Wednesday, 04 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1316

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Efêmero sugere o transitório (do grego ephemeris, idos), mas efemérides, paradoxalmente, evocam a continuidade, registram a cronologia, armam a memória.


As vanguardas desprezam-nas, os iconoclastas torcem o nariz e os historiadores preocupam-se mais com os processos do que com tempos e pessoas. Bobagem: as pessoas são os agentes dos processos.


Efemérides, assim como obituários e perfis biográficos, são ferramentas jornalísticas. Transformam a imprensa numa sala de aula, periódica, constante. Enfim, útil.


Janeiro começou com a efeméride elementar, os 2005 anos da chamada Era Comum. Seguiu-se outra, literária, os 400 anos de publicação do D. Quixote, depois mais uma, horrorosa, os 60 anos de libertação do campo de Auschwitz, e termina com o centenário da morte de Rafael Bordalo Pinheiro, o patriarca da sátira gráfica luso-brasileira – inventor do ‘Zé Povinho’ do lado de lá que aqui seria o ‘João-Ninguém’.


Em março (24) teremos o centenário da morte de Jules Verne, o criador da ficção-científica. Até setembro serão lembrados os 100 anos dos cinco trabalhos de Física produzidos por Albert Einstein.


Em maio, transcorre o tricentenário de nascimento do carioca-lisboeta Antônio José da Silva, que entrou para a história graças ao torniquete da Inquisição e a alcunha. No mesmo dia (8) serão lembrados os 60 anos do fim da Segunda Guerra Mundial na Europa. Em agosto, os 60 anos da Era Atômica. Em outubro, as seis décadas do fim do Estado Novo.


Todo dia é aniversário de alguma coisa, todo aniversário é uma maneira de prestar atenção à passagem do tempo. Todos os tempos são importantes, sobretudo quando entrelaçados.


Efemérides não se distinguem, mesmo as tristes ou melancólicas – todas servem para juntar, reviver, rever, reencontrar. A pauta, ao que consta introduzida no jornalismo brasileiro por Armando Nogueira, no Jornal do Brasil, é um álbum de recortes, agenda (do latim agere, agir), organização de ações, lembretes.


Lembrar: além de trazer à memória, serve para notar, anotar, alvitrar, sugerir.


Efemérides ajudam até a esquecer.