Friday, 19 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

A exploração do mito

Bem-vindos ao Observatório da Imprensa.

Na galeria de mitos e símbolos românticos criados pelo cinema americano está o advogado bronco, mas capaz de convencer o corpo de jurados que o réu prestes a ser linchado é inocente. Alguns clássicos de Hollywood relatam emocionantes julgamentos.

Para o grande público, o tribunal do júri encarna a administração da justiça. É o grande espetáculo forense. O trabalho de formiguinha da promotoria ou da defesa, a preparação do processo e a elaboração da sentença de um juiz qualificado não têm a dramaticidade de um julgamento diante do júri.

O cinema criou o mito e a mídia adora explorá-lo. Mesmo sem a presença de gravadores e câmeras durante as sessões, os bastidores deste show são empolgantes. Na semana passada, de segunda a sexta, o Brasil parou para acompanhar, discutir e julgar o julgamento de Alexandre Nardoni e Anna Carolina Jatobá, acusados de matar a filha e enteada Isabella, de cinco anos.

Os acusados foram condenados e o caso talvez volte a ser julgado. Mas além do horror do episódio em si e da repulsa ao circo montado pela mídia popular, o caso Nardoni iniciou um salutar debate sobre a instituição do júri popular. A Folha de S. Paulo ofereceu uma excelente contribuição convocando, ainda durante o julgamento, dois magistrados para expor as virtudes e defeitos do júri popular.

Este não é nosso maior problema na esfera do Judiciário, há outros mais prementes, mas numa sociedade que se deixa fascinar com tanta facilidade pelo melodrama, um debate conceitual sobre o tribunal do júri ajuda a pensar. E, quando a cidadania pensa, produzem-se grandes mudanças.