Os jornais desenharam no fim de semana um complicado tabuleiro político, no qual se pode observar que nenhuma das principais forças em confronto se arrisca a uma jogada mais contundente. A pesquisa Datafolha sobre a popularidade da presidente da República, com dados colhidos no calor das manifestações do dia 15/3, anima certos protagonistas da oposição, mas os veteranos de crises sabem que bastam duas ou três notícias favoráveis na economia e um par de medidas efetivas na direção de uma reforma política para reverter essa tendência.
Até mesmo os grupos periféricos do Parlamento, que estão sempre em busca de ganhar algum com qualquer aliança no poder, se movem com cautela, de olho nas iniciativas do presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Alguns colunistas acham que o parlamentar está usando a projeção que lhe dá o cargo para se prevenir contra eventuais estilhaços da Operação Lava Jato. Outros o apontam como o líder capaz de transformar o chamado “baixo clero” do Congresso em uma força hegemônica, à qual tanto o PT quanto o PSDB teriam que prestar vassalagem.
A popularidade de Cunha pode ser medida pela repercussão de seu atrito com o ex-ministro Cid Gomes: nas redes sociais, o bate-boca no plenário da Câmara resultou em ampla goleada em favor do ex-ministro da Educação, que contabilizou no Twitter cerca de 70% de manifestações favoráveis, num volume elevado para o padrão rotineiro das intrigas partidárias. A referência de Gomes a “deputados achacadores”, dirigida diretamente ao presidente da Casa, foi apoiada por expressões como “Cid Gomes me representa”.
No Partido dos Trabalhadores, o vazamento de um suposto documento com críticas à estratégia de comunicação do Executivo, curiosamente atribuído ao próprio ministro-chefe da Secretaria de Comunicação da Presidência da República, expõe as divergências internas do partido, que é composto por um verdadeiro saco de gatos.
Em grupos de discussão do Facebook frequentados por petistas, pode-se observar os choques dessas tendências, com duas ondas se batendo. O primeiro resultado está nos jornais de segunda-feira (23/3): o ministro Aloizio Mercadante, chefe da Casa Civil, perdeu a função de mediador entre o Executivo e o Congresso.
Apostando no conflito
O PSDB se desconecta oficialmente do movimento pelo impeachment da presidente Dilma Rousseff, proposta que se desidrata desde que a poderosa Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) fez circular os cálculos que apontam para grandes perdas em caso de agravamento da crise política. No entanto, o senador Aécio Neves e seu parceiro de chapa na eleição presidencial, Aloysio Nunes Ferreira, estimulam sem disfarces os principais grupos que organizaram os protestos do dia 15.
A semana se inicia do jeito que a imprensa gosta: uma série de pautas desfavoráveis ao governo federal promete uma fartura de manchetes negativas para os próximos dias. A proposta da reforma política tem pouca ou nenhuma possibilidade de seguir adiante sem o apoio explícito dos grandes meios de comunicação, o que tem estimulado o chamado “baixo clero”, agora organizado sob a liderança de Eduardo Cunha, a trabalhar por mais um remendo nas regras partidárias, sem tocar no essencial.
Embora os jornais tenham publicado, aqui e ali, editoriais e artigos em favor de uma mudança radical no sistema de financiamento de campanha e no modelo representativo, é no noticiário, e principalmente nas manchetes, que se pode identificar as verdadeiras motivações da imprensa. E o objetivo mais evidente coincide com a afirmação recente de senadores da oposição, que manifestam a disposição de manter o Planalto sob ataque. Um colunista do Globo passa dos limites e prega: “Melhor infernizar a vida de Dilma, fazendo-a pagar pelos erros que cometeu”.
O Partido dos Trabalhadores reúne sua comissão executiva no dia 30/3, sob intensa expectativa, porque sabe-se que o ex-presidente Lula da Silva irá assumir a frente das principais ações, que deverão incluir caravanas pelo interior do Brasil e manifestações de apoio ao modelo econômico e à proposta de reforma política. O objetivo é marcar o território específico do partido, independentemente do que decidir a presidente da República no que se refere ao governo.
Os petistas cansaram de apanhar da mídia e decidiram mobilizar a militância com passeatas em defesa do legado de seus três mandatos.
Os líderes da manifestação do dia 15 prometem voltar às ruas nos dias 12 e 21 de abril.
As ruas vão ferver.