O leitor crítico e observador deve estranhar algumas reportagens publicadas nas edições de quarta-feira (23/1) do principais jornais brasileiros. Depois de semanas martelando na tecla do “pibinho” e repetindo projeções de piora no cenário econômico nacional, o Estado de S. Paulo, a Folha de S. Paulo e o Globo trazem um retrato contraditório com a tendência que vinham apontando.
“Empresário brasileiro está entre os mais otimistas”, diz a Folha de S. Paulo em chamada de primeira página, referindo-se a pesquisa feita pela consultoria PricewaterhouseCoopers (PwC) em 68 países. Segundo a reportagem, “a despeito das perspectivas pessimistas da economia, 44% dos empresários brasileiros estão confiantes no crescimento da receita das companhias”.
Também no Estadão e no Globo, a pesquisa da Price ganha espaço e rompe o ciclo de catastrofismo da imprensa. Segundo o estudo, feito por consultas a 1.330 líderes empresariais atuantes em 68 países, o otimismo dos homens de negócio no Brasil supera as expectativas dos seus consortes nas duas maiores economias do mundo, Estados Unidos e China, e fica atrás apenas de russos, indianos e mexicanos.
Mercado importante
Ao contrário do que a imprensa nacional tem induzido, na visão de quem faz grandes negócios o Brasil se encontra na condição de “crescer e acelerar”, com uma perspectiva de incrementar sua economia em média 4% ao ano entre 2013 e 2015.
O ranço predominantemente negativista do noticiário econômico no Brasil, característica ainda mais visível na própria Folha, também é parcialmente desfeito pelo principal diário especializado em economia e negócios, o Valor Econômico.
Segundo o Valor, o Índice de Confiança da Indústria, sondagem feita periodicamente pela Fundação Getulio Vargas, teve uma leve melhora, que, se confirmada, vai consolidar o maior patamar de otimismo do setor desde junho de 2011. O resultado final da pesquisa será divulgado na semana que vem, mas os primeiros números apontam para bons indicadores sobre a situação atual e o nível da capacidade instalada da indústria brasileira.
Não é a primeira vez que a realidade desmente a tendência da imprensa nacional, que costuma misturar política com economia ao avaliar os indicadores.
O estudo publicado pelos jornais na quarta-feira é divulgado anualmente pela PricewaterhouseCoopers no Fórum Econômico de Davos, na Suíça, e costuma balizar os investimentos produtivos nos anos seguintes. Na pesquisa deste ano, o Brasil aparece como o terceiro mercado mais importante para empresários de todo o mundo, atrás apenas da China e dos Estados Unidos, na questão dirigida a todos os consultados.
Questionados sobre quais seriam os três principais mercados globais para se investir nos próximos doze meses fora do país onde têm sua principal atividade, 15% dos líderes empresariais citaram o Brasil, enquanto a China foi apontada por 31% e os EUA por 23%.
Crescem os investimentos
O Globo traz ainda outra reportagem, antecipando dados do Banco Central do Brasil sobre os números do Investimento Estrangeiro Direto, apontando para um aumento no ingresso de capitais para atividades produtivas na economia brasileira. Segundo essas informações preliminares, o Brasil atraiu em 2012 um volume de recursos próximo de US$ 64 bilhões, devendo figurar entre os maiores destinos de capital para negócios em todo o mundo.
Esse tipo de investimento, que tende a permanecer no mercado por períodos de cinco a até mais de quinze anos, é um dos fatores de confiança dos empresários no desenvolvimento de um país.
Paralelamente, a Folha de S. Paulo informa que o capital estrangeiro no Brasil teve uma redução em 2012, em relação ao ano anterior. Trata-se dos mesmos números citados pelo Globo, mas a Folha prefere usar como fonte o Instituto de Finanças Internacionais em vez do Banco Central, dando um viés negativo aos mesmos indicadores.
O Globo destaca os investimentos produtivos e a Folha inclui investimentos especulativos no mercado de ações e de renda fixa, que vêm sendo alvo de controle por parte do governo, para evitar a sobrevalorização do real (ver, neste Observatório, “O preço da manipulação”).
Esse apanhado de indicadores demonstra que o noticiário econômico sofre infiltração de interesses políticos dos jornais, que parecem interessados em investir no pessimismo. Mas nem o mais talentoso editorialista ou colunista consegue driblar os fatos indefinidamente.