Thursday, 28 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

Equipe da NBC relata fuga de sequestro

Quando a equipe da americana NBC, sequestrada por um grupo leal ao presidente sírio Bashar al-Assad, começou a receber ameaças de execução, a situação ficou alarmante. Isso porque o repórter Richard Engel e seus colegas da emissora de TV – sequestrados cinco dias antes e mantidos amarrados e de olhos vendados – sabiam que um de seus guias rebeldes fora fuzilado.

O suplício terminou às 11 da manhã de segunda-feira (17/12) durante uma dramática batalha quando um grupo de rebeldes descobriu e libertou Engel e quatro outros membros de sua equipe – inclusive o produtor, Ghazi Balzik, o cinegrafista John Kooistra e um engenheiro não identificado – que estavam sendo levados de carro.

“Nós íamos pela estrada e os sequestradores chegaram a um ponto de controle dos rebeldes, o que não esperavam. Nós estávamos na parte de trás do que de poderia chamar uma minivan”, Engel explicou ao programa Today, da NBC, com a barba por fazer. “Os sequestradores vieram o ponto de controle e abriram fogo. Dois sequestradores foram mortos. Pulamos para fora do veículo e os rebeldes nos receberam. Passamos a noite com eles.”

Vídeo não identificado

“Foi uma experiência muito traumática”, disse Engel, que achava que os sequestradores eram uma milícia da etnia Shia, leal ao governo sírio. “Eles nos mantiveram de olhos vendados”, relatou o repórter, de 39 anos, um dos mais famosos correspondentes da televisão americana. “Fisicamente, não fomos espancados nem torturados. Houve tortura psicológica, ameaças de execução. Obrigavam-nos a escolher quem seria o primeiro a morrer e quando recusávamos faziam simulações de exceção”, acrescentou. “Eles falavam abertamente de sua lealdade ao governo” disse Engel. “Era… a Shabhia, uma milícia do governo. São pessoas leais ao presidente Bashar al-Assad.”

O cinegrafista Kooistra, do programa Today, disse que tinha “feito as pazes com o criador” e ficara “pronto para morrer” várias vezes durante o suplício. Engel disse aos sequestradores que queria trocar ele e sua equipe por quatro iranianos e dois libaneses que estavam presos pelos rebeldes.

Na terça-feira (10/12), um grupo sírio não identificado divulgou um vídeo mostrando Engel, três outros membros da equipe de produção da NBC e um jornalista que trabalhava para a CNN e ABC. O vídeo exortava o governo americano a garantir a soltura dos homens e “parar suas atividades na Síria”. Engel disse que seus captores foram treinados pela Guarda Revolucionária Iraniana e são aliados do Hezbollah e da milícia Shia libanesa. Tanto o Irã quanto o Hezbollah são aliados do regime sírio, sitiado.

Mortes de jornalistas

A equipe de Engel atravessou a fronteira pela Turquia na terça-feira. A rede NBC disse que ninguém reivindicou a autoria do sequestro, não houve qualquer contato com os captores e nenhum pedido de resgate enquanto a equipe esteve desaparecida.

O governo sírio bloqueou grande parte da cobertura da guerra civil pela imprensa estrangeira – que soma mais de 40 mil mortes desde o levante, em março de 2011. Os jornalistas a quem o regime permitiu a permanência são estreitamente controlados em sues movimentos por funcionários do Ministério da Informação. Muitos jornalistas estrangeiros entram para a Síria ilegalmente, com a ajuda de contrabandistas.

Vários jornalistas morreram cobrindo o conflito. Entre eles, o repórter francês de TV premiado Gilles Jacquier, o fotógrafo Rémi Ochlik e a correspondente do Sunday Times britânico, Marie Colvin. Anthony Shadid, correspondente do New York Times, aparentemente morreu de um ataque de asma, quando se encontrava em serviço na Síria.

Engel entrou para a NBC em 2003 e foi nomeado chefe dos correspondentes estrangeiros em abril de 2008, Antes, trabalhara como free lancer para a ABC News, inclusive durante a invasão do Iraque. Vive no Oriente Médio desde que se formou, em 1966, pela Universidade de Stanford, segundo sua biografia para a NBC. Fala árabe fluentemente.Informações de Peter Beaumont [The Guardian, 18/12/12].

Leia também

Morte de jornalistas ocidentais chama atenção para massacre na Síria

Jornalistas não são bem-vindos na Síria