Promotores acusaram nesta terça (15/5) Rebekah Brooks, ex-executiva-chefe da News International, unidade de jornais britânicos da News Corporation, e mais cinco pessoas, por obstrução à justiça, na primeira acusação criminal desde que foi reaberto, em 2011, o inquérito policial sobre os grampos telefônicos no tabloide News of the World. Os seis acusados devem comparecer à corte para uma audiência preliminar no dia 13/6. O julgamento completo só será realizado daqui a meses.
Rebekah é uma das personalidades do mais alto escalão da News Corporation apanhada na saga da escuta telefônica ilegal. Ela editou o News of the World de 2000 a 2002 e o Sun de 2003 a 2009, antes de se tornar executiva-chefe da News International. Promotores também condenaram seu marido, o treinador de cavalos de corrida, Charles Brooks, que é amigo de longa data do primeiro-ministro britânico David Cameron; sua ex-secretária, Cheryl Carter; seu motorista, Paul Edwards; o chefe de segurança da News International, Mark Hanna; e o assessor de segurança da News Corporation, Daryl Jorsling. Hanna e Edwards ainda são funcionários da News International, mas foram suspensos na terça (15/5), com remuneração, enquanto esperam o resultado do caso criminal.
A ex-editora do News of the World e Sun e seu marido criticaram as acusações. “Sempre respeitei o sistema de justiça criminal, mas tenho que questionar hoje se a decisão foi tomada a partir de uma avaliação própria e imparcial da evidência”, disse ela, que se mostrou enfurecida por pessoas próximas a ela terem sido acusadas.
A ex-executiva-chefe chegou a ser presa anteriormente, sob suspeita de corrupção e conspiração para interceptar comunicações – mas foi solta após pagar fiança. Nas acusações anunciadas esta semana, promotores alegam que a obstrução aconteceu do dia 6 a 19 de julho do ano passado. Estes foram os dias em que o escândalo transformou-se em uma crise, após um artigo publicado no dia 5/7 noThe Guardian que revelava que o News of the World invadiu, em 2002, a caixa postal de uma jovem de 13 anos desaparecida e encontrada posteriormente assassinada. Dias depois, a News Corporation fechou o tabloide, de 168 anos, e Rebekah renunciou.
Três acusações
Agora, Rebekah enfrenta três acusações de corromper o andamento da justiça. Na primeira, ela – sozinha – foi acusada de conspirar com cinco outros por “ocultar material” da polícia de 6 a 19 de julho. Na segunda, ela foi acusada com sua ex-secretária. Promotores alegaram que elas “conspiraram juntas para retirar sete caixas de material do arquivo da News International” entre 6 e 9 de julho. Já na terceira, ela foi acusada com o marido, Hanna, Edwards e Jorsling. Segundo promotores, os cinco conspiraram para “manter secretos documentos, computadores e outros equipamentos eletrônicos”.
A News Corporation disse estar cooperando com a investigação. A polícia fez 53 prisões desde que reabriu sua investigação sobre grampos em janeiro de 2011. Prejudicar o andamento da justiça implica uma penalidade máxima de prisão perpétua, embora na prática a penalidade deve ser de apenas meses ou anos, dependendo da seriedade do crime. Leis britânicas impedem que a imprensa divulgue informações que possam prejudicar as cortes em um julgamento criminal. Isto significa que informações relacionadas aos réus não devem ser divulgadas até a conclusão dos julgamentos.
As acusações contra Rebekah foram feitas em meio à crescente investigação parlamentar da suposta ligação entre a News Corporation, Cameron e seu governo. O primeiro-ministro é colega de faculdade – a Eton College – do marido de Rebekah e seu irmão mais novo. Ele também é muito próximo de Rebekah. Em testemunho ao Inquérito Leveson – investigação sobre a ética da mídia britânica – na semana passada, Rebekah disse ter trocado SMS com Cameron uma ou duas vezes por semana.
A unidade de tabloides da News Corporation está cooperando com dezenas de ações sobre supostas intercepções de mensagens pelo News of World. No começo do mês, a News Corporation disse ter gasto US$ 167 milhões (em torno de R$ 334 milhões) com acusações legais, investigações internas e acordos relacionados ao escândalo nos tabloides britânicos nos nove meses que culminaram no dia 31 de março. Informações de Paul Sonne e Cassell Bryan-Low [The Wall Street Journal, 15/5/12].