Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Muito leitor, pouca receita

 

A notícia é apresentada pela Folha de S. Paulo de quarta-feira (5/9), em tom triunfalista: “Nunca as pessoas leram tanto jornal no mundo”, diz o texto. E explica: impulsionada pela leitura em novas plataformas digitais, como tablets e smartphones, a circulação global dos jornais aumentou 1,1% em 2011”.

A informação, retirada do relatório anual “Tendências da Imprensa Global”, publicado pela associação mundial de jornais, conta apenas metade da história: de fato, a leitura de material jornalístico aumentou globalmente em relação a 2010, mas apenas por causa do interesse crescente de informações por parte das populações da Ásia, Norte da África e Oriente Médio.

Na América Latina, a circulação de jornais caiu 3,3%, na Europa diminuiu 3,4% e na América do Norte, a queda foi de 4,3%. Nos últimos nove anos, período em que a região consolidou sua posição de maior destaque na economia mundial, a Ásia viu aumentar em 16% a circulação de jornais, tornando-se responsável por um terço da tiragem mundial, enquanto a imprensa da Europa Ocidental e da América do Norte apresentava uma perda de 17% em seu público.

No âmbito global, a leitura cresceu tanto sobre a base tradicional de papel quanto nas novas plataformas digitais móveis.

Redes sociais

Em todo o mundo, mais de 2,5 bilhões de pessoas leem jornais de papel pelo menos uma vez por semana e 600 milhões acessam notícias online. Desses leitores via internet, 500 milhões combinam a leitura no papel com o acesso aos meios digitais, e 100 milhões leem os jornais apenas na versão digital.

As contas indicam que mais de 40% da audiência global da internet se dirige para o conteúdo jornalístico online, o que representa um aumento de 34% sobre os números da pesquisa anterior, referente a 2010. No entanto, essa audiência tem pouca intensidade e frequência: nos Estados Unidos, por exemplo, cerca de 7 entre 10 internautas acessam conteúdos jornalísticos, mas apenas 17% deles o fazem habitualmente, ou seja, todos os dias.

Essa falta de intensidade reduz o valor dos sites jornalísticos como mídia, o que impede o aumento da receita com publicidade, na avaliação do presidente da associação mundial de jornais.

Os números apresentados pelo estudo induzem a algumas considerações: uma delas é o fato preocupante de que a maior parte dos resultados financeiros das empresas jornalísticas continua dependendo das edições impressas, sendo que a venda de jornais responde por cerca de metade dos lucros. Outra observação é que a receita de publicidade dos jornais continua caindo sem parar desde 2007.

Como a publicidade online global cresceu nesse período, de US$ 42 bilhões em 2007 para US$ 76 bilhões em 2011, pode-se concluir que as empresas jornalísticas estão perdendo essa oportunidade. De fato, segundo o relatório, apenas 2,2% da receita de publicidade dos jornais em 2011 veio das plataformas digitais.

O conjunto de números mostra uma tendência muito clara: o leitor é móvel, crítico e conta com muito mais alternativas para se informar. Faltam estudos que comprovem outras suposições, como a de que os usuários de aparelhos móveis de comunicação com acesso à internet buscam informações mais específicas ao mesmo tempo em que procuram participar dos chamados “hipes”, ou temas quentes de cada dia. No entanto, para opinar sobre determinados assuntos que demandam mensagens curtas, a tendência é que os usuários desses aparelhos optem por utilizar as redes sociais digitais, dispensando a passagem pelos portais jornalísticos.

Perigoso paradoxo

Esse cenário tende a se consolidar, a se considerar o movimento que se produziu apenas três anos após o lançamento do i-Pad. Segundo o relatório da associação mundial de jornais, nesse período os novos aparelhos tipo tablet ou smartphone se transformaram em plataforma básica de comunicação.

A pesquisa constatou que 6 em cada 10 usuários de tablets abandonaram as outras formas de acesso a conteúdo informativo. Mais da metade desses usuários afirma que costuma acessar notícias diariamente, e 30% declaram que passaram a dedicar mais tempo a conteúdo jornalístico depois de adquirir o aparelho.

Se a tecnologia oferece essa janela de oportunidade para as empresas jornalísticas atenderem essa demanda por informação, qual seria o motivo das dificuldades em monetizar essa audiência?

Talvez seja o caso de se repensar o modelo de negócio. Ou começar a desconfiar que a qualidade do jornalismo oferecido ao público não tem as características que esse público exige.