A Bolsa de Valores do Brasil registrou oscilação positiva nos últimos dias desta semana, em parte por conta de especulações sobre uma possível queda no índice de intenções de voto na presidente Dilma Rousseff. Quem acompanha o movimento do mercado através dos portais de investimento sabe que o ânimo dos negociadores pode ser alterado por pesquisas eleitorais: o evento mais significativo deste ano ocorreu no dia 19 de abril, quando o instituto MDA divulgou a consulta encomendada pela Confederação Nacional do Transporte, na qual as chances da presidente teriam caído, naquela ocasião, de 43% para 37% dos eleitores. Naquele período, o fato mereceu manchetes de absolutamente todos os grandes jornais.
De lá para cá, pequenas mudanças ocorridas nas probabilidades eleitorais ganharam destaque no noticiário, principalmente quando registraram um aumento, ainda que leve, das chances de sucesso do principal candidato da oposição, o senador mineiro Aécio Neves (PSDB). Por isso, chama atenção o comportamento da imprensa na sexta-feira (20/6), quando o Ibope publica o resultado da pesquisa realizada entre os dias 13 e 15, logo após o início da Copa do Mundo.
O leitor procura uma reportagem sobre o assunto nas primeiras páginas e fica frustrado, principalmente porque, na véspera, alguns comentaristas haviam observado um movimento ascendente no mercado de ações, com a expectativa de nova sondagem desfavorável à reeleição de Dilma Rousseff. Mas não há manchetes sobre a pesquisa do Ibope: o único jornal que traz a informação na primeira página é o Estado de S.Paulo, num pequeno texto de apenas seis linhas. A Folha de S. Paulo e o Globo omitiram a informação em suas capas e o jornal carioca praticamente escondeu os índices numa página interna, sem gráficos nem as costumeiras análises.
E o que dizem, afinal, os números do Ibope?
Os números apontam uma recuperação da vantagem da atual presidente, com seus dois principais adversários caindo exatamente 3 pontos porcentuais cada um. Mas o mais interessante – e que a Folha e o Globo omitem – é que o teto potencial de votos na atual presidente da República subiu para 51%, o que indica que o efeito do intenso noticiário negativo pode estar se reduzindo.
Fora do contexto
As análises publicadas pelos jornais apresentam uma meia-verdade e uma mentirinha. A meia-verdade está presente na afirmação da Folha e do Globo, que escolhem destacar uma suposta queda na avaliação positiva do governo. Os analistas sabem que não é boa prática avaliar esse item apenas na resposta direta à questão específica. Como o contexto da pergunta é absolutamente desfavorável à presidente por conta do intenso noticiário negativo, é preciso analisar o número de eleitores que consideram o governo “ruim ou péssimo” – e esse índice não se alterou, permanecendo em 31%.
Sob um clima adverso, é preciso levar em conta que boa parte das respostas que afirmam considerar “regular” ou “razoável” a situação – sempre associada majoritariamente a quem está no poder – é influenciada pelo estado de espírito criado na mídia. Assim, boa parte dos eleitores que apontaram o governo como “regular” está dando uma resposta positiva, mais próxima de “bom” do que de “ruim ou péssimo”. Portanto, essa meia-verdade tem o tamanho de uma grande mentira.
O Estado de S. Paulo, afirma que “Copa não altera cenário presidencial”. Trata-se de uma mentirinha, pois os números indicam, sim, uma mudança na tendência das pesquisas anteriores, porque, como ensinava o mestre Edmundo Eboli Bonini, emérito professor de Estatística recentemente falecido, nenhuma pesquisa deve ignorar o contexto em que é feita a coleta de dados.
Como se sabe, quando o Ibope saiu às ruas, a imagem da presidente da República estava abalada pela vaia e os xingamentos dirigidos a ela por parte da plateia presente ao jogo inaugural da Copa. O que também pode mexer com a população é o contraponto entre a festa do esporte e eventuais ondas de violência.
Então, convém anotar que, no dia da importante partida entre Uruguai e Inglaterra, em São Paulo, as autoridades paulistas deixaram os “Black Bloc” à vontade para promover depredações na cidade. Mas o mais interessante é observar o comportamento da mídia no momento fotografado pelo Ibope: se os jornais escondem uma informação, é porque ela contraria seus interesses.
Uma mentirinha e uma meia-verdade não são suficientes para esconder esse fato.