Thursday, 28 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

A cobertura da tragédia no Japão

Bem-vindos ao Observatório da Imprensa.

Depois do terremoto e do tsunami a mídia está conseguindo dar a devida dimensão ao vazamento radioativo? As consequências do que está acontecendo no complexo nuclear de Fukushima podem espalhar-se pelo mundo afora, mas a cobertura internacional está sendo feita dentro dos mesmos paradigmas e do mesmo diapasão adotado pela mídia japonesa, preocupada principalmente em evitar o pânico.

No Japão é natural que as autoridades e os jornalistas recusem qualquer entonação alarmista, o povo é suficientemente sofrido e experiente para avaliar o que está acontecendo, não precisa ser sacudido artificialmente. Mas no resto do mundo, dá-se justamente o inverso – a sociedade ocidental tende ao conforto e ao bem-estar e a mídia funciona como uma sirene que quanto mais é acionada mais alto precisa soar.

O pesadelo nuclear japonês tornou-se um pesadelo nuclear global. A prova vem da Alemanha onde no sábado gigantescas manifestações dos ambientalistas contra o uso da energia nuclear levaram à derrota da chanceler Angela Merkel nas eleições do dia seguinte, justamente para o Partido Verde.

O Oriente é mais resignado, fatalista. A cultura ocidental, sobretudo a contemporânea, tende sempre ao happy-end, o final-feliz. Entre nós, as catástrofes têm prazo de validade porque a sociedade do espetáculo não está acostumada a sofrer. Acontece que a catástrofe japonesa vai levar muito tempo para ser devidamente reparada, é isto que ainda não foi assimilado aqui nos antípodas. O modelo de produção industrial adotado hoje em todo o mundo baseia-se na interdependência – é um sistema engenhoso e eficiente porque ultrapassa as fronteiras, oceanos e continentes mas, em compensação, dissemina a vulnerabilidade.

E nos condena à solidariedade.