Friday, 29 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

O Estado de S. Paulo

VENEZUELA
Roberto Lameirinhas

SIP inicia encontro sob tensão em Caracas

‘A Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP, pelas iniciais em espanhol) instalou ontem, em Caracas, uma de suas mais tensas sessões dos últimos anos. A reunião semestral da entidade, que reúne representantes de jornais e revistas de todo o continente, esteve ameaçada por falta de local para abrigá-la.

´Como sempre fazemos, entramos em contato no ano passado com vários hotéis para servir de sede para o encontro´, afirmou ao Estado o presidente da Comissão de Liberdade de Imprensa e Informação da SIP, o guatemalteco Gonzalo Marroquín. ´Inicialmente, eles se mostraram dispostos a receber o encontro. Mas, depois do referendo de 2 de dezembro (que rejeitou uma proposta de reforma constitucional que ampliaria o poder do presidente venezuelano, Hugo Chávez), quase todos esses hotéis passaram a alegar não ter capacidade para abrigar o evento.`

O jornalista acrescentou que prefere não fazer nenhum julgamento precipitado sobre se esses hotéis foram obrigados a ceder a eventuais pressões nem de onde elas teriam partido. ´Não sabemos o que ocorreu exatamente, mas o problema é que o atual clima político da Venezuela intimida a sociedade venezuelana´, assinalou Marroquín.

BLITZ

Coincidência ou não, o Hotel Caracas Palace, que aceitou a tarefa de hospedar a reunião, foi alvo de uma blitz do Seniat – o equivalente venezuelano da Receita Federal brasileira -, em dezembro. Na entrada principal, o hotel é obrigado por lei a manter um cartaz do Seniat que o identifica, em letras garrafais, como ´estabelecimento infrator´.

Em resposta ao encontro da SIP, o Ministério de Comunicação e Informação da Venezuela organizou às pressas seu próprio fórum de jornalistas, o Encontro Latino-Americano contra o Terrorismo Midiático – realizado no Centro Rômulo Gallegos, que fica a apenas duas quadras do Caracas Palace. A reunião pró-chavismo começou na quinta-feira, um dia antes do evento da SIP. Os dois encontros se estendem até amanhã.

Numa ação que pode acirrar os ânimos, os participantes da reunião alternativa realizam hoje um ato político de protesto contra a SIP na frente do Caracas Palace. ´Parece-me uma ação exagerada e provocativa por parte do governo´, afirmou o venezuelano Miguel Otero, diretor do jornal de Caracas El Nacional. ´Não consigo imaginar o que jornalistas cubanos (que participam do encontro sobre ?terrorismo midiático?), de um país onde há um único jornal, uma única linha de pensamento e centenas de jornalistas foram executados pelo regime nos primeiros anos da revolução, têm a dizer sobre liberdade de imprensa.`

´Estamos promovendo esta reunião em Caracas como promovemos encontros em qualquer cidade do continente´, declarou ao Estado o presidente da SIP, o americano Earl Maucker. ´Não há nenhum sentido de provocação ao presidente Chávez, que continua convidado a comparecer ao fórum, conversar conosco e divulgar seus pontos de vista. Estamos aqui para verificar a situação da liberdade de expressão, não só da Venezuela, mas de todo o continente.´’

 

CORÃO
O Estado de S. Paulo

Mundo islâmico condena filme de radical holandês

‘Vários países e grupos muçulmanos criticaram ontem o filme Fitna, do deputado ultradireitista holandês Geert Wilders, que chama o Islã de ´fascista´. Em meio à polêmica, o deputado antiimigração decidiu colocar seu filme de 15 minutos na internet, após emissoras de TV se recusarem a divulgá-lo.

´O filme tem apenas o objetivo de incitar à intolerância e provocar tensão entre pessoas de diferentes religiões, além de pôr em risco a paz e estabilidade mundial´, afirmou a Organização da Conferência Islâmica, que reúne 57 países. Os governos da Indonésia, do Paquistão, da Jordânia e do Irã também criticaram o filme.

O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, afirmou que Fitna é ´ofensivamente antiislâmico´, acrescentando: ´Não há justificativa para discurso de ódio.´

´Fitna` é uma palavra árabe que pode ser traduzida como conflito ou divisão e geralmente é usada como referência a uma guerra civil no Islã. O filme mistura trechos do Alcorão com imagens de atentados, entre eles o da Al-Qaeda em 11 de setembro de 2001 nos EUA. Em recente entrevista, Wilders disse que ´Fitna é o último alerta para o mundo ocidental. A luta pela liberdade apenas começou.`

Ontem, associações muçulmanas na Holanda pediram que sua comunidade (6% da população) mantenha a calma, tentando evitar confrontos como os de 2004 – quando um extremista islâmico matou o cineasta holandês Theo Van Gogh (que criticara num filme o tratamento das mulheres no Islã) e distúrbios se espalharam pelo país. Apesar da preocupação das associações e do governo, não houve manifestações violentas ontem. Wilders vive desde 2004 sob forte proteção policial, por ter recebido ameaças de morte após o assassinato de Van Gogh.

Ontem, o Sindicato dos Jornalistas Dinamarqueses anunciou que entrará com um processo contra Wilders por uso indevido de uma caricatura do desenhista Kurt Westergaard em seu filme. O desenho de Westergaard, que mostra o profeta Maomé com uma bomba no turbante, e outras caricaturas sobre o Islã desencadearam uma série de protestos violentos em 2006 na Dinamarca.’

 

TELES
Irany Tereza e Nilson Brandão Junior

Oi e BrT fecham acordo da supertele

‘Os controladores das operadoras Oi e Brasil Telecom assinam esta semana o acordo de compra e venda, no valor de R$ 4,850 bilhões, que dará início à formação da ´supertele` nacional. O documento será enviado à Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) e ficará condicionado à mudança do Plano Geral de Outorgas (PGO), que não permite fusões e incorporações de empresas de telefonia fixa em áreas diferentes. O processo de análise levará, pelo menos, seis meses. Até lá, Oi e BrT continuarão atuando de forma independente, como se nenhum acordo tivesse de fato ocorrido.

Confirmações do acordo, por fontes que acompanharam as negociações, fizeram as ações das empresas disparar ontem na Bovespa. Os papéis preferenciais (PN) da BrT subiram 8,52% e os da Oi PN, 6,06%, num dia em que a bolsa caiu 0,5%. Todas as outras ações das operadoras também tiveram fortes altas. A Comissão de Valores Mobiliários (CVM), que fiscaliza o mercado de ações, pediu esclarecimentos às empresas, mas somente após o fechamento do pregão a Oi divulgou comunicado negando que a compra da BrT tivesse sido fechada. À noite, representantes dos sócios continuavam reunidos acertando detalhes do acordo final.

A formalização da compra, prevista para o início desta semana, só pôde ser iniciada depois que os sócios Citigroup e Opportunity chegaram a um consenso, ainda verbal, que deve ter a papelada assinada ainda neste fim de semana. Diante da ameaça dos fundos de pensão Previ (Banco do Brasil), Petros (Petrobrás) e Funcef (Caixa) – também acionistas nas duas companhias – de desistirem de todo o processo caso não fosse colocado ponto final na disputa judicial que se arrasta há mais de oito anos, os dois principais litigantes concordaram com o fim de todos os processos, no Brasil e no exterior. E assinarão compromisso de não entrar com nenhuma nova ação.

Oi e Brasil Telecom já têm uma ´interseção societária´, resultado dos desdobramentos de uma privatização imperfeita: os fundos de pensão estatais participam das duas empresas. Por imposição da Anatel, tiveram de optar pelo controle de apenas uma delas e escolheram a Oi. O Opportunity, de Daniel Dantas, que era o gestor das participações dos fundos e também dos investidores do Citi nas operadoras, também participa nas duas pontas.

Na segunda-feira, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) – que tem 25% no Grupo Oi – convocará a diretoria para discutir a questão. O banco participará apenas da primeira etapa do acordo: a reestruturação da Oi. E vai encolher sua fatia para 16,5%. Paralelamente, financiará os sócios Andrade Gutierrez e La Fonte (Carlos Jereissati), com cerca de R$ 1,5 bilhão, para compra das participações do GP Investimentos e do Opportunity, que deixam definitivamente a Oi.’

 

Nilson Brandão Junior e Irany Tereza

Andrade e Jereissati vão se tornar os maiores empresários do setor no País

‘Os grandes ganhadores do meganegócio nas telecomunicações são os empresários Sergio Andrade, da Andrade Gutierrez, e Carlos Jereissati, do Grupo La Fonte. Eles estão a caminho de se tornar os maiores empresários no setor de telecomunicações e controlar a quarta maior empresa do País. Também ocuparão a terceira colocação entre os investidores em telefonia na América Latina – atrás da Telefónica, da Espanha, e do mexicano Carlos Slim.

Isso não quer dizer, contudo, que os demais sócios perderam. Depois de anos de briga e de várias tentativas de se desfazer o nó entre os sócios da Telemar, Citigroup e a GP Participações deixam o setor, como pretendiam.

Daniel Dantas, do banco Opportunity, que lutou durante anos para ficar no controle da empresa, também sai, mas fica livre dos processos na Justiça e recebe um pagamento de mais de R$ 1 bilhão por sua participação – e dos cotistas de seus fundos – na BrT e na Oi.

Todos os processos em curso serão anulados. As partes também se comprometeram a não entrar na Justiça para resolver disputas antigas na Brt e na Oi. Com isso, Dantas se livra de um processo de US$ 300 milhões movido pelo Citi nos Estados Unidos. E abre mão de mover processos contra o banco americano por causa das teles.

Essa era a última condição que faltava para se fechar negócio. Dantas resistiu até o último momento porque queria pedir uma indenização ao Citi pelas acusações públicas nas disputas pelo controle da Brasil Telecom. Mas acabou abrindo mão das ações contra o Citi depois de ser pressionado pelos fundos de pensão, que ameaçaram desistir de todo o negócio.

PODER

Empresários dos ramos de construção civil e de shopping centers, respectivamente, Andrade e Jereissati vão se tornar os controladores da quarta maior empresa brasileira em receita, atrás apenas da Petrobrás, Vale e Gerdau, conforme levantamento da consultoria Economática.

Segundo fontes ligadas às empresas, Andrade e Jereissati teriam menos de 5% do capital total da Oi depois da compra da BrT. Embora tenham uma participação relativamente pequena no capital total da empresa, os dois empresários dominam o bloco de acionistas que controla a empresa e passam a ter muito mais poder econômico e influência política no País.

As conversas para a reestruturação acionária da Oi e para a aquisição da BrT foram cercadas, desde o início, por divergências, segundo fontes que acompanharam o negócio. Durante algum tempo, imaginou-se que o empresário Sérgio Andrade nutria ambições de comandar a reestruturação sozinho, opondo-se a Jereissatti, parceiro de longa data dos fundos de pensão, com os quais estaria alinhado, numa espécie de cabo-de-guerra. Essa versão levava em conta que os fundos teriam dificuldade de aceitar o modelo porque iriam diluir posição numa empresa maior.

Com a bênção do governo, contudo, Andrade e Jereissati, que operam com estilos diferentes, avançaram juntos na empreitada. Jereissati é considerado um empresário mais explosivo. Andrade, mais introspectivo e cauteloso, move-se de maneira discreta no mundo empresarial. Seu grupo foi um dos maiores doadores individuais da candidatura de Lula à Presidência. Não faltaram rumores, na reta final das negociações, de que o negócio interessava mais aos dois grupos do que aos próprios fundos de pensão, que acabaram aderindo.

Na prática, contudo, fundos de pensão e o Citigroup já haviam feito um acordo, há pelo menos três anos, para viabilizar suas saídas da Brasil Telecom, o que aconteceria via uma pulverização de ações ou venda das fatias acionárias. O GP também vinha indicando que já havia ficado muito tempo dentro da BrT e queria dar liquidez ao seu investimento. A maior resistência ao negócio acabou ficando por conta das disputas entre o Citi e Daniel Dantas.

Embora evite falar sobre o assunto, as informações são que Dantas teria querido inicialmente vender apenas suas participações na BrT e permanecer na Oi, mas teria recebido indicações de que desse jeito o negócio não sairia. Acabou convencido da saída.

O salto de Jereissati e Andrade a partir da compra da BrT pela Oi é grande, mas a empresa ainda será relativamente pequena comparada aos grandes que atuam na América Latina e no mundo. Somadas as receitas líquidas, Oi/BrT movimentam US$ 16,2 bilhões, bem menos do que os espanhóis da Telefónica na região (US$ 29,5 bilhões) e que o grupo do empresário mexicano Carlos Slim (US$ 46,8 bilhões). A distância é ainda maior quando comparado aos faturamentos das americanas AT&T (US$ 119 bilhões) e Verizon (US$ 93,5 bilhões).’

 

Operação pode ter um valor final de R$ 8,5 bilhões

‘Duas versões corriam ontem sobre os valores do mais importante negócio do setor de telecomunicações brasileiro dos últimos anos. Na primeira, o valor líquido de compra do controle da Brasil Telecom seria de R$ 4,4 bilhões, dos quais caberiam ao Opportunity R$ 1,1 bilhão; ao Citigroup, R$ 1,5 bilhão; ao Fundo Fia (fundos de pensão), R$ 1,1 bilhão, e diretamente à Previ, R$ 700 milhões.

A segunda versão dava conta de um total de R$ 4,850 bilhões pelo controle da BrT, sendo 40% dos fundos de pensão (R$ 1,940 bilhão); 40% ao Citi (R$ 1,940 bilhão) e os 20% restantes ao Opportunity (R$ 970 milhões). Circularam também informações de bastidores de que o Citi levaria, por sua participação na Oi, R$ 250 milhões, o Opportunity, R$ 260 milhões, e o GP Investimentos, R$ 700 milhões. Seja qual for a conta, os compradores da Oi terão, mais tarde, de estender a oferta aos acionistas minoritários. O negócio é avaliado pelo mercado no valor total de R$ 8,5 bilhões, sendo em torno de R$ 3,7 bilhões para os minoritários.

A Oi tem um caixa atual em torno de R$ 6,7 bilhões e capacidade de levantar financiamento. Já foram feitas consultas a bancos, que deram sinal positivo prévio para a tomada de recursos. Essa dívida será paga, no futuro, com o lançamento de debêntures. Como resultado, a BrT passará a ser controlada pela Oi e, indiretamente, pela sua holding, a Tmarpart.

No acordo, foi instituída também uma espécie de multa, caso o negócio não se concretize, mesmo que por questões alheias à vontade dos sócios – como, por exemplo, se a mudança na legislação não se efetivar. A indenização terá de ser paga pelo comprador – no caso, a Oi – à empresa que permanecerá sob a perspectiva de incorporação, a BrT. O valor da indenização poderá variar de R$ 100 milhões a R$ 500 milhões.

Durante o período em que permanecerem à espera da decisão da Anatel, as duas companhias poderão até adquirir empresas menores. Somente não poderão alterar a formação de seu controle acionário. Quem mais sofrerá com essa ´paralisia parcial` será a BrT, que ficará engessada operacionalmente enquanto não for decidida a sua situação.’

 

TECNOLOGIA
Steve Lohr

Velhas tecnologias resistem à chegada das novidades

‘Em 1991, Stewart Alsop, editor do InfoWorld e observador meticuloso das tendências industriais, previu que o último computador mainframe (de grande porte) sairia de linha em 1996. No mês passado, a IBM lançou a versão mais recente do seu mainframe, o velho cavalo de batalha da computação, ainda notavelmente resistente.

Atualmente, a venda de computadores de grande porte constitui uma fração minúscula do mercado de computação pessoal. Mas, com o mainframe diante da extinção, a IBM adaptou a tecnologia, reduziu os preços e reformulou a estratégia. O resultado foi que a tecnologia mainframe (hardware, software e serviços) continua sendo um grande e lucrativo negócio para a IBM, pois ainda são motores do trabalho burocrático por trás dos mercados financeiros e de boa parte do comércio global.

O computador de grande porte representa um caso exemplar na história de tecnologias e mercados sobreviventes. Apesar de seu desaparecimento estar previsto, velhas tecnologias e negócios muitas vezes encontram uma existência sustentável e lucrativa. Por exemplo, supôs-se que a televisão ia acabar com o rádio e o cinema. Uma previsão atual sinistra é que a web acabará com a mídia impressa.

Quais são as características comuns das tecnologias sobreviventes? A primeira é que existe um requisito tecnológico essencial – precisa haver alguma vantagem duradoura na tecnologia velha. Além disso, o que mais importa são as decisões das empresas de investir para reformular a tecnologia tradicional, adotando novos modelos de negócios e fomentando uma rede de apoio de clientes, parceiros e trabalhadores.

Os especialistas dizem que as previsões de desaparecimento tendem a superestimar a importância da inovação tecnológica e subestimar o papel de discernimento das empresas. ´A ascensão e queda das tecnologias têm mais a ver com as empresas do que com o determinismo tecnológico´, diz Richard S. Tedlow, historiador de negócios da Harvard Business School.

Para sobreviver, as tecnologias precisam evoluir de forma parecida com a das espécies animais. John Steele Gordon, escritor de negócios, observa que existem semelhanças entre o processo evolucionário dos mercados e o dos ecossistemas. Os dinossauros, observa, podem ter desaparecido há muito tempo, vítimas de alterações climáticas às quais os mamíferos se adaptaram melhor. Mas os pequenos répteis sobreviveram. Hoje, existem mais de 8 mil espécies de répteis e cerca de 5.400 de mamíferos.

Como tecnologia de mídia, o rádio é um sobrevivente evolucionário. Seu tempo como o principal entretenimento dos lares americanos nas décadas de 30 e 40 deu lugar à televisão.

O rádio, por sua vez, adotou formatos de programação mais curtos, tornando-se a música e a conversa de fundo enquanto as pessoas dirigiam ou faziam tarefas domésticas – ´o papel de parede audível´, como disse Paul Saffo, analista de tecnologia do Vale do Silício.

Embora a televisão tenha apresentado uma ameaça ao cinema, também serviu como um empurrão para a inovação, incluindo a tela grande e as tecnologias de cores ricas como o Cinerama e o CinemaScope. A idéia foi dar aos espectadores uma experiência mais vívida do que aquela que eles poderiam ter com a televisão.

Como as outras mídias tradicionais, hoje em dia o cinema enfrenta o desafio digital da internet. E Saffo aposta que, após um período de ajuste, eles farão mais uma adaptação para prolongar a vida. ´As tecnologias querem sobreviver e, para continuar, reinventam a si próprias´, disse ele.’

 

TAPINHA DA DISCÓRDIA
O Estado de S. Paulo

Funkeiros são condenados por ´Tapinha´

‘A equipe de som Furacão 2000 foi condenada pela Justiça Federal de Porto Alegre a pagar R$ 500 mil de indenização pelo CD Tapinha, que incluía a música Um Tapinha Não Dói. A decisão foi do juiz Adriano Vitalino dos Santos, da 7ª Vara Cível Federal, que entendeu que a música incita a violência contra a mulher. A indenização deve ser paga ao Fundo Federal em Defesa dos Direitos da Mulher.

O juiz afirmou que o ´tapa` não é ato banal e inofensivo como retratado na música, mas que ´causa dor física na vítima, além do abalo psíquico decorrente da humilhação que o gesto em si constitui´. Para ele, a ´garantia constitucional da livre manifestação do pensamento, bem como da livre expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação não pode representar salvo-conduto para a violação de outros valores constitucionais´.

´Não agredi nenhuma mulher com minha música´, defende-se MC Naldinho, autor e intérprete da canção. Ele explicou que a idéia da música surgiu num dia em que deu um ´tapinha corretivo` em sua filha Karolyne, hoje com 10 anos, mas com 3 na época. Ela retrucou: ´Pai, um tapinha não dói.` O funkeiro disse só gravou a música por insistência de um DJ que apostou no hit. Quando a canção caiu no gosto popular, disse o MC, ele se deu conta de que a interpretação era bem diferente do contexto em que a música surgiu, mas não se incomodou.

´A malícia está na cabeça das pessoas´, argumentou Rômulo Costa, dono da Furacão 2000, que pretende recorrer da sentença. Segundo ele, a sentença é moralista e um ato de censura. Na opinião de Rúbia Abs da Cruz, coordenadora da Themis Assessoria Jurídica e Estudos de Gênero, co-autora da ação, a condenação da equipe Furacão 2000 é educativa.’

 

CULTURA ÁRABE
Ubiratan Brasil

Os véus da tolerância

‘Um novo olhar da cultura árabe – é o que propõem dois livros e uma exposição que chegam a São Paulo na próxima semana. Porta do Sol, de Elias Khoury, e Setembro de Shiraz, de Dalia Sofer, além da mostra Marrocos, são trabalhos que definem tanto uma região quanto uma vida ao tratar de identidade, autenticidade e algo tão concreto quanto localização geográfica. Em meio a uma turbulenta e, aparentemente, luta sem-fim por um território, as obras defendem, de alguma forma, a tese de um único país, onde judeus e palestinos possam viver sem sectarismos. Um olhar complacente para o outro.

O tema percorre e marca profundamente o livro de Khoury, Porta do Sol, editado pela Record. Elogiado por Milton Hatoum como um dos principais autores em língua árabe contemporânea, Khoury, ao repassar a história de vida de Yunis, herói da resistência, narra a saga do povo palestino, criando um delicado monumento literário.

Em coma profundo em um campo de refugiados nas cercanias de Beirute, Yunis é socorrido pelo paramédico Khalil que, disposto a não deixar seu pai espiritual morrer, conta-lhe histórias do povo palestino. E, em vez de pregar a militância, Khoury aproveita para ver o ´outro` com complacência, admitindo seus temores e qualidades.

A força das diferenças também marca a obra de Dalia Sofer, Setembro de Shiraz, lançada pela Rocco. Fortemente inspirado em fatos pessoais, o livro mostra a radical mudança na rotina de uma família judia que vive no Irã. Até 1979, quando a revolução derrubou o xá Reza Pahlevi e cedeu o governo ao aiatolá Khomeini, os judeus mantinham uma convivência pacífica com os muçulmanos. ´Estudei em uma escola francesa em Teerã e tinha vários amigos palestinos´, conta Dalia, em entrevista ao Estado, que, com a mudança repentina de comando, foi obrigada, junto da família, a deixar o país às pressas para fugir da irracionalidade da Revolução Iraniana. É o ponto de partida para Dalia discutir intolerâncias religiosas.

Diversidade que marca a exposição Marrocos, que começa amanhã no Salão Cultural da Faap. Trata-se de um amplo painel que mostra como o país africano, ponto de encontro de várias culturas, criou uma identidade multifacetada, embora calcada no islamismo.’

 

O LIVRO
Francisco Quinteiro Pires

Uma paixão feita de conhecimento, beleza, tinta e papel

‘Na noite da última terça, a Editora da USP (Edusp) realizou uma festa para os 20 anos da sua reestruturação, considerada um segundo nascimento, o oficial. Mas o que ali se comemorava era o livro – ´uma extensão da memória e da imaginação´, na definição de Jorge Luis Borges no ensaio O Livro (1978).

Esse texto borgiano move o diretor da Edusp, Plínio Martins Filho, em momentos de desânimo. ´O livro continua sendo o suporte privilegiado do conhecimento e da expressão humana´, ele diz.

Para concretizar a teoria, a editora universitária inaugura a coleção Multiclássicos. O primeiro dos três livros é Épicos, o milésimo título da Edusp e co-edição com a Imprensa Oficial. Organizado pelo professor da USP Ivan Teixeira, Épicos (1224 págs., R$ 120) reúne as seguintes obras: Prosopopéia, de Bento Teixeira, O Uraguai, de Basílio da Gama, Caramuru, de Santa Rita Durão, Vila Rica, de Cláudio Manoel da Costa, A Confederação dos Tamoios, de Gonçalves de Magalhães, e I-Juca-Pirama, de Gonçalves Dias. Eles contam a história de um povo por meio da guerra, da viagem e da aventura.

São textos que se tornaram o repertório literário brasileiro dos séculos 16, 17, 18 e 19. Sem previsão de lançamento, o volume 2 se chamará Naturalistas, uma coletânea de romances do século 19. Ivan Teixeira explica que o volume 1 possibilita aos ´especialistas atuais fazer uma leitura nova desses textos´. Criada há 45 anos, somente em 1987 a Edusp deixou de participar apenas de co-edições para editar títulos próprios. O cabeça dessa mudança foi o crítico literário e professor João Alexandre Barbosa (1937-2006).

Apesar de alertar que não queria aborrecimentos administrativos, o crítico aceitou o convite do reitor na época, José Goldemberg. ´Expliquei que precisava de alguém para estabelecer valores, para escolher o que valia a pena ser transformado em livro´, diz Goldemberg. O resultado: 55 prêmios Jabutis, deferência concedida pelo mercado, cujas regras a Edusp procura recusar.

O bibliófilo José Mindlin, presidente do conselho editorial, lembrou o que dizia no fim dos anos 80: ´O livro de editora universitária era quase que por definição feio, mas o bonito não custava muito mais, eu falava, e vende-se melhor.` Mindlin lembra que numa paixão intensa deve existir a beleza.’

 

TELEVISÃO
Etienne Jacintho

Lost estréia no topo

‘A estréia da quarta temporada de Lost colocou o canal AXN em primeiro lugar na audiência da TV por assinatura. A série se manteve líder durante a exibição do primeiro episódio do novo ano, na segunda-feira, dia 3 de março, das 21 às 22 horas, em total de indivíduos da Pay TV. Lost segurou o primeiro lugar entre a audiência feminina e masculina, das classes A e B, de 18 a 49 anos.

Resta saber se, este ano, Lost vai desbancar a liderança conquistada por Heroes, do Universal Channel, no ano passado. Em seu primeiro e original ano, Heroes foi a série mais assistida da TV paga no Brasil.

Já a segunda temporada de Heroes foi fraca e os mutantes perderam poder. Por outro lado, Lost entrou no ar no AXN com uma da melhores temporadas desde sua estréia. Nenhum episódio exibido até hoje – o canal já apresentou os quatro primeiros capítulos – pode ser considerado ruim.

Além de ter a boa quarta temporada de Lost, o canal AXN turbinou sua programação também às terças-feiras, com a exibição de Dirty Sexy Money e Damages na seqüência, às 20 e às 21 horas. Isso sem contar a migração de CSI para o canal.’

 

 

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Folha de S. Paulo – 1

Folha de S. Paulo – 2

O Estado de S. Paulo – 1

O Estado de S. Paulo – 2

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