Thursday, 12 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1317

Estudo defende que mídias sociais desaceleram mobilização

As redes sociais podem enfraquecer iniciativas e deixar as pessoas satisfeitas em apenas observar o espetáculo da vida através de um smartphone – aparentemente, até mesmo durante uma revolução. Esta é a tese provocativa de um paper escrito por Navid Hassanpour, formado em engenharia elétrica em Stanford e aluno de ciências políticas na Universidade de Yale.

Hassanpour estudou a revolta popular no Egito – que tirou do poder, no início do ano, o presidente Hosni Mubarak – por meio de cálculos complexos e vetores que representam decisões tomadas por manifestantes. A sua questão era analisar o quão inteligente foi a decisão do governo de Mubarak de interromper completamente o acesso à internet e serviços de celular no dia 28/1, em meio aos protestos na Praça Tahrir, no Cairo. Segundo suas conclusões, a estratégia não foi eficiente, mas não pelas razões mais lógicas. “A completa conectividade em uma rede social pode, algumas vezes, retardar a ação coletiva”, observou o pesquisador, indo de encontro ao pensamento comum de que as mídias sociais teriam ajudado a estimular os protestos.

Segundo o estudo de Hassanpour, depois do dia 28/1, os protestos espalharam-se por Cairo e pelo resto do país – isto não significa que havia mais manifestantes envolvidos, mas sim que o movimento havia se espalhado por mais partes do Egito. “A interrupção do acesso à rede e do sistema de telefonia celular no dia 28 exacerbou a inquietação em pelo menos três maneiras. O fato envolveu muitos cidadãos apolíticos que não sabiam ou não estavam interessados nos protestos; forçou a comunicação cara a cara e, consequentemente, gerou mais presença física nas ruas; e, finalmente, descentralizou a rebelião, por meio de novas táticas de comunicação híbridas, produzindo uma situação muito mais difícil de controlar e de reprimir do que uma única reunião massiva na Praça Tahrir”, explicou.

Em uma sociedade sem veículos de comunicação, surge uma “estranha escuridão”, diz ele. “Nós ficamos mais normais quando sabemos, de verdade, o que está acontecendo – e ficamos mais imprevisíveis quando não sabemos”. Com os protestos, o governo de Mubarak entrou em colapso e o político de 83 anos (que ficou 30 no poder) agora enfrenta, da cama de um hospital, acusações de corrupção e de cumplicidade no assassinato de manifestantes. Informações de Noam Cohen [The New York Times, 28/8/11].