Thursday, 25 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Mídia econômica de olho nos jogos

Desde 1970, de quatro em quatro anos a rotina da população do planeta muda, pois acontece a Copa do Mundo de futebol. Foi nesse ano, durante a Copa do México, que realizou-se a primeira transmissão direta dos jogos via televisão.


Houve uma mudança nos hábitos. Lembro das Copas posteriores à guerra, quando eram instalados sistemas de alto-falantes nas praças públicas e as pessoas saíam de casa para ouvir as transmissões em ondas curtas, com forte interferência, que tornava difícil entender o que dizia o locutor Oduvaldo Cozzi, mas o grito de gol era logo percebido e todos pulavam e se abraçavam.


Em 1970, a coisa mudou. Durante os jogos, as ruas ficavam vazias, até os bares, todos nas suas casas ou na de amigos para assistir à Seleção, que venceu seu tricampeonato. A cada vitória dos ‘canarinhos’, todos vinham para a rua e, em corsos de automóveis, festejavam, o que se tornou um hábito mundial.


Seis fabricantes


A partir de 9 de junho, passados quase 40 anos, assistiremos à 9ª Copa em transmissão direta. Dessas o Brasil venceu três, e espera vencer a atual, time para isso tem. Nesse período, o futebol globalizou-se, seja na paixão, seja na qualidade com que está sendo praticado. Espera-se que um bilhão de torcedores fiquem colados a seus aparelhos de televisão torcendo por seus times, vendo os gols mais bonitos, espetaculares e decisivos.


Nesses mesmos dias, um número restrito de espectadores estará também grudado aos televisores, não torcerão por ninguém, mas querem ver que marca de chuteira será usada pelo jogador que fizer o primeiro gol do evento. Será da Adidas, da Nikê (assim mesmo, oxítona com o ‘e’ fechado, pois a palavra é grega, sendo o nome da personificação da vitória), da Puma ou da Umbro? Valerá a máxima: ‘Quem vence no domingo vende na segunda-feira’. Os resultados definirão qual a empresa número 1 do planeta em fabricação de material esportivo.


As 32 seleções que disputarão Copa do Mundo da Alemanha usarão material de seis fabricantes: Puma, com o maior número (12), mas com um só país de importância, a Itália (entre os outros, Angola, Togo, Gana); Nikê, com 8, contudo tendo como usuários Brasil, Estados Unidos, Holanda; Adidas, com 6, a tricampeã Alemanha, a bi Argentina e, com um campeonato, a França, e de quebra ainda o rico Japão e a forte Espanha; a Umbro, com Inglaterra (campeã em 1966) e Suécia; finalmente, outras três de pouca expressão: Lotto com Sérvia e Montenegro (juntos apenas no Mundial, pois Montenegro tornou-se há dias país independente) e Ucrânia; Joam com Costa Rica e Marathon com Equador. Portanto, a grande disputa será entre a Nikê e a Adidas. A primeira teve um faturamento de 13,5 bilhões de dólares, contra 12 bilhões da Adidas, que conseguiu chegar a essa cifra com a compra no mês passado de uma rival menor, a Reebok.


Único mandamento


A Adidas, fundada em 1949, na Alemanha por Adolf Dassier, cuja iniciais deram nome à firma, com a Copa do Mundo espera ultrapassar a rival, valendo-se de três trunfos: é uma firma alemã com sede na Baviera, portanto está ‘jogando em casa’. É um dos patrocinadores desse Mundial, e dessa forma sua logomarca aparecerá à exaustão, durante um mês, nos uniformes dos árbitros, em cartazes publicitários nos estádios, todos continuamente enquadrados pelas telecâmeras. Finalmente por ter desde 1970 patrocinado todos as Copas do Mundo, como diz o presidente da Fifa, Joseph Blatter: ‘O futebol e a Adidas são uma coisa só’.


A estadunidense Nikê, com seu quartel general no Oregon, espera fazer no futebol o mesmo que fez no basquete, o que a tornou líder na venda dos sapatos usados nesse esporte, contratando para garotos-propaganda os melhores atletas, como foi Michael Jordan e agora está sendo Ronaldinho no futebol.


Esses poucos espectadores de material esportivo trocaram a mídia esportiva pela mídia econômica. Suas observações e conclusões não estarão nas primeiras páginas esportivas, mas certamente serão destaque no Wall Street Journal, a ‘bíblia’ do capitalismo mundial, que tem como primeiro e único mandamento ‘It’s all business’.

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Jornalista