Thursday, 25 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Plataforma de democratização

O Observatório da Imprensa estreou na internet em abril de 1996 como um projeto do Comitê Gestor da Internet no Brasil, no âmbito de um Grupo de Trabalho de Articulação com a Sociedade, então coordenado pelo ex-reitor da Unicamp Carlos Vogt, hoje presidente da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo). O Comitê Gestor era presidido por Ivan Moura Campos.


A preparação para a primeira edição ocorreu menos de um ano depois do advento da internet comercial no país. Mas não é só na cronologia que internet e OI caminham juntos. A iniciar seu décimo ano consecutivo de presença regular na internet, esta atividade de crítica da mídia – desdobramento da que foi inaugurada no Brasil por Alberto Dines na Folha de S.Paulo há quase 30 anos [a coluna dominical ‘Jornal dos Jornais’, publicada de julho de 1975 a julho de 1977] – tira partido dos principais atributos da rede: a base tecnológica é a mesma para ler e escrever, e os custos de montagem na ponta do sistema são compartilhados pelos usuários (como no caso do rádio e da televisão, mas com direito apenas a receber a programação, não a se manifestar). 


Aqui, o bilhete de entrada é a capacidade de produzir conteúdos relevantes. Falar (escrever) para outros não depende da posse de meios de distribuição. O que está sempre em disputa, seja qual for o ambiente ou a plataforma tecnológica, é a atenção, o tempo alheio. O que resulta, até certo ponto, em igualdade de condições.


Entretanto, a facilidade de chegar ao outro – nove anos atrás, uma reduzida elite econômica e cultural; hoje, potencialmente, dezenas de milhões de pessoas – e de ouvi-lo torna maior, e não menor, a responsabilidade pela conduta editorial do veículo. Quer no plano da ética, para evitar que a ferramenta seja usada com objetivos estranhos a suas finalidades, quer como estratégica de mídia, garantindo-se que permaneça como foco a crítica do jornalismo nos meios de comunicação.


O programa de TV


O balanço desses primeiros nove anos é animador. Alberto Dines, Luiz Egypto, Marinilda Carvalho, Luiz Antonio Magalhães e Victor Gentilli foram editores competentes. Nos três primeiros anos, tive a honra de pertencer ao grupo de editores na qualidade de seu primeiro redator-chefe – função em que fui substituído por Luiz Egypto, que fora responsável, de julho de 1997 a março de 2000, por uma edição impressa do OI com a síntese mensal do que era veiculado online.


Dois colaboradores que devem ser lembrados neste momento são Caio Túlio Costa, que levou o Observatório para o UOL, e Matinas Suzuki Jr., que o trouxe para o iG.


O programa de televisão, sob a batuta do Dines, começou a ser veiculado pela Rede Pública de Televisão em maio de 1998 e produziu inestimável audiência para o site. Quem convidou Dines para fazer o programa foi Alexandre Machado, ainda em 1997, quando era diretor de Jornalismo da TVE.


Questão de princípios


O OI é um das mais fecundas iniciativas que foram patrocinadas pelo Comitê Gestor da Internet no Brasil. Desde cedo caminhou com suas próprias pernas. Tornou-se independente financeiramente (sempre o foi intelectual e politicamente). Democratizou a participação no debate sobre a mídia.


Quem estava se formando numa faculdade de jornalismo em 1996 já vai completar dez anos no mercado. Pode-se pensar em quanto ainda há (e sempre haverá) por fazer. Mas pode-se imaginar, também, como teria sido a trajetória da imprensa nesse período sem a visão crítica que se aloja nestas páginas.


Hoje o Observatório continua fiel às mesmas preocupações e aos mesmos princípios que lhe deram audiência e credibilidade.