Friday, 19 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Jornalistas, para o bem e para o mal

Jornalistas são parecidos com policiais. Até se anda usando “investigativo” para adjetivar a profissão dos primeiros. Em sentido amplo, tudo bem: existe investigação policial, científica etc. Mas até muito recentemente essa tradução meia-boca de “investigative” não tinha curso no vernáculo. O que se sabia muito bem é que “investigador” é uma das categorias funcionais da polícia.

Goste-se ou não da polícia, na hora do aperto é inevitável recorrer a ela. Não apenas quando se é vítima de agressão, furto, fraude, ameaça. Existem situações que só podem ser enfrentadas por quem tem treinamento profissional, sangue frio e estômago forte. Quando há, por exemplo, um assassinato sanguinolento, a sociedade precisa tomar conhecimento dos fatos, começando pela cena do crime. Quem entra no local? A polícia, eventualmente a saúde pública.

Se o dever de tomar conhecimento cru dos fatos fosse atribuído a qualquer cidadão, teríamos uma sucessão de catástrofes existenciais e/ou psicológicas. A organização da vida social correria sérios riscos. E a justiça, que hoje no Brasil é tão pouco reverenciada, seria simplesmente execrada, devido à quantidade de loucuras que seriam levadas ao exame dos juízes, com o previsível desdobramento em outras tantas loucuras dos mesmos juízes, ou do júri.

Goste-se ou não de jornalistas (eu gosto, é claro; ninguém é perfeito…), também eles são frequentemente insubstituíveis.

A baixaria

Nas capas dos jornais de quarta-feira (15/10) foram publicadas fotos dos dois candidatos à presidência da República em debate na Rede Bandeirantes. As manchetes foram: “Aécio chama Dilma de leviana e é acusado de nepotismo” (O Globo); “Aécio fala em ‘mar de lama’ e Dilma ataca gestão de rival” (O Estado de S. Paulo); “Troca de acusações entre Aécio e Dilma domina debate na TV” (Folha de S. Paulo).

As fotos abaixo mostram toda a ferocidade com que os dois candidatos amestrados por marqueteiros (ou por suas próprias convicções a respeito do que impressiona favoravelmente o público) se enfrentaram:

 

Essas fotos e manchetes podem solidificar a decisão dos cidadãos que não têm mais estômago para assistir a debates dessa natureza e, ao mesmo tempo, continuam interessados, interessadíssimos na vida política nacional e, em particular, no processo eleitoral.

Quem se ocupará da tarefa ingrata de acompanhar tudo e extrair alguma possível conclusão? Elementar, meu caro leitor: o jornalista.

E quem poderá dar a medida da indignação dessa parte do público que não consegue ver na pugna um processo compatível com o chamado “avanço da democracia”? O comentarista. Que pode usar palavras ou palavras & imagens. Neste caso, o jornal cumpre a tarefa cívica de dizer que os reis estão nus.

E quem poderá lembrar que a mídia jornalística é o maior picadeiro da baixaria eleitoral? Você, leitor democrata do Observatório da Imprensa