Saturday, 20 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Ler jornais faz bem à saúde

Aleluia! A Associação Nacional dos Jornais (ANJ) está fazendo uma campanha que busca incentivar a leitura de periódicos, independentemente de qual deles. A campanha, por sinal, em veiculação nas emissoras de TV, é criativa. Em síntese, mostra-se uma fotografia com cena polêmica, colocada no canto superior esquerdo de uma folha e, depois, traçam-se linhas formando pautas onde se deve opinar a respeito. Já vi três criações diferentes: uma utilizando foto de cadeira elétrica. Outra, com foto de dois homens se beijando. E uma terceira, com foto de um menino usando drogas.


Em Mato Grosso, são três jornais diários principais. Os três, juntos, não somam 20 mil exemplares por dia, em um estado com 2,5 milhões de habitantes. É muito pouco. São jornais que vivem do anunciante público. O setor comercial desses jornais é precário. A venda em banca é irrisória. Enfim, é um quadro que – na verdade – também se repete em outras capitais pelo país. É a realidade do jornalismo brasileiro: viver da verba pública, uma verba de zelo não raro travestida de anúncios publicitários das Secoms da vida, sem qualquer interesse público.


A cara dos donos


De qualquer forma, a campanha da ANJ merece aplausos. No Brasil, se lê menos jornal do que na Bolívia. Tenho dados de 1998 e 1999 que, embora já um pouco distantes, acredito que refletem a realidade ainda. Eram dados divulgados pelo Sindicato dos Jornalistas do Distrito Federal:


** A tiragem diária de jornais no Brasil é de apenas 3,6 milhões, para uma população de 170 milhões, tendo caído no ano de 98 para 99;


** Existem apenas 338 jornais diários, num universo de mais de 5 mil municípios;


** Dos 10 diários com tiragem superior a 100 mil exemplares, sete estão no eixo Rio-São Paulo;


** Cerca de 90% dos brasileiros não lêem regularmente jornais, revistas ou livros;


** O Brasil detém uma taxa de leitores de jornais inferior à da Bolívia: apenas 27 exemplares para cada grupo de mil leitores, quando no país andino é de 30 por mil.


É preciso, sim, ler jornais, até mesmo para aprender a ler jornais. Um povo que lê jornais pode, com o tempo, melhor reconhecer as tramóias travestidas nas linhas dos jornais. Aprende a discordar dos jornais ou a concordar, mas não como vaca de presépio, como é a realidade brasileira. Onde o povo lê jornais efetivamente diminui o espaço do interesse da empresa e aumenta o espaço do interesse da imprensa. Não que o interesse da imprensa vá prevalecer sobre o interesse da empresa, porque aí já é utopia demais. Porém, a zona cinzenta envolvendo a mistura do jornalismo a interesses estranhos se reduz.


Enfim, a ANJ está certa: vamos ler mais jornais para que a cara da imprensa brasileira deixe de ser, ao menos um pouquinho só, a cara dos donos das empresas jornalísticas.

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Jornalista e advogado em Cuiabá (www.expressoeshumanas.com.br)