Thursday, 18 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

A mídia como arma pela segurança no trânsito

Bem-vindos ao Observatório da Imprensa.

Quem disse que o Brasil não está em guerra? Quem é capaz de afirmar que criamos uma sociedade cordial onde imperam a paz e o amor?

Estamos em guerra, sim. Morreram em 2010 mais de 50 mil brasileiros. Mas não morreram em combate, com armas na mão. Foram assassinados, e assassinados covardemente por patrícios – concidadãos – que se dão o direito de burlar as leis, dirigir alcoolizados e converter os seus carros em armas de destruição em massa.

No último fim de semana, na pacata Minas Gerais, em três acidentes foram mortos quatro cidadãos e feridos 31, alguns com gravidade, sendo que um dos homicidas é menor, de 17 anos, que logo irá para casa, impune.

O primeiro romance de Jorge Amado chamou-se "O País do Carnaval", isto foi em 1931, há 80 anos. Hoje este país deveria chamar-se o país da cerveja. A inocente cervejinha transformou-se em passaporte para a morte – é o produto mais anunciado na mídia brasileira, mas toda vez que se ousa lembrar este dado macabro, mobilizam-se os cínicos defensores da liberdade de expressão impedindo qualquer debate que possa levar a restrições no tocante a publicidade e venda de cerveja. Sequer se aventa a possibilidade de aumentar os impostos porque logo aparecerão os demagogos alegando que o povo não pode ser impedido de gozar um dos seus poucos prazeres. Mas na antiga União Soviética, a vodca foi pesadamente taxada quando converteu-se em inimiga pública número 1.

Só a mídia tem condições de criar uma consciência nacional contra a equação álcool-volante. Se não o fizer com um mínimo de veemência estará confirmando as suspeitas de que ela prefere noticiar tragédias do que evitá-las.