Thursday, 21 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

‘Guardian’ publica semanário produzido com ajuda de algoritmos

O Guardian começou a publicar, em novembro, um jornal produzido com a ajuda de robôs. Não, o prestigiado jornal britânico não encerrou sua redação e demitiu todos os jornalistas humanos. O jornal em questão é um semanário batizado de The Long Good Read, produto de uma parceria com uma empresa que faz jornais customizados em pequena tiragem, a Newspaper Club, e que traz uma compilação dos melhores artigos longos publicados no Guardian nos sete dias anteriores.

Os textos são selecionados e distribuídos nas páginas com a ajuda de algoritmos. A Newspaper Club imprime um número pequeno de cópias – cerca de 500 – que são distribuídas nas manhãs de segunda-feira em um café com a marca Guardian no leste de Londres. O #guardiancoffee é outro experimento do diário: fica na região onde estão estabelecidas empresas de tecnologia e web e tem como propósito a interação entre pessoas desta comunidade, como parte de seu projeto de “jornalismo aberto”.

O jornal em formato tabloide é feito por programas que, com base em algoritmos, escolhem que artigos serão publicados e qual sua disposição nas páginas. A jornalista de tecnologia Jemima Kiss, do Guardian, diz que o Long Good Read é uma nova tentativa de dar sobrevida às matérias além do dia em que elas são originalmente publicadas. “É apenas um jeito de reutilizar aquele conteúdo de uma forma mais criativa e não se prender tanto ao fato de que é um jornal”, resume ela.

Seleção e diagramação

O projeto teve inicío há alguns anos como um experimento digital coordenado pelo ex-desenvolvedor do Guardian Dan Catt. A ideia dele era selecionar o conteúdo de destaque do diário e artigos longos e colocá-los em um formato adequado para feeds RSS; algo que as pessoas pudessem ler mais tarde, ou dali a alguns dias, quando tivessem mais tempo para dedicar à leitura.

Catt então construiu um algoritmo que escaneia a API (Interface de Programação de Aplicativos) do Guardian, dando preferência a artigos a partir de determinado tamanho e deixando de lado posts de blogs e conteúdo multimídia. O objetivo, segundo o site do jornal, é que o “robô” chegue a uma seleção de artigos “bons, interessantes, às vezes engraçados, às vezes longos”. A seleção tem cerca de 30 artigos principais, o que representa 1% dos artigos publicados originalmente pelo Guardian. Com base nesta seleção inicial, um editor escolhe que textos devem ir para o jornal antes de entregá-los a outro “robô” – neste caso, um programa da Newspaper Club que determina o layout das páginas.

Jornalismo experimental

O Guardian planeja produzir o jornal por um tempo limitado antes de decidir se quer dar continuidade ao projeto. No momento, ele casa bem com o café, que tem como objetivo ser um local diferente para se ter acesso a notícias e trocar ideias. Segundo Jemima, as duas iniciativas se encaixam na missão do Guardian de fazer um jornalismo aberto e interagir com o público. “Não se trata de uma nova fonte de receita – é muito mais experimental do que isso”, diz ela.

Em artigo no Nieman Journalism Lab, o jornalista Justin Ellis questiona se, para uma empresa jornalística que investiu pesado na expansão digital global, um projeto com base no jornal de papel não seria um passo para trás. Jemima diz que o impresso, como outras tecnologias, tem suas vantagens e desvantagens. O que o Long Good Read faz é levar para o impresso funções que são vistas, hoje em dia, como mais ligadas ao meio digital, como customização e curadoria de conteúdo. O importante, afirma a jornalista, é dar às pessoas o máximo possível de opções de leitura. “Não é o meio que está com problemas, é o modelo de negócios”.