O governo, a imprensa e os demais partidos políticos parecem ter sido surpreendidos pela aliança da ex-ministra e ex-senadora Marina Silva com o governador de Pernambuco, Eduardo Campos. Mesmo dirigentes do PSB, partido de Campos, foram deixados de lado nas negociações que podem mudar o cenário das eleições de 2014, especialmente a disputa pela Presidência da República.
Os jornais de domingo (6/10), o noticiário que se seguiu nas versões eletrônicas da imprensa e os diários de segunda-feira (7) são férteis em interpretações dos especialistas que não souberam prever essa alternativa.
A reunião que selou o compromisso de Marina Silva e Eduardo Campos aconteceu na noite de sexta-feira. Com as redações esvaziadas no fim de semana, os jornais somente puderam publicar a história no domingo, e todos deram o assunto em manchete. No entanto, as especulações desencontradas demonstram que a imprensa não tem meios adequados para avaliar o impacto do acontecimento.
Para a maioria dos analistas, trata-se de uma “jogada de mestre”. Mas é apenas mais do mesmo: a velha disputa por siglas de aluguel, que serão pagas com verbas do Tesouro.
Articulistas afinados com os partidos de oposição apostam que o acordo, no qual a suposta candidata a vice-presidente tem 26% das intenções de voto e o provável cabeça de chapa aparece com apenas 8% nas pesquisas mais recentes, vai dividir o eleitorado e provocar um segundo turno. Entrevistados que se alinham com o governo federal entendem o contrário: que a futura chapa Campos-Silva vai desarticular a oposição. No meio do debate, registra-se que 10% dos deputados federais trocaram de partido no fim do prazo para as mudanças valerem nas eleições do ano que vem.
Ao desprezar a insistente oferta do PPS, que abriga antigos militantes do histórico Partido Comunista Brasileiro, Marina Silva produziu desafetos, mas ninguém na oposição se arrisca a condenar a única postulante com alguma chance, nesta altura do campeonato, de atrapalhar a reeleição da atual presidente no primeiro turno.
Evidentemente, tudo que se publica um ano antes da disputa eleitoral é apenas especulação, e serve para pouco mais do que entreter o leitor. Mas não deixa de ter alguma utilidade anotar o que dizem uns e outros no calor da surpresa.
As apostas estão feitas
O quadro deve mudar bastante até a primeira semana de julho do ano que vem, quando a campanha começa oficialmente. A aliança entre Marina Silva e Eduardo Campos ainda precisa ser analisada à luz das probabilidades eleitorais, que certamente serão avaliadas em uma daquelas pesquisas tão apressadas quanto imprecisas que os jornais adoram publicar.
Enquanto isso, vale a pena fazer algumas observações. Por exemplo, o fato de que alguns representantes da oposição estão se movendo para a aliança governista. O caso mais relevante é o da senadora Kátia Abreu, que em 2011 havia deixado o Democratas pelo PSD e acaba de se transferir para o PMDB. Assim, a musa dos ruralistas passa da oposição para a base do governo em dois movimentos, o que deve criar certa confusão em muitos eleitores.
Por outro lado, convém anotar que Marina Silva terá de conviver com a família Bornhausen, representante do que há de mais conservador na política nacional, e com deputado Ronaldo Caiado, um dos líderes do movimento pela desarticulação da legislação ambiental.
O PDT, com 9 defecções, e o PMDB, com 7, foram os partidos que mais perderam deputados no fechamento da janela de transferências. A maioria dos que mudaram foi para o Solidariedade, criado pelo antigo dirigente do PDT, o sindicalista Paulo Pereira, que ganhou 22 deputados, e o PROS, que se lança com 16 parlamentares devidamente reciclados. Sabe-se que o PROS nasce com o carimbo da situação, e o Solidariedade negocia as melhores ofertas.
De acordo com os jornais de segunda-feira (7/10), o governo mantém a maioria no Congresso e a melhor aposta da imprensa não está mais no depauperado Partido Democratas e no PSDB, desgastado por disputas internas.
O jogo está apenas começando. A sequência das pesquisas e as negociações por verbas e cargos deverão ditar a futura composição das forças no campo político-partidário.
É preciso ter em mente que a soma dos partidos de ocasião pode representar uma diferença significativa no tempo de exposição que cada chapa deverá ter na propaganda regulamentar no rádio e na televisão.
Ou seja: nada mudou.
Não perde quem apostar que a imprensa vai se converter rapidamente ao ambientalismo socialista. Ou ao socialismo ambientalista.