faceta menos conhecida da cozinha brasileira, a da comida paraense. E prepara um peixe no tucupi com o nosso mais intrigante (e elétrico) ingrediente, o jambu. ‘Hummm… my tongue is funny’, diz Jamie. É, o primeiro jambu ninguém esquece.


TRUQUES DE CONFIANÇA


Quando: hoje, às 21h


Onde: GNT’


 


Folha de S. Paulo


Músico vence ‘BBB’ com 50,15% dos votos


‘Depois de 78 dias de confinamento, o músico paulista Rafael de Carvalho, o Rafinha, 26, conquistou ontem o prêmio de R$ 1 milhão do ‘Big Brother Brasil 8’, com 50,15% dos votos, contra a modelo piauiense Gyselle Estevão, 24, que levou R$ 100 mil.


Segundo o apresentador Pedro Bial, 75,6 milhões de votos foram computados no paredão, que foi o terceiro de Rafinha e o sétimo de Gyselle -e enfrentou dificuldades técnicas quando o site Globo.com saiu do ar.


O programa teve 46 pontos de audiência, inferior à média do ‘BBB 7’ (48 pontos).


O músico foi o último a entrar na casa, substituindo um selecionado, e procurou ficar longe de polêmicas -entrou e saiu namorando a mesma pessoa, por exemplo.


‘Minha prioridade agora é a banda. Mas vou casar. Já falei com minha namorada e ela quer. Só falta pedir [a mão]’, disse ele após a vitória, garantindo que não sai ‘chateado com ninguém’ e não se acha bonito: ‘Eu me acho comum’.


A final teve show da roqueira Pitty e o ‘Big Oscar’, uma paródia da premiação de Hollywood.’


 


TiVo vai levar para a TV vídeos do YouTube


‘O YouTube anunciou uma parceria com a empresa responsável pelo TiVo, uma caixa que permite gravar e pausar a programação da TV em um disco rígido e pode ser conectada à internet. Nos EUA, existem 4 milhões de aparelhos TiVo, mas apenas 800 mil conseguirão levar os vídeos do portal para a telinha.’


 


MARKETING VIRAL
Camila Rodrigues e Daniela Arrais


Você é a propaganda


‘Você está prestes a ser infectado por um vírus que faz com que você passe adiante mensagens e vídeos, simplesmente porque gostou do conteúdo deles. Mas, por trás da iniciativa, estão agências de publicidade, que investem em uma estratégia chamada marketing viral.


Divulgadas em blogs, fóruns e redes sociais, como o Orkut, as campanhas têm como objetivo espalhar um conteúdo boca a boca -nesse caso, link a link.


‘As pessoas não acreditam mais em propagandas. Elas acreditam em outras pessoas’, afirma Marcelo Coutinho, diretor de análise de mercado do Ibope Inteligência.


Apesar de amplamente utilizadas, somente 15% das campanhas de marketing viral atingiram seus objetivos, segundo estudo da Jupiter Research publicado em outubro último.


As empresas ainda estão aprendendo a utilizar esse tipo de mídia, avalia Marcos Telles, coordenador geral de cursos da ADVB (Associação dos Dirigentes de Vendas e Marketing do Brasil). Ari Meneghini, diretor-executivo do IAB (Interactive Advertising Bureau Brasil) acredita que é preciso melhorar. ‘Tem muito publicitário achando que qualquer videozinho no YouTube vai ser viral.’


Pela culatra


Há duas semanas, um funcionário da agência Riot enviou uma sugestão de pauta para o blog Futepoca (www.futepoca.com.br) sobre a recuperação do jogador Ronaldo. Havia indicações de como o post deveria ser escrito e insinuações sobre uma possível parceria se ele fosse publicado.


A equipe do Futepoca condenou a prática. ‘Se a blogosfera quiser ser tratada como uma mídia responsável, deve se preocupar e discutir sua relação com a publicidade’, escreveu Glauco Faria no blog.


‘O Futepoca agiu corretamente ao publicar o e-mail, e o funcionário em questão não trabalha mais conosco’, diz Pedro Ivo Resende, diretor da Riot.


Veja nesta edição o que blogueiros pensam sobre posts pagos e conheça algumas ações de marketing viral que envolvem games e filmes.’


 


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Com o viral, o consumidor trabalha para as agências


‘Um piercing patrocinado e uma foto no Picasa fazem uma língua virar mídia -equivalente a um outdoor ou à catraca do metrô. Até quinta-feira passada, estava no ar uma campanha da Coca-Cola em que a empresa oferecia piercings de titânio na língua de graça. O preço: carregar a marca dentro da boca e registrar a façanha no site de compartilhamento de fotos.


Divulgada somente nos blogs, no Orkut e no YouTube, essa ação é um exemplo de marketing viral que usou a internet -e que resultou em 280 ‘anúncios linguais’.


‘[A comunicação viral] é um processo social. As pessoas querem buscar diferentes fontes de informações, principalmente na internet. O marketing quer saber como se beneficiar disso’, diz Marcos Telles, coordenador de cursos da ADVB (Associação dos Dirigentes de Vendas e Marketing do Brasil).


Apesar de esse tipo de estratégia on-line ser usado há poucos anos, o mercado está mais amadurecido. Para Sandro Marques, professor de mídias interativas da ESPM, uma campanha viral tem que ter uma motivação que faça o consumidor trabalhar pela agência. ‘Tem que ser tão legal, tão interessante, que as pessoas se encarreguem de transmitir as mensagens [espontaneamente]. (…) Ou tem que dar algo de graça’, enumera. ‘Ou tem que ter um componente de exclusividade. Todas as redes sociais cresceram assim. Lembra que precisava de convite para entrar no Orkut?’


A Espalhe Marketing de Guerrilha, agência que fez a campanha do piercing, mandou um kit para 80 blogueiros e contatou administradores de comunidades do Orkut relacionadas ao assunto, disse Gustavo Fortes, diretor de planejamento e criação. ‘Uma coisa é ser atingido por uma propaganda; outra é um amigo seu falando que um produto é legal.’


Para mensurar o alcance das ações, as agências analisam a repercussão quantitativa e a qualitativa. Segundo Pedro Ivo Resende, diretor da agência Riot, a primeira pode ser mensurada pelo número de visualizações de um vídeo, de acessos a um site ou de citações a uma campanha. A segunda diz respeito ao tempo de permanência em uma página, à relevância dos canais que publicaram comentários e ao teor desses comentários.’


 


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Blogueiros divergem sobre post pago


‘Uma campanha viral bem feita se espalha naturalmente, sem que ninguém precise pagar ou ganhar por sua veiculação. No entanto, a fim de estimular o boca-a-boca nas diversas mídias sociais, algumas empresas e agências de publicidade apelam para o que se chama de post pago -ação que gera polêmica no mundo dos blogs.


‘Tem que existir um engajamento natural das pessoas. Se o anunciante quer um post opinativo, faça algo relevante para o blog e seu público, crie algo que gere reações espontâneas. Convide para um evento, envie produtos para testes, converse com o blogueiro. Se achar que vale, ele posta. O mais importante é que as partes saibam que não existe compromisso’, diz Carlos Merigo, do blog Brainstorm #9 (www.brainstorm9.com.br).


‘As abordagens que mais dão certo são as que oferecem algo em troca ao blogueiro. Falo de reputação, reconhecimento, exclusividade. Não, necessariamente, de dinheiro’, afirma o publicitário Rafael Ziggy, que mantém o blog SimViral.com.


‘Faço post pago sim e não sinto culpa alguma’, assume Dani Koetz, do blog Ah! Tri Né! (www.ahtrine.com.br). ‘Parto do princípio de que, onde há visualização do público, há interesse em anúncio. Sempre foi assim: em rádios, jornais, revistas, TV e, hoje, na internet.’


No blog dela, há uma categoria Publicidade. ‘Não engano ninguém; o leitor tem a opção de ver ou não o post . O anunciante ganha, porque é visto por quem interessa. O blogueiro ganha, afinal manter um blog exige dedicação, e não há nada de errado em ter reconhecimento financeiro.’


Um dos fundadores do Meio Bit (www.meiobit.com), Leonardo Faoro, já publicou posts pagos e identificados, mas ele e os colegas decidiram abandonar a prática. ‘Por mais ético que o autor seja, a audiência pode não ter essa impressão, e o blog passar por vendido.’


Para Wagner Martins, o Mr. Manson do Cocadaboa.com, quando o conteúdo é relevante para o blog, não há prejuízo em receber pelo post. ‘Mas se ele iniciar uma corrida desenfreada atrás de dinheiro, aceitando qualquer proposta que aparece, será prejudicado.’


Ian Black, do Enloucrescendo (www.interney.net/blogs/enloucrescendo), nunca ganhou por seus posts, mas aceitaria fazê-lo, desde que o assunto tivesse relação com seu blog.


Ele observa, porém, que as agências ainda não encontraram o melhor jeito de abordar os blogueiros. ‘Mídia em blog funciona como um termômetro. Se ela for ruim, não há dinheiro que impeça as pessoas de dizerem isso. E as agências ainda não entenderam isso. Criam campanhas ruins, baseadas no que foi desenvolvido para televisão e mídia impressa.’’


 


Blogs fazem campanha por ética em anúncios


‘De acordo com o artigo 28 do Conar (Conselho de Auto-Regulamentação Publicitária), todo anúncio publicitário deve ser identificado como tal.


Por perceber que a regulamentação estava sendo ignorada, os blogueiros do Papo de Homem (papodehomem.com.br) e do Dinheirama (dinheirama.com/blog) fizeram a Campanha pela Transparência On-line (papodehomem.com.br/campanha-pela-transparncia-online).’


 


Camila Rodrigues


Gigantes brigam pela publicidade


‘As gigantes Google e Microsoft indicam que seus serviços de publicidade on-line tendem a ficar mais sofisticados.


Na mesma semana em que o gigante das buscas comprou a agência de publicidade Double Click, por US$ 3,1 bilhões, a Microsoft anunciou a aquisição da Rapt, empresa de monetização (serviço semelhante ao Adsense do Google); a empresa não revelou o valor da compra.


Leandro Cruz de Paula, diretor comercial da Microsoft Advertising Solutions, lembra que, há pouco mais de um ano, a companhia também adquiriu a Aquantive, que reúne uma agência de publicidade e duas empresas de tecnologia para anúncios on-line. ‘A Microsoft vem sinalizando seu avanço na área de publicidade.’


No mesmo período, o Google lançou o Ad Manager, um serviço gratuito de gestão de publicidade para ajudar os administradores de sites a inserir publicidade e obter relatórios sobre o retorno dos anúncios.


As duas empresas querem garantir sua fatia no mercado de publicidade on-line, que faturou US$ 21 bilhões em 2007 e cresceu 25% em relação ao ano anterior, segundo pesquisa da Internet Advertising Bureau (IAB) em parceria com a consultoria PricewaterhouseCoopers.


No Brasil, a cifra de investimentos on-line chegou a R$ 527 milhões, conforme o instituto.’


 


SISTEMA OPERACIONAL
Randall Stross


Vista foi criticado dentro da Microsoft por funcionários


‘DO ‘NEW YORK TIMES’ – Um ano depois do lançamento do Windows Vista, por que tantos usuários o recusam? Segundo a Microsoft, o fator dissuasório são os altos preços. Tanto que, no mês passado, a empresa abaixou valores de versões do sistema.


Uma teoria alternativa reza que a reputação do Vista não o ajuda. Vejamos uma história do começo de 2007. Jon colocou o Vista em duas máquinas. Então descobriu que a impressora e outros produtos não funcionavam; precisou voltar para o Windows XP em um dos PCs para usar os periféricos. Quando Steven ficou sabendo das dificuldades, disse: ‘Tem acontecido com todo o sistema’.


Há ainda o caso de Mike, que comprou um laptop com o adesivo ‘Compatível com Windows Vista’. Sendo assim, acreditou que executaria os programas favoritos da Microsoft, como o Movie Maker. ‘Eu me lasquei’, disse. O novo laptop não possui o chip gráfico requerido e tampouco executa seu programa favorito de edição de vídeo, ou qualquer outra coisa que não uma versão claudicante do Vista. ‘Eu possuo hoje uma máquina de e-mail de US$ 2.100’, contou.


Acontece que Mike pode ser tudo, menos um usuário inexperiente. O nome dele é Mike Nash, vice-presidente da Microsoft para o desenvolvimento de produtos. Jon responde por Jon A. Shirley, membro do quadro de diretores da Microsoft. E Steven é Steven Sinofsky, vice-presidente sênior da empresa.


As declarações deles constam de uma série de comunicados internos da Microsoft. Uma ação jurídica iniciada contra a empresa, em março de 2007, nos EUA, obrigou a divulgação de documentos internos.


Os autores da ação alegam que o ‘Compatível com Windows Vista’ é enganoso quando colocado em PCs incapazes de executar as versões que têm os recursos alardeados pela Microsoft como sendo as vantagens características do Vista. Entre as mensagens, há queixas de altos executivos da Microsoft transformados em usuários insatisfeitos do Vista.


Hoje, a empresa gaba-se de ter o dobro de drivers disponíveis do que quando do lançamento do sistema. Mas a performance e os recursos gráficos continuam a ser um problema.


Crônica de um sistema


As mensagens revelam uma tragédia. Primeiro ato: em 2005, a Microsoft quer deixar claro que apenas os PCs equipados para lidar com as exigências gráficas estão ‘Prontos para o Vista’.


Segundo ato: no começo de 2006, a Microsoft decide deixar de lado os pré-requisitos de hardware relacionados com a parte gráfica. Realiza-se um ajuste semântico. No lugar de ‘Pronto para o Vista’, um PC será descrito como ‘Compatível com Windows Vista’, o que, supostamente, não sinaliza promessas. ‘Até mesmo uma porcaria poderia se qualificar’, disse Anantha Kancherla, gerente de programas da Microsoft, em um e-mail interno.


O cenário já havia sido antecipado. Em fevereiro de 2006, depois de a Microsoft ter abandonado seus planos de reservar o selo de ‘Compatível com Windows Vista’ apenas para os PCs mais potentes, seus próprios funcionários previram uma onda de reclamações.


‘Seria menos dispendioso agir corretamente com os clientes agora, do que gastar vários dólares no final tentando consertar o problema’, disse Robin Leonard, gerente de vendas da Microsoft, em um e-mail enviado a seus superiores.


Tradução de RODRIGO CAMPOS CASTRO’


 


DOCUMENTÁRIO
Silvana Arantes


‘Stranded’ revê acidente nos Andes


‘Dos 45 passageiros que iriam de Montevidéu, no Uruguai, a Santiago, no Chile, no avião que caiu nos Andes em 1972, 29 sobreviveram à queda, 24 deles sem ferimentos.


‘Por que você [morre], e não eu? Que equação é essa? Qual é a lógica? Por que [a vida] é tão arbitrária’, são indagações que o sobrevivente Roberto Canessa compartilha com o cineasta Gonzalo Arijon em ‘Stranded: I Have Come from a Plane that Crashed on the Mountains’ (isolados: eu vim de um avião que se chocou nas montanhas), que inaugura, hoje, em São Paulo, a 13ª edição do Festival Internacional de Documentários – É Tudo Verdade.


‘Roberto Canessa é o homem que me inspirou a fazer esse filme, pelo modo como lida com essa experiência. Somos amigos muito, muito próximos. Eu poderia rodar um longa só com ele, mas decidi procurar todos os 16 sobreviventes’, conta o uruguaio Arijon, em entrevista à Folha, por telefone, de Paris, onde vive. O diretor é esperado hoje, na sessão de abertura, para convidados.


O número de sobreviventes caiu dos 29 iniciais para os 16 resgatados da montanha, 72 dias após o desastre, por razões que o filme recupera em depoimentos de ricos detalhes.


Avalanche


Oito sucumbiram a uma avalanche na qual os que restaram aprenderam que ‘a montanha estava viva; não era inerte’ e que, sob tempestade, os destroços do avião, em vez de abrigo, eram armadilha fatal.


Cinco outros não resistiram aos ferimentos, ao frio, à desnutrição e ao desânimo com a notícia da interrupção das buscas, anunciada num rádio com o qual o grupo conseguia captar ondas sonoras, mas que era incapaz de transmiti-las.


Na opinião de Arijon, Canessa fala dos 72 dias na montanha ‘com um discurso que sai do politicamente correto, algo que outros não conseguiram’.


A diferença, segundo o diretor, é que Canessa ‘admite que eles praticaram um ato totalmente impossível de domesticar’, ao decidir consumir carne humana para sobreviver.


Nas entrevistas, os sobreviventes contam que, antes de partir para o ato, eles discutiram amplamente ‘os tabus -mentais, culturais e religiosos’ que a questão envolve.


A decisão, de início, não foi unânime, como lembra o sobrevivente Javier Methol: ‘Eu não era valente. Não me opunha [ao canibalismo], mas não me animava a fazê-lo’. A frase que convenceu Methol, de cunho religioso, é um dos pontos desconcertantes do filme.


Além dos debates teóricos, os sobreviventes descrevem no documentário as providências práticas que tomaram para cortar os corpos; citam as partes que consumiram -fibras e ossos raspados, por conter cálcio- e o ritual para ingeri-los.


‘Esse filme indica que aquela experiência os transformou e continua os transformando’, afirma Arijon.


‘Stranded’ é a resposta do diretor a outro documentário, ‘Alive: The Miracle of the Andes’ (vivos: o milagre dos andes), de Frank Marshall, feito 30 anos após o acidente e que Arijona julga ‘decepcionante’.


‘Bilhete 17’


‘Desde então, eu sabia que iria tratar desse tema de forma ambiciosa. Me considero tão próximo dessa história que me sinto tentando comprar o bilhete [de sobrevivente] número 17 com esse filme’, diz.


Para fotografar o longa, Arijon chamou o uruguaio radicado no Brasil Cesar Charlone, co-diretor de ‘O Banheiro do Papa’. Diz Arijon que ‘Cesar tomaria aquele avião, mas não foi, porque estava no Brasil e decidiu ficar alguns dias mais’, o que o transforma num sobrevivente indireto e num ‘fator fundamental’ em ‘Stranded’.


Arijon achou que apenas Charlone poderia filmar as cenas de reconstituição da história que recheiam o filme e inserem nele um verbete do vocabulário do cinema ficcional.


‘A reconstituição é um instrumento a mais que o documentário busca na ficção para se tornar mais sedutor, o que não é uma novidade’, observa o idealizador e diretor do É Tudo Verdade, Amir Labaki.


Labaki define ‘Stranded’ como ‘um thriller documentário’ e cita sua vitória no Festival de Amsterdã, ‘o que, significa, para um documentário, o mesmo que vencer o Festival de Cannes para uma ficção’.


‘Universo onírico’


Arijon não corrobora a classificação das imagens não-documentais de ‘Stranded’ como reconstituição. ‘Elas não explicam nem descrevem as ações. São fragmentos da memória, do universo mental ou onírico deles [os sobreviventes]’, diz.


O diretor busca, porém, relativizar a própria classificação de ‘Stranded’ como documentário. ‘Acho que é um objeto fílmico não facilmente identificável.’ Um objeto fílmico no qual o contrário da morte não é a vida, mas uma nova origem, fincada nas montanhas, como assinala seu título.’


 


 


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O Estado de S. Paulo


Quarta-feira, 26 de março de 2008


CARTÕES CORPORATIVOS
Dora Kramer


A sinuca do dossiê


‘A CPI dos Cartões Corporativos caminhava para seus momentos finais quando apareceu na revista Veja o dossiê – ou ‘trabalho para oferecer dados à CPI’, como prefere o ministro Tarso Genro – sobre os gastos da Presidência da República nas contas B, durante o governo Fernando Henrique Cardoso.


O PSDB ficou numa sinuca. Embora já soubesse da intenção do Palácio do Planalto de recorrer à intimidação na base do ‘não me investiga senão eu te investigo’, viu-se obrigado a recuar e a fazer nova ofensiva investigativa, exigindo a quebra do sigilo das contas da Presidência Luiz Inácio da Silva. Puro jogo de oportunidade.


A oposição estava cansada de saber que o governo reunia dados contra FH. Primeiro, porque é o tipo de informação de fonte conhecida, pois é o governo o dono dela. Segundo, porque parlamentares aliados e ministros em diversas oportunidades, inclusive públicas, deixaram bem claro que a idéia era impor a dinâmica do chumbo trocado.


As regras estiveram claras desde o começo e assim foram tacitamente aceitas.


No dia 7 último, os tucanos haviam desistido de ir à Justiça pedir a quebra do sigilo dos gastos de Lula. O líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio, anunciou a retirada do mandado de segurança apresentado ao Supremo Tribunal Federal no dia 13 de fevereiro, dizendo se tratar de ‘um gesto de confiança nas investigações’.


Pareceu mais um gesto de amabilidade para com o PT, que naquela altura concordara em não impor mais resistências à criação da CPI, mediante um acordo segundo o qual as contas presidenciais de Lula e FH ficariam de fora do rol das investigações.


De lá para cá, o fracasso das diversas tentativas de aprovar requerimentos de quebra de sigilos deixou evidente a inutilidade da CPI e o PSDB – contra o entendimento do DEM – resolveu abandonar a comissão para concentrar artilharia na CPI das ONGs.


A presidente, Marisa Serrano, tucana, chegou a dar a senha, quando oficializou a disposição de deixar o posto, na semana passada.


A publicação do ‘dossiê’ na revista, no entanto, obriga a oposição a fazer cera durante algum tempo. Até que fique claro, conforme o líder do DEM no Senado, Agripino Maia, se o governo pretende mesmo usar sua maioria para impedir a divulgação dos gastos e evitar convocações indesejáveis.


Ora, se a decisão dos oposicionistas depende disso, então conviria economizar tempo e energia, porque é evidente que o Palácio do Planalto usará de todos os recursos para ficar fora dessa história.


Se quer mesmo investigar as despesas sigilosas – as únicas que interessam, pois as públicas estão publicadas na internet -, a oposição precisa dar eficácia à sua ação, começando por deixar de lado as ameaças e os apelos à colaboração dos governistas.


Estes ficarão onde estão, defendendo o governo. Se a alguém cabe se mexer de fato é à oposição.


Tal e qual


O grande argumento do presidente Lula para negar a inegável existência do dossiê com os gastos da Presidência FH é o mesmo utilizado em 2006 para contestar as evidências de autoria no dossiê dos ‘aloprados’: a ausência de relação entre causa e efeito.


Há dois anos, dizia que não seria lógico expor a candidatura favorita a tamanho risco sem necessidade.


A necessidade era a de desmoralizar José Serra, o primeiro colocado na eleição para o governo de São Paulo.


Ontem, Lula perguntava: ‘Se não fiz em 2005 (no caso mensalão) por que faria (um dossiê) agora’?


Porque tinha os dados na mão e precisava usá-los para intimidar a oposição.’


 


MÍDIA & POLÍTICA
Tânia Monteiro


Comissão de Ética apura venda de rádio de Hélio Costa


‘A Comissão de Ética Pública da Presidência da República não ficou satisfeita com as explicações do ministro das Comunicações, Hélio Costa, para o episódio em que, após assumir o cargo, transferiu a rádio Sucesso FM, a principal de Barbacena (MG), de sua propriedade, para o seu chefe-de-gabinete, José Artur Filardi Leite.


O caso, aberto pela comissão no dia 28 de janeiro, poderia ter sido encerrado na reunião de ontem, quando foram apreciadas as explicações de Hélio Costa. No entanto, a comissão decidiu nomear um relator — o padre José Ernanne Pinheiro – para apreciar o caso.


O presidente da comissão, Sepúlveda Pertence, não quis explicar o que está em apreciação e nem qual foi a interpretação dada pela comissão às explicações de Costa.


Em 2005, quando tomou posse, Costa recebeu da comissão a recomendação de evitar conflitos de interesse como detentor de cargo público e, ao mesmo tempo, proprietário de rádio. A saída encontrada pelo ministro foi vender sua parte na emissora.


Mas só em janeiro passado a identidade dos compradores foi publicada, em reportagem do jornal Folha de S.Paulo sobre o assunto. O chefe de gabinete afirmou ter comprado a rádio por R$ 70 mil, mas quem aparece oficialmente como proprietária é a mulher dele, Patrícia Neves Moreira Leite, que é funcionária comissionada no Senado.


A comissão investiga agora se a transação seria apenas de fachada ou se efetivamente Costa deixou de ter influência e participação na rádio.


Pertence também evitou polemizar sobre a situação do ministro do Trabalho, Carlos Lupi, que, mesmo atendendo à recomendação da comissão de se afastar da presidência do PDT, deu declarações à imprensa de que iria continuar acompanhando as ações do partido.‘Não avaliamos declarações de ministros’, disse Pertence. Segundo ele, o suposto conflito de interesses que envolvia o ministro do Trabalho ‘está resolvido, por hora, com a licença do partido’.


A resistência inicial de Lupi em se afastar do cargo acabou provocando a saída de Marcílio Marques Moreira da comissão, subordinada à Presidência da República. Em meio à polêmica com o pedetista, Marcílio pediu licença da presidência do órgão, alegando necessidade de tratamento de saúde, e não participará mais dos trabalhos.’


 


FRANÇA
O Estado de S. Paulo


Christie?s leiloará foto de Carla Bruni nua


A casa de leilões Christie?s anunciou ontem que uma fotografia da primeira-dama francesa, Carla Bruni-Sarkozy, será leiloada em abril. A imagem do fotógrafo Michel Comte foi feita em 1993, quando Carla era modelo. De acordo com o site da Christie?s, o preço previsto da foto deve ser de US$ 4 mil (cerca de R$ 6,8 mil).


 


PROPAGANDA
O Estado de S. Paulo


Publicitários buscam novo modelo de negócio


‘Está prevista palestra do emblemático Kofi Annan, ganhador do Nobel da Paz. Será apresentado um estudo do IBGE dando dimensão mais objetiva do mercado, já que os dados existentes são estimados. Mas, o que deverá mobilizar o IV Congresso de Publicidade, marcado para 14, 15 e 16 de julho em São Paulo, será o debate sobre novo modelo de negócio. Premidas por perda de receita, as agências se uniram, como há muito não se via, em busca de dar relevância ao setor. Querem formas de remuneração mais adequadas e consideram até a participação acionária em empresas anunciantes.’


 


RABINO
José Maria Mayrink


Sobel abre e fecha livro com caso dos furtos


‘Dos 30 capítulos de Um Homem Um Rabino (Ediouro Publicações, 320 páginas, R$ 39,90), 4 relembram o episódio em que o autor, Henry Sobel, se envolveu há um ano, em Miami, onde passou uma noite na cadeia por ter furtado quatro gravatas em duas lojas de Palm Beach. Cerca de 150 pessoas, entre empresários e senhoras da comunidade judaica, foram à noite de autógrafos, ontem, no segundo andar da Livraria Cultura, na Avenida Paulista. Para a surpresa geral, Sobel não apareceu por problemas de saúde. Em sua casa, informaram que ele precisou ser levado a um hospital (não foi informado qual).


Um Homem Um Rabino é a versão de que Sobel estava sob efeito de comprimidos e não sabia o que fazia. Ele narra o flagrante: ‘Lembro-me de que entrei numa loja, saí… Entrei na segunda loja e não me recordo de mais nada. Apenas de uma policial, de bicicleta, que me abordou’.


Não era a primeira vez. ‘Em 1985, na mesma cidade da Flórida, no mesmo centro comercial, apanhei uma gravata e saí sem pagar. Fui barrado por um segurança na porta, paguei a gravata e não houve conseqüências – nem fotografias.’ Em março de 2007 foi diferente. A imagem de um rabino assustado, cabelos desalinhados, sem óculos e sem quipá, estarreceu os amigos e revoltou a diretoria da Congregação Israelita Paulista (CIP), onde Sobel trabalhava.


‘Quem sou eu? O rabino, conhecido em todo o Brasil pelo forte sotaque norte-americano, a quipá vinho e a dedicação à defesa dos direitos humanos? Um religioso que se dedicou a aproximar a comunidade judaica dos brasileiros de todos os credos? Ou um malandro que rouba gravatas?’ A autobiografia, com tiragem de 30 mil exemplares, responde a essas indagações. ‘Este livro não é apenas um mea-culpa onde cabível, mas é uma expiação pública’, afirma Fernando Henrique Cardoso no prefácio. Se ‘Sobel sabe que errou algumas vezes’, como diz o ex-presidente, caberá aos leitores fazer o julgamento, espera o rabino. A CIP já fez. ‘Não adianta dourar a pílula. Minha saída da Congregação em que trabalhei por 37 anos é fruto direto do caso de Palm Beach’, reconhece Sobel.


O caso das gravatas, que abre e encerra o livro, é marcante, mas isolado. Sobel descreve sua trajetória religiosa e política, que se mistura com os principais acontecimentos do Brasil desde que desembarcou em São Paulo, em 1970. Filho de judeus de tradicional ortodoxia, optou pela linha liberal. O perfil de homem aberto ao diálogo e chegado à mídia lhe rendeu simpatias, mas também resistência na comunidade.


O rabino recorda sua participação nos protestos contra o assassinato do jornalista Vladimir Herzog, em 1975, registra sua resistência às arbitrariedades da ditadura e reafirma a defesa dos direitos humanos. Destaca boas relações com a Igreja Católica. Ao falar do episódio Herzog, uma falha: a omissão do nome de José Mindlin, então secretário estadual de Cultura, que denunciou ao presidente Ernesto Geisel que ele havia sido torturado e morto na prisão.


Ao falar dos casamentos que presidiu, revela uma indiscrição de Marta Suplicy na cerimônia em que abençoou, em 2003, a união da ministra com Luís Favre: ‘A noiva se aproximou e me disse baixinho, em tom de cumplicidade: Rabino, encontrei o judeu de minha vida…’. Sobel é compreensivo diante de situações concretas: não gostou quando a filha única, Alisha, lhe contou que o namorado não é judeu, mas nunca pressionou para que ela rompesse o namoro.’


 


DOCUMENTÁRIO
Luiz Carlos Merten


Eles têm sede de verdade


‘Houve recorde de inscrições de documentários brasileiros totalmente inéditos no É Tudo Verdade deste ano. Como a quantidade veio acompanhada de qualidade, 17 dos 19 filmes brasileiros no Festival Internacional de Documentários, que começa hoje em São Paulo e amanhã no Rio, fazem sua estréia mundial no evento. Numa época em que Eduardo Coutinho (Jogo de Cena) e João Moreira Salles (Santiago) trafegam nas bordas do documentário e da ficção e representam, para a maioria da crítica, o que há de mais inovador e ousado no cinema do País, o Estado resolveu desviar o foco dos grandes e mostrar quem são os novos documentaristas brasileiros. Para isso, reunimos, no CineSesc, cinco diretores que participam da seleção brasileira no 13º É Tudo Verdade, em diferentes seções, desde a competição até a prestigiada O Estado das Coisas, mostra informativa voltada para obras de cunho social, histórico e jornalístico.


Carla Gallo participa da competição com O Aborto dos Outros. ‘Meu filme discute o assunto por meio da investigação dos casos permitidos pela lei brasileira, que são muito restritos – violência contra a mulher, estupro. Só que eu estava filmando uma menina que fazia um aborto legal e na sala ao lado estavam 12 mulheres fazendo curetagem por causa de abortos clandestinos. Não dá para fugir a essa realidade e o filme termina tendo de fazer um registro mais amplo de uma realidade social, embora o que me interesse seja o humano, as histórias de vida.’


Patricia Cornils, jornalista por formação, gosta de dizer que ainda está aprendendo a fazer cinema e a fazer documentário. ‘Se você me pedir uma definição, vou dizer que documentário é o que quero fazer. Não sei se para sempre, mas agora ele me permite contar as histórias que não consigo, como jornalista. Meu filme se chama O Menino e o Bumba e investiga esse menino que, desde os 11 anos, é louco por ônibus. Dos 11 aos 18, a vida dele foi uma rotina. Ele roubava ônibus para dirigir, ia preso, era solto e voltava a roubar. Parece que Walter Salles vai fazer uma ficção baseada em sua história. Ela é muito legal e eu estou muito contente de tê-la contado. Vou fazer ficção algum dia? Não sei. Meu próximo filme será baseado em cartas que minha mãe escreveu e que minha avó me deu, quando eu tinha 30 anos. Não conheci minha mãe e agora vou fazer uma narrativa de imagem, dialogando com as cartas dela. No fundo, foi o que me atraiu no garoto do ônibus. Ele não conhecia o pai. Tinha essa fantasia, ou disseram para ele, que o pai era motorista. Ele começou a procurar em garagens. Começou a roubar os ônibus para dirigir. Gosto dessa ambivalência. As coisas que estão e não estão, que existem porque a gente as fabrica. É sobre isso que quero falar.’


César Cabral veio da animação e seu filme Dossiê Rê Bordosa investiga os motivos que levaram o cartunista Angeli a matar sua mais famosa criação, há 20 anos. ‘Até pela minha formação, mas também pelo próprio tema, embora tenha utilizado procedimentos de documentário, entrevistando muita gente, transformei tudo em animação. Todo mundo fala do documentário como um tipo de cinema no qual o diretor não tem controle sobre o material e não sabe que filme vai trazer quando sai para captar imagens e sons. A animação é muito pensada, não digo que o documentário não seja, mas ela envolve muito planejamento. A gente trabalha o dia inteiro para fazer 5 segundos de filme, não dá para desperdiçar. Terminei trabalhando com essa contradição – o planejamento rígido da animação e o formato mais livre do documentário.’


Paschoal Samora acha que isso não é tão raro. ‘Estou no É Tudo Verdade deste ano com Mar Dentro, um documentário poético sobre velhos marinheiros que recorrem à memória afetiva para contar suas histórias de aventura e de amor. Já participei seis vezes do festival de documentários e ganhei três prêmios paralelos (e um do júri oficial). Tenho consciência de fazer, no cinema, uma investigação documental. É o que me interessa, mas, cada vez mais, tento negar o filme anterior, evitando cair em fórmulas fáceis. Acredito na narrativa, é a base do meu trabalho, mas meu objetivo é tentar atingir, a cada filme, níveis mais sutis de realidade. (Eduardo) Coutinho embaralha os limites da ficção e do documentário em Jogo de Cena. Acho que o fascinante é quando ocorre um cruzamento e a gente consegue ultrapassar esses limites.’


Carlos Adriano radicaliza – acha que toda filmagem, mesmo de uma ficção, é um documentário sobre um grupo de pessoas reunidas num set. ‘Participo do festival deste ano com Das Ruínas à Resistência, que resgata filmes (documentários) realizados por Décio Pignatari nos anos 60. Também faço a curadoria da retrospectiva dedicada ao documentário experimental brasileiro, que vai ser uma surpresa e vai revelar coisas muito interessantes. Estou no festival, mas não me considero documentarista. O cânone do gênero não me interessa. Não filmo entrevistas, discuto a memória e também a questão do suporte, que está no centro de todos os meus filmes. Remanescências transforma 11 fotogramas que restaram da primeira filmagem realizada no Brasil (por José Roberto Cunha Telles, em 1897) numa experimentação audiovisual de 18 minutos. Fujo dos rótulos e das etiquetas, até mesmo da de cineasta experimental. A realidade é sempre muito mais louca que qualquer ficção e, para expressá-la na tela, a gente não pode ter medo de ousar.’’


 


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Corra para ver esses documentários


‘Numa seleção que abrange 137 títulos de todo o mundo, distribuídos entre as competições brasileira e internacional e seções como Vidas Brasileiras, O Estado das Coisas, Foco Latino-Americano, Horizonte, etc., o Estado coloca em campo um time de 11 filmes que você não pode perder no 13º Festival Internacional de Documentários É Tudo Verdade.


Stranded – O filme do uruguaio Gonzalo Arijón que abre hoje o evento em São Paulo conta a mesma história que inspirou ficções como Os Sobreviventes dos Andes e Sobreviventes, de René Cardona Jr. e Frank Marshall. Em 1972, o avião que levava o time nacional de rugby do Uruguai sofreu um acidente nos Andes e 29 de seus 45 ocupantes conseguiram sobreviver, contando mais tarde que praticaram canibalismo. Um dos fotógrafos de Stranded é César Charlone, de Cidade de Deus, co-diretor de O Banheiro do Papa, em exibição na cidade. CineSesc, hoje, 20h30; amanhã, 21 h.


Sem Fim à Vista – Indicado para o Oscar de melhor documentário do ano, o filme de Charles Ferguson inaugura amanhã a etapa carioca do É Tudo Verdade. O diretor entrevista antigos assessores e simpatizantes do presidente George W. Bush para discutir a sucessão de erros em que se transformou a Guerra do Iraque. Se fosse feito por alguém contrário ao presidente dos EUA, como Michael Moore, o filme seria, talvez, tendencioso. Ferguson, filmando o desapontamento de aliados, constrói uma narrativa cronológica, detalhada e sóbria. CineSesc, dia 3, 23 h.


Fengming – Memórias de Uma Chinesa – Mulher de 60 anos recorda como o maoísmo virou um pesadelo que durou 30 anos na China. O mesmo diretor – Wang Bing – assina Além dos Trilhos, que passa na mostra Horizonte e ambos os filmes oferecem retratos fortes das transformações ocorridas no país que terá grande exposição na mídia, nos próximos meses, por conta dos Jogos Olímpicos de Pequim. CineSesc, dia 4, 15 h.


Subindo o Rio Amarelo – Selecionado para o Sundance e vencedor do prêmio de melhor documentário no Festival de Vancouver, o longa de Yung Chang acompanha um barco de turistas que percorre o rio do título, visitando áreas (e cidades) que serão inundadas por causa da construção da represa das Três Gargantas. Ou seja, o mesmo drama de Em Busca da Vida, de Jia Zhang-Ke. CineSesc, amanhã, 17 h.


O Sonho de Tilden – A partir do encontro, em Cuba, do cineasta Fernando Birri, nome histórico do cinema latino-americano, com o diplomata brasileiro Tilden Santiago, a diretora Moara Passoni acompanha o esforço da dupla, que embarca para o Vaticano, a fim de entregar uma carta ao papa Bento XVI. Reserva Cultural, dia 28, 14 h; dia 30, 16 h.


Me Abrace Forte e Me Deixe Ir – Quem gostou de Ser e Ter, do francês Nicholas Phillibert, não pode perder o filme da inglesa Kim Longinotto, vencedor do BritDoc como melhor documentário britânico do ano passado, sobre as técnicas que uma escola emprega para integrar alunos expulsos de outros estabelecimentos por seu comportamento violento. CineSesc, dia 30, 15 h.


Simonal – Ninguém Sabe o Duro Que Dei – Cláudio Manoel, Micael Langer e Calvito Leal levantam o véu sobre as acusações de colaboracionismo com o regime militar que destruíram a carreira do cantor nos anos 60. CineSesc, dia 4, 21 h; dia 5, 13 h.


Coração Vagabundo – Fernando Andrade mostra o que Pedro Almodóvar, Michelangelo Antonioni e David Byrne, entre outros, pensam sobre Caetano Veloso. CineSesc, dia 30, 19 h.


Relato de Memória – O cineasta israelense Dan Geva dialoga com Description d’Un Combat, documentário que Chris Marker realizou em 1960, ainda nos tempos heróicos da construção do Estado de Israel. Quase 50 anos depois, o que restou daquele sonho? Contundente. CineSesc, dia 1º, 17 h.


Porta 12 – Um incidente ocorrido na saída de um jogo entre River Plate e Boca Juniors, em Buenos Aires, em 1968, produziu 71 mortos e mais de 100 feridos. O diretor Pablo Tesoriere tenta responder à questão – foi um conflito espontâneo ou uma reação política da ditadura, já que torcedores do Boca gritavam slogans peronistas que irritaram os militares? CineSesc, dia 2, 17 h.


Operação Cineasta – Um estudante de Bagdá é contratado para trabalhar como estagiário durante a rodagem de um filme na República Checa. Nina Davenport acompanhou a experiência com sua câmera e, ao descobrir que ele não contou toda a verdade sobre suas origens, propõe uma discussão sobre ética e correção política que tem tudo a ver com o momento atual, além de remeter ao documentário de Charles Ferguson, Sem Fim à Vista. CineSesc, dia 28, 17 h.


Serviço


CCBB. R. Álvares Penteado, 112, 3113-3651; CCSP. R. Vergueiro, 1.000, 3383-3402; Centro Cultural da Juventude. Av. Emilio Carlos, 3.641, 3984-2466; Cinemateca. Lgo. Raul Cardoso, 207, 3512-6111; Cinesesc. R. Augusta, 2.075, 3087-0500; Eldorado. Av. Rebouças, 3.970, 2197- 7472; Gal. Olido. Av. São João, 473, 3334-0001; Res. Cultural.Av. Paulista, 900, 3287-3529′


 


Beth Néspoli


Praça Roosevelt agora vai ao cinema


‘Quem viu, na curta temporada paulistana, a montagem de Vestido de Noiva dos Satyros, dirigida por Rodolfo García Vázquez com participação especial da atriz Norma Bengell, sabe que além de muitas projeções há momentos em que uma câmera, no palco, capta imagens on line. Pois outras três câmeras tomaram o espaço da platéia durante as apresentações desse espetáculo na mostra principal do Festival de Teatro de Curitiba que começou na quinta e termina no domingo.


O motivo de tantas lentes? O trabalho dos Satyros está sob o foco do documentarista Evaldo Mocarzel. Premiado por filmes como À Margem da Imagem e Do Luto à Luta, o cineasta volta agora seu olhar para o palco e promete passar meses debruçado sobre o processo de criação desse grupo que transformou o circuito ‘off’ em ‘in’ ao se instalar na Praça Roosevelt, em 2000, na época um dos lugares mais violentos da cidade, hoje ponto de encontro de artistas e local da moda. ‘O teatro paulistano vive um período de efervescência que precisa ser registrado’, diz Mocarzel. ‘Eu não tenho dúvida que o movimento teatral de agora, em bora parte impulsionado pela Lei de Fomento, já faz parte da História do teatro brasileiro e será objeto de estudo no futuro. A filmagem de processos cênicos, espetáculos, entrevistas com atores e diretores pode ser tornar documento importante para historiadores’, argumenta Mocarzel. E pode ser útil não só para pesquisadores de teatro, mas de outras áreas do conhecimento.


Já estão em fase de finalização dois longas que ele realizou com o grupo Teatro da Vertigem, dirigido por Antonio Araújo: um mostra na íntegra o espetáculo BR3, encenado no Rio Tietê, e outro retrata a preparação da montagem. Ele deseja ainda documentar o trabalho do diretor Sérgio de Carvalho e dos atores da Cia. do Latão em assentamentos do MST e já está em fase de captação para um filme em Pernambuco envolvendo a Cia. Os Fofos Encenam, de Newton Moreno.


Faz nove dias que Evaldo Mocarzel está em Curitiba. Veio bem antes das apresentações de Vestido de Noiva – domingo e segunda – para filmar o processo de criação de A Fauna, um espetáculo realizado pelo grupo com moradores do bairro Vila Verde, na periferia da cidade (leia abaixo). Era para ser parte do filme, mas ganhou tal dimensão que será um longa à parte. Como já acontecera com o Vertigem, Mocarzel fará dois longas sobre o trabalho dos Satyros. ‘São documentários bem diferentes, até na linguagem. Em Vila Verde eu não fiz entrevistas, não dei um pio, fiz o chamado documentário de observação, no qual a câmera fica permanentemente ligada, até que deixa de ser percebida. Assim se consegue captar o processo de ensaios, de criação cênica, sem aquele artificialismo que automaticamente ocorre quando alguém fala ou age diante de uma lente. E não estou falando em câmera oculta, mas da que se torna invisível pela presença constante’, explica.


O cineasta vai intervir, com entrevistas, no documentário sobre a atuação dos Satyros, que também começou a ser gravado no festival de Curitiba. Mocarzel deu muita sorte ao filmar o que seria a primeira apresentação de Vestido de Noiva, no domingo, interrompida por problemas técnicos. ‘Eu sofri com a angústia dos atores’, diz. Mas é evidente que ter filmado uma pane enriquece um documentário sobre o teatro, onde o imponderável é parte do jogo.


Espetáculo iniciado, falha o projetor. ‘Rodolfo subiu ao palco, pediu cinco minutos para o reparo. Mas olho para o projetor e vejo alguém que alguém tenta consertar com uma chave, não de fenda, de carro mesmo. Tudo sendo filmado, a angústia dos atores, o zumzum na platéia, a solidariedade do público.’ Subitamente, o projetor volta a funcionar. Por dez minutos apenas. E a sessão é interrompida. ‘Um sujeito começa a gritar na platéia, a culpar o festival. Norma Bengell aparece no palco chorando, diz que o grupo tentou fazer o seu melhor e o festival também, o público aplaude. Foi terrível, claro, mas o documentário ganhou pathos, dramaticidade.’


Em Curitiba, Mocarzel filmou também ensaios, bastidores. Planeja ainda uma série de entrevistas com o diretor, o dramaturgo Ivam Cabral – ambos fundadores do grupo em 1989 – e com os atores. Para tornar lúdicas e teatrais as conversas, vai criar um cubo feito de espelhos, diante dos quais os atores vão falar de seu trabalho, uma brincadeira com a auto-imagem dos atores. Também vai acompanhar o processo de criação de Liz, peça do cubano Reinaldo Monteiro, que estréia no Festival de Havana, em junho.’


 


Keila Jimenez


Retrato do caos


‘Questão do momento, o trânsito caótico em metrópoles como São Paulo é tema de um programa especial que está sendo produzido para o Discovery Channel. O documentário, que teve gravações em São Paulo, mostrará os congestionamentos e as alternativas possíveis para solucionar o trânsito nas grandes cidades. A atração ainda não tem data prevista de estréia, mas deve ir ao ar ainda neste ano, em toda a América Latina.


Para retratar um pouco do sofrimento do paulistano nos congestionamentos, a produtora Mixer – responsável pelo projeto – acompanhou alguns casos na cidade. Entre eles, o dia-a-dia de uma família que demora cerca de uma hora para levar os filhos à escola pela manhã. A produtora registrou todo o trajeto deles, saindo da Mooca, na zona leste da cidade, rumo ao Colégio Augusto Laranja, em Moema, na zona sul.


Além de São Paulo, a produção acompanhou congestionamentos e as vítimas do tráfego intenso em cidades como Bogotá (Colômbia), Cidade do México (México) e Londres (Inglaterra). A produção ainda conta com o depoimento de especialistas no assunto.’


 


REVISTAS
O Estado de S. Paulo


Bündchen em polêmica


‘A capa de abril da Vogue americana, que estampa Gisele Bündchen e o jogador de basquete LeBron James, já causa polêmica. Críticos afirmam que a pose de ambos perpetua estereótipos raciais negativos. Eles opinam que James parece King Kong, abraçado à cintura de Gisele. É a primeira vez que a Vogue mostra um negro na capa.’


 


Ubiratan Brasil


Revista Mad volta em sua terceira ‘encarnação’


‘O fôlego de Alfred E. Newman parece não ter fim – o jovem sardento, de cara abestalhada (que muitos vêem semelhança com o presidente americano George W. Bush) e dentes separados, continua como mascote da revista Mad, publicação de humor que já foi considerada uma das melhores do mundo e que, depois de várias encarnações no Brasil, volta novamente às bancas, agora sob a chancela da editora Panini. O número 1, aliás, que já está à venda em São Paulo (R$ 5,90) e chega ao restante do País até sexta-feira, traz Newman na capa em estado de putrefação e o título é revelador: ‘De volta do mundo dos mortos!’


Criada em 1952, nos EUA, pela EC Comics, a revista Mad tornou-se aos poucos símbolo do melhor humor escrachado, mas inteligente. Sem perdoar nada e ninguém, pelas suas páginas passaram sátiras a filmes, personalidades e fatos do cotidiano, representando a miragem mais ácida que um espelho podia apresentar. Um cardápio que saciava em cheio os leitores cansados do humor mais correto – tanto que, em 1972, a tiragem de Mad atingiu o pico, com mais de 2 milhões de exemplares vendidos nos EUA.


No Brasil, onde o auge de vendagem chegou a 150 mil de exemplares, a revista foi publicada por três editoras: Vecchi (1974-83), Record (1984-2000) e Mythos (2000-2006). Tornou-se também o manual de diversos humoristas, especialmente o pessoal do Casseta & Planeta. Mas, desde 2006, quando o contrato com a Mythos Editora prescreveu, a revista não circulava no País. E, nessa nova fase, traz, além do indefectível Alfred E. Newman (o arquétipo do malandro americano), a publicação traz em seu expediente um editor que pretende figurar na lista do Guinness como o mais duradouro colaborador da Mad em todo o planeta: Otacílio d’Assunção, o Ota, que editou mais de 300 números da publicação e acabou se tornando uma de suas atrações com o ‘Relatório Ota’.


O primeiro número pretende matar a nostalgia dos fãs antigos e conquistar novos leitores por meio de uma série de seções que tornaram a revista um clássico. Assim, estão ali as piadas infames de Aragonés, a velha sátira à guerra fria representada em Spy vs. Spy, além de detonar zumbis e feiticeiros, com direito a uma especial destruição do bruxinho Harry Potter.


A receita segue o caminho já traçado pela original americana, especialmente no pós-guerra, quando a relação entre Estados Unidos e a então União Soviética vivia por um fio. A meta da revista, naquela época, era clara: ironizar as pretensões de cultura e testar os próprios limites. O fundador da Mad, William M. Gaines, manteve-se bravamente em pé diante das críticas implacáveis que recebia por conta de suas histórias em quadrinhos de horror cômico. Mad incomodava a todos, a ponto de psicólogos, parlamentares e jornais se unirem em uma aliança contra a publicação. Consta que o jornal The Hartford Courant referia-se à Mad como uma ‘torrente nojenta que escorre dos esgotos dourados de Nova York’.


Mad começou a perder sua força nos anos 1970 e 80, quando a contracultura inspirava outras publicações (o humor do grupo britânico Monty Python, por exemplo). Sua base, porém, sempre persistiu, inclusive nas versões nacionais: estar sempre na posição do contra.’


 


 


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