Friday, 19 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

A mídia e a ilha da fantasia

Bem-vindos ao Observatório da Imprensa.


Há três meses, desde o início de fevereiro, o Brasil assiste a um Big Brother diferente transmitido diretamente do Congresso: é empolgante, os absurdos são tão absurdos que parecem ensaiados, lamentavelmente são verdadeiros.


A farra das passagens aéreas não é um fato isolado, acidental, é a face visível de um venerando sistema de grandes privilégios e pequenas irregularidades que somados penetraram no âmago do Legislativo até intoxicá-lo inteiramente.


Quando o corregedor da Câmara ao invés de assumir a faxina da casa do povo declara despudorado que está se ‘lixando’ para a opinião pública ele empurra a crise do Congresso para além da Praça dos Três Poderes e a espalha pelas redações de jornais, revistas, rádios e televisões do país. Duas perguntas cruciais são imediatamente acionadas: a imprensa está exagerando nas denúncias ou, ao contrário, demorou muito para despertar para algo que ela deveria ter sido a primeira a denunciar?


Quando JK decidiu transferir a capital para o Planalto Central, uma das suas razões íntimas era aliviar a pressão de uma opinião pública altamente politizada, como a do Rio de Janeiro, concentrada em cima do Palácio do Catete e do Congresso instalados em pleno centro da cidade. Quarenta e nove anos depois e por diversas razões ficou patente que JK conseguiu o que pretendia: a opinião pública está distante, isolada e quando acordou da letargia ouviu um representante do povo afirmar que está se lixando para o que ela pensa.


A verdade é que o escândalo das passagens aéreas deve produzir uma aterrissagem generalizada. A menos que a imprensa prefira manter Brasília como uma ilha da fantasia onde ninguém se lixa com coisa alguma.


Assista ao compacto desse programa em:
www.tvebrasil.com.br/observatorio/videos.htm