Friday, 26 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

A banalização do mal

A propaganda de uma companhia de telefonia móvel que entrou no ar nas comemorações do Dia das Mães é mais um reflexo do descaso dos profissionais de comunicação e dirigentes da mídia em relação às suas obrigações constitucionais de respeito a valores éticos e sociais da pessoa e da família.

O que é aquilo, minha gente? O menino entrega um aparelho celular de presente à mãe. Ela, muito feliz, comenta que deve ter custado muito caro. Ele mente: ‘Custou sim, juntei um bocado da minha mesada por muito tempo, mas você merece’.O pai delata o filho com o maior descaso e prazer: ‘Este não é aquele aparelho da promoção de um real?’. A mãe não deixa por menos. Elogia o bom gosto do filho, qualidade que herdou dela, e defeito de ser pão duro, que herdou do pai. Ainda convida o menino a provocar o pai: ‘Vamos fazer uma ligação a cobrar para o papai?’ Que belo exemplo! Belas relações familiares em um tempo de tanto descrédito em relação aos fundamentos da conduta ética!

Não faz muito tempo, em junho do ano passado, a Associação Brasileira de Propaganda (ABP), a Federação Nacional das Agências de Propaganda (Fenapro) e a Associação Brasileira de Agências de Publicidade (Abap) lançaram a campanha ‘Bom exemplo: essa moda pega’, segunda etapa do movimento ‘O melhor do Brasil é o brasileiro’.

Não pegou

Segundo o material de divulgação da campanha, o foco dessa etapa era a comunicação de utilidade pública voltada para hábitos preventivos de saúde, alimentação, incentivo a exercícios físicos, respeito ao trânsito e ao meio ambiente. Os dirigentes dessas três entidades, que respondem por 85% dos investimentos de mídia no país, diziam que as agências de publicidade, cientes de seu papel de agentes sociais e formadoras de opinião, entendiam, mais uma vez o papel fundamental que este tipo de iniciativa tem para estimular a cidadania e para a formação cívica da população. O foco dessa etapa do ‘Bom Exemplo, essa moda pega’ era o fortalecimento das relações familiares e sociais, cordialidade no ambiente de trabalho e combate ao desperdício de água e energia, temas que seriam abordados nos próximos meses.

Pelo jeito essa moda não pegou. Nem na propaganda, tampouco nas telenovelas que seguem o receituário de histórias sobre o jogo sujo de roubar, matar e cobiçar a fortuna alheia.

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Servidora pública formada em Comunicação e pós-graduada em políticas públicas pela Universidade de Brasília