Saturday, 02 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1312

O vale-tudo não acaba

Independente da escolha final, qualquer um dos três candidatos que disputam a entrada no segundo turno das eleições presidenciais terá pela frente um desafio mais complicado do que um hipotético terceiro turno.

Não se trata de uma eventual contestação dos resultados, mas de algo ainda mais penoso, conturbado, talvez insuperável: rejuntar um país fragmentado pelo ressentimento, tomado pela indignação e terrivelmente assustado com os fantasmas que próprio debate eleitoral solta nas ruas.

Esta é terceira reeleição presidencial em nossa história política. Antes de 1964, o conceito de inelegibilidade era tão arraigado que mesmo os generais-presidentes durante a ditadura militar não ousavam contestá-lo. A partir da aprovação da emenda constitucional que instituiu a reeleição para cargos majoritários (1997) o processo eleitoral radicalizou-se gradativamente. Em 1998, apesar da falta de tradição, a reeleição transcorreu razoavelmente. A seguinte, com Lula buscando a confirmação no cargo, o processo foi algo mais encrespado, por conta do mensalão.

Esta tentativa de reeleição da presidente Dilma Rousseff conta com dois diferenciais, cada um mais dramático do que o outro: 1) manifestações populares em junho-julho de 2013 libertaram um fortíssimo impulso de mudança ainda insatisfeito; e, 2) pela primeira vez rompeu-se a tradicional bipolaridade PT-PSDB com a entrada em cena de um terceiro contendor (o PSB) compondo inédito triângulo de forças disputando sem escrúpulos as duas primeiras colocações.

Vírus mutante

O fogo cruzado aumentou de volume e de calibre: três concorrentes disparam mais projéteis do que apenas dois e a sua carga costuma ser mais letal de modo a obter duplo efeito.

Não há números, impossível quantificar as mentiras e imposturas proferidas nos palanques, entrevistas e debates formais. Os marqueteiros descobriram simultaneamente por força da Lei do Menor Esforço que neste tipo de confronto a única arma válida é o vale-tudo: mentira, fraude, falsidade, patranha e peçonha. Com o pretexto de descontruir o adversário mais ameaçador estabeleceu-se um modus matandi sem qualquer consideração de ordem moral.

Estamos numa jihad, empenho extremo, autêntica guerra santa, com o agravante de que pela primeira vez confrontam-se na urna representantes de confissões religiosas cristãs que há anos afiavam em silêncio suas armas e agora finalmente parecem prontas para desembainhá-las. Além disso, desta vez entraram na liça interesses político-econômicos que, diante do perigo de fecharem os guichês, serão capazes de tudo.

O vírus da violência é mutante, oportunista, transmuta-se e se espalha com enorme velocidade. Também a delinquência, com a sua formidável carga magnética e capacidade de agregação.

A solução deve ser individual: escapar das manadas.

 

Tirem a imprensa da linha de tiro

>> As gestões pessoais de Paulo Abraão, chefe da Secretaria Nacional de Justiça na Polícia Federal, para saber do andamento de um inquérito sobre a candidata Marina Silva (PSB) fazem parte desta guerra suja da qual será muito difícil sair.

O mais grave é que o gabinete do secretário informou que o motivo que o levou à Polícia Federal foi o pedido de uma “revista de circulação nacional” (ver aqui reportagem da Folha de S.Paulo). Então o segundo homem na hierarquia do Ministério da Justiça trabalha para uma revista? Qual o nome da publicação? Esta informação precisa ser complementada com clareza e urgência. Lembrem-se de IstoÉ em 2006.

>> Setores ligados aos partidos que apoiam a candidata Dilma Rousseff divulgaram a informação de que o próximo governo não poderá deixar na gaveta um reordenamento legal das empresas de mídia. Acrescentam: sem a adoção de qualquer medida que ponha em risco o conteúdo que veiculam.

Deixem o projeto na gaveta: para promover a total reorganização da nossa mídia eletrônica e desconcentrar os meios de comunicação basta cumprir o que está escrito na Constituição. Nada mais do que isso.