Tuesday, 19 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1279

O jornal dos jornais

Alberto Dines honra sua geração combatente do bom combate contra a onda antidemocrática que desde sempre está presente no cenário nacional e mundial e que se traveste, mimética que é, de muitas formas, algumas usando até, hipocritamente, um discurso pró- democracia, como se viu na sessão de impeachment da Câmara Federal, quando a pisoteiam na pratica. 

A criação deste espaço do Observatório da Imprensa foi um achado dele. Em um momento que ninguém pensava muito no papel primordial da imprensa para a democracia ele insistiu nesta tecla a despeito de todos os percalços dos inimigos que perceberam a importância do papel crítico e por isso tentaram prejudicar esta caminhada. 

Quem fala aqui é alguem que praticamente começou a escrever e ser publicado em algum lugar graças a acolhida generosa deste semanário digital. Sou eternamente grato a eles que deram um espaço a um sujeito sem nenhum pedigree cultural, um sem-capital nesta área, no sentido dado por Pierre Bourdieu.  Nele pude exercer uma crítica a grande mídia sem nenhuma censura. Com eles aprendi como fazer crítica sem cair no maniqueísmo ideológico, armadilha sedutora que atraí quem quer o aplauso fácil dos que pensam igual. Trocar o pensamento único de direita pelo de esquerda já causou tantos males e combate- lo por igual é tarefa de todo o democrata, principalmente, quem é de esquerda. 

Muitas vezes mandei material que não foi publicado e  aprendi assim lições de humildade que faz sempre bem a quem escreve. Orgulho e/ou vaidade acomete muito o escritor que se pretende, no mais das vezes, o criador de um mundo, alguem especial. Como nunca passei por uma redação tive que aprender na marra muitas lições como esta. Creio ter aprendido. 

Um jornalista conhecido de uma revista semanal, cujo nome prefiro não revelar por respeito a sua privacidade,  pediu-me para interceder republicanamente junto ao pessoal do Observatório da Imprensa e tive que dizer a ele que não conhecia ninguém. Mesmo assim, como tinha o endereço eletrônico da única pessoa, Carlos Castilho,  com quem mantinha contato, que aos poucos passou do formal ao amigável, via e- mail pude ajuda- lo neste sentido ao pô- lo em contato com esta pessoa da redação. Este episódio mostra o inusitado da minha condição de colaborador assíduo mesmo sem conhecer pessoalmente ninguém da redação. Não sei se é comum esta situação. A mim, que nunca frequentou uma redação de jornal, parece incomum. Debite- se isso tudo ao admirável e inquietante mundo novo da internet ou ao espirito aberto da equipe do Observatório que acolhe a todos sem pedir mais do que um mínimo de decoro, civilidade e olhar critico capaz de apreender algo interessante e instigante aos preparados  e argutos leitores deste jornal. 

De certo modo e a sua maneira o Observatório da Imprensa, junto com a revista CartaCapital, são os herdeiros diretos de jornais verdadeiramente plurais e democráticos como o Pasquim, a FSP da gestão Claudio Abramo, onde trabalhou Alberto Dines criando “o jornal dos jornais”, embrião do que seria o OI,  a Veja do tempo de Mino Carta. Por não ter lido nem conhecido o Jornal do Brasil e outros jornais importantes do Brasil que tiveram papel importante em momentos críticos da recente historia do país fico impedido de alargar esta lista que sei ser maior. Na esteira do Observatório da Imprensa se criaram muitos jornais eletrônicos no país. Uns mais a esquerda, outros menos. Todos ou a maioria, felizmente, com uma agenda progressista e democrática. Até porque defender o pensamento único neoliberal não precisa de ajuda nenhuma. A grande mídia está toda voltada para este fim. 

Minhas sinceras homenagens a este fundamental projeto diferenciado de jornalismo que se tornou fundamental para o acompanhamento crítico da grande imprensa graças ao talento e competência de Alberto Dines que é a alma do Observatório da Imprensa,  como disse Caio Túlio Costa no seu belo artigo “Entre o Cosmo Sangrento e a Alma Pura”, homenageando os 20 anos de sua existência. Minhas homenagens se estendem as excelentes equipes anteriores onde para meu gosto pessoal despontavam Venício A. de Lima, Luciano Martins Costa, Sylvia D. Moretzhson  e a atual com Carlos Castilho como redator- chefe  que tem que “dar nó em pingo d’agua” para manter em pé esta trincheira contra o pensamento único, termo criado, como me diz o google, por Ignácio Ramonet em janeiro de 1995 em artigo no jornal Le Monde Diplomatique e a favor da democracia e da pluralidade de opiniões.

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Jorge Alberto Benitz é consultor