A pesquisa Datafolha sobre intenção de voto para a Presidência da República, publicada pela Folha de S.Paulo no domingo (1/12), produz conclusões controversas e induz à constatação de que há uma relação entre o clima de pessimismo induzido pela imprensa e tais levantamentos de opinião. Resumidamente, o que o instituto constatou foi que a presidente Dilma Rousseff continua a recuperar sua popularidade, cujo crescimento foi interrompido após as manifestações do mês de junho. Paralelamente, afirma-se que a oposição não sabe aproveitar um suposto descontentamento geral da população.
Os dados da consulta aos eleitores (ver aqui) mostram a chefe do governo ampliando a vantagem sobre todos os candidatos lançados, mantendo a trajetória ascendente já verificada na versão anterior da pesquisa, realizada no dia 11 de outubro.
Em qualquer um dos nove cenários observados, contra o senador Aécio Neves, do PSDB, contra Marina Silva ou Eduardo Campos, possíveis candidatos do PSB, ou mesmo caso o ex-governador tucano José Serra seja lançado, a vitória seria da atual presidente. O mesmo acontece nas combinações em que se supõe uma candidatura do atual presidente do Supremo Tribunal Federal, Joaquim Barbosa.
No entanto, reportagem publicada na edição de segunda-feira (2/12) pelo Estado de S.Paulo revela que 16 dos 32 partidos rejeitariam filiar o presidente do STF para lançá-lo candidato ao governo em 2014. Segundo o jornal paulista, Joaquim Barbosa só seria bem recebido nos partidos de menor expressão, justamente aqueles que o ministro chama de “partidos de mentirinha”.
A possibilidade de a eleição presidencial ser resolvida já no primeiro turno, em favor de Dilma Rousseff, aparece em todos os cenários pesquisados pelo Datafolha, exceto no caso de Marina Silva ser apresentada como cabeça de chapa na aliança com Eduardo Campos. Ainda assim, essa é uma hipótese a ser mais bem analisada, em função do contexto em que foram feitas as consultas, ou seja, considerando-se os efeitos da prisão de ex-dirigentes do Partido dos Trabalhadores condenados na Ação Penal 470.
O “pessimismo” da imprensa
Pesquisas de intenção de voto representam pacotes de especulações bem embaladas, e costumam servir mais aos marqueteiros de campanha do que ao eleitorado. No caso desse levantamento feito pelo Datafolha nos dias 28 e 29/11, é interessante observar a análise feita pelos diretores do instituto e ponderar suas convicções com a observação da própria imprensa.
Dizem os analistas que a presidente Dilma Rousseff termina o ano de 2013 com a popularidade em alta graças à “ineficiência da oposição”, que não teria sabido explorar um “desejo de mudança” identificado no eleitorado. Os responsáveis pela pesquisa também afirmam que a oposição não produz a estratégia adequada para se valer de um suposto “maior pessimismo quanto ao desemprego e à inflação, em patamares próximos aos verificados no início de junho, antes dos protestos”.
Para começo de conversa, é preciso questionar essa afirmação: no início de junho os números conhecidos da inflação eram os de abril, que se mantiveram em torno de 6,5% até o fim de maio. Em outubro passado, a inflação era de pouco mais do que 5,8%, e nA segunda-feira os analistas reduzem a expectativa inflacionária para 2013.
Além disso, não há cenário pessimista quanto ao desemprego, ao contrário: considerados os aspectos demográficos, com grande número de famílias que preferem ver seus jovens buscando maior escolaridade, há especialistas afirmando que o Brasil vive em situação de pleno emprego há pelo menos dois anos. A própria imprensa tem registrado que o financiamento da educação cresce entre os itens de consumo das famílias (ver aqui), priorizando-se o estudo em vez do emprego.
Ora, quais seriam, então, os sinais de “um maior pessimismo quanto ao desemprego e à inflação” detectados pelos diretores do Datafolha, que os estrategistas da oposição supostamente deveriam explorar?
Na segunda-feira (2/12), os sites especializados e alguns informativos da chamada mídia tradicional informam que os economistas do mercado “baixaram novamente” as expectativas para a inflação deste ano, ao mesmo tempo em que ajustaram para cima as previsão de crescimento da economia brasileira, de acordo com o relatório de mercado do Banco Central (ver aqui reportagem do G1, do grupo Globo).
A conclusão é a seguinte: a imprensa inventa uma crise que não existe, e o Datafolha lamenta que a oposição não tenha aproveitado o noticiário para ganhar eleitores.