Friday, 19 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Veja, Cachoeira e CQC

 

A imprensa sempre foi apontada pela sociedade brasileira como instituição mais confiável que o próprio governo ou a igreja, por exemplo. Agora, com o episódio Veja-Cachoeira e, principalmente, com o silêncio da Folha de S.Paulo e da Globo sobre o assunto, pairam graves suspeitas de que a República foi solapada pelo “Quarto Poder”, na mão dos jornalistas. Para agravar essa sensação, muito debatida na faculdade e nos sites livres, há a denúncia de que o programa CQC montou e editou as respostas da psicóloga entrevistada sobre cura de homossexuais. Qual a finalidade? A depender da abordagem do tema, gera-se conturbação social, hostilidades recíprocas desnecessárias. Pior. Pode gerar graves consequências na vida profissional da entrevistada, na mira do Conselho profissional. O que está havendo com a imprensa brasileira? Omissão de fatos e produção de factoides, ambos gravíssimos? (Denilson Souza, técnico judiciário, Brasília, DF)

 

A Justiça não tarda… para quem tem dinheiro

Assistir à imprensa noticiar com grande euforia que um artista, ainda mais global, foi vítima de crime virtual é a mesma coisa que acompanhar o final de uma novela: todo mundo descobre, rapidamente, quem é vítima e quem é culpado. O mais triste é ver que a Justiça brasileira é muito ágil – quando quer e para quem quer. O advogado Antonio Carlos Almeida Castro declarou, em entrevista à Folha de S.Paulo, que logo que Carolina Dieckmann, sua cliente, recebeu chantagens para que as fotos não fossem publicadas, ela tomou providências junto a pessoas da área de segurança que ela conhece… Que pessoas? Delegados, juízes, secretários de segurança pública?

Não precisamos de detalhes, pois nota-se com clareza que a Justiça funciona muito mais rápida para que aqueles que têm alguma influência patrimonial ou social. Nota-se também que a Justiça trabalha com grande eficácia quando está pressionada. Rapidamente, em menos de 15 dias, localizaram e já indiciaram quatro suspeitos do crime. Isso por que o Brasil não tem uma lei clara e objetiva para tratar dos crimes virtuais – sempre permitindo diversas interpretações. Mas, tratando-se de um caso amplamente repercutido pela mídia e envolvendo uma pessoa pública – atriz e famosa – percebe-se com clareza tamanha dedicação de todos os setores públicos, desde policiais e delegados até a última instância…

E onde ficam os inúmeros casos de pessoas que sofrem crimes virtuais muito mais sérios e estão esperando uma solução até hoje? Pessoas que não têm recursos para contratar um bom advogado, que não têm “amigos” influentes na sociedade, que são roubadas, difamadas e agredidas na internet, e que acabam por ver os criminosos zombarem e comemorarem livremente pelas ruas que nada lhes foi feito… É orgulhoso ver que a Justiça brasileira funciona, sim. Mas é vergonhoso ver mais uma vez que ela só funciona para quem ela quer. (Hans Misfeldt é jornalista e empresário em São Paulo)