Friday, 29 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

A distribuição de canais de rádio e tv

Bem-vindos ao Observatório da Imprensa.


A vida continua. No meio do espetáculo político que se estende há quase três meses não se pode perder de vista a vida cotidiana da imprensa. O Globo ainda não anunciou mas vai oferecer nos próximos dias uma péssima notícia não apenas aos seus leitores mas à cultura brasileira. O crítico literário Wilson Martins, o mais antigo e o mais respeitado do país, verdadeira instituição nacional, vai interromper o insubstituível rodapé que publica todos os sábados no caderno Prosa e Verso. Junto com ele sai também o poeta e crítico Affonso Romano de Sant´anna. A desculpa é a mesma: redução de gastos. A desastrosa decisão coincide com as festas pelos 80 anos de fundação do jornal que é o carro chefe das Organizações Globo, a mais poderosa empresa de comunicação do país e uma das maiores do mundo. Impossível acreditar que um grupo deste porte não tenha recursos para honrar seus compromissos com a cultura e a literatura brasileira. Voltaremos ao assunto.


Os deputados José Dirceu e Roberto Jefferson pararam o país na comissão de ética. Mas o mensalão não está deixando que a imprensa preste atenção nas outras mazelas do Legislativo. Não são poucas e não são insignificantes. O pagamento a deputados do Governo e da base aliada é um fato de extrema gravidade. Mas existem outros tipos de irregularidades mais antigas que não ganham manchetes embora igualmente vergonhosas.


Uma destas irregularidades é a concessão de canais de radiodifusão a congressistas. É inconstitucional e imoral. Um legislador que autoriza as concessões públicas não pode ser ao mesmo tempo o beneficiário desta concessão. É um claro conflito de interesses. É um privilégio que confronta o princípio da isonomia que rege o estado de direito.


Já tratamos disso em outras edições mas nesta hora em que tanto se fala de saneamento e reformas do sistema político é imperioso lembrar um escândalo como esse que corrompe e degrada não apenas o Legislativo mas a própria mídia eletrônica. Inclusive a sua programação.


Esta discussão evidentemente não interessa às empresas de comunicação multimeios. Mas interessa às empresas de jornalismo impresso que não dependem de concessões. A distribuição de canais de rádio e tv envolve o baixo clero e o alto clero. Envolve as mesas das duas casas, envolve sobretudo as corregedorias que jamais prestaram atenção a esta ilicitude.


Hoje, ao longo da tarde, o país distraiu-se assistindo ao testemunho do deputado José Dirceu confrontado pelo seu colega Roberto Jefferson na Comissão de Ética da Câmara. A democracia saiu ganhando. A democracia ganhará mais ainda quando esta mesma Comissão de Ética acabar com a figura do parlamentar concessionário de rádio e tv. E você será o maior beneficiário.


Assista ao compacto desse programa em:
www.tvebrasil.com.br/observatorio/videos.htm