Friday, 15 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1314

Fogos de artifício

A Veja tem o direito de fazer uma capa ginasianamente comemorativa do andamento da Ação Penal do Mensalão. Isso é opção editorial. Dá à revista feição de órgão partidário, ou melhor, de sucedâneo de partido. Pode ser um problema para os donos da revista. Não um problema legal. A liberdade de expressão, garantida no famoso artigo 5º da Constituição, é cláusula pétrea. Pode ser um problema mercadológico, associado ao desgaste de credibilidade que tais opções tendem a provocar.

Para a qualidade do jornalismo brasileiro, é problema. Não a comemoração da condenação dos réus do mensalão, que valida, na mais alta instância do Judiciário, as denúncias de que a mídia foi veículo, contra ventos e marés dos poderosos de plantão desde 2005 (Dilma Rousseff, registre-se, não externou publicamente críticas à imprensa ou ao Judiciário desde que, em 31 de outubro de 2010, foi proclamada eleita para a presidência da República).

Horizonte limitado

O que se questiona é uma certa limitação de horizontes. Uma capa assim não deveria ser reservada para acontecimentos historicamente mais relevantes? Muito concretamente, por exemplo, uma melhora sensível da qualidade da educação pública, batalha em que o país é derrotado há três décadas.

“Arquive suas ilusões, escrevinhador “ – dirá o leitor com os pés bem plantados no chão e a cabeça firme em cima do pescoço.

Está certo. O sensacionalismo, embora seja fenômeno universal (mas não onipresente) da mídia jornalística, agora mais pressionada do que nunca na disputa pela atenção pública, não dispensa a visão de curto prazo. Ao contrário: é instrumento dela.

Pode-se até sonhar que a melhora da qualidade da educação tornará o público-alvo de Veja – camadas conservadoras da classe média – menos receptivo a manifestações de espalhafato. O que tornaria dispensável uma tão colorida capa. Mas isso é pura especulação.

Omissões

Em tempo: registre-se que as reportagens a que remete a capa não adotam o tom de réveilon fora de hora, embora omitam muita coisa relevante, antes de tudo a trajetória que levou Marcos Valério à desastrada associação com o PT.

Sim, leitor atento, trata-se do que impropriamente se anda denominando “mensalão do PSDB”, que teve entre seus supostos agenciadores, é bom não esquecer, Walfrido dos Mares Guia, vice-governador de Minas Gerais eleito com Eduardo Azeredo em 1994 e duas vezes ministro (Turismo e Relações Internacionais) do presidente Lula.