Thursday, 18 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1283

Carnaval: entre tamborins e cifrões


Bem-vindos ao Observatório da Imprensa.


Antigamente existia o micareme, no meio da quaresma. Hoje temos as micaretas, carnavais disfarçados ao longo do ano. Este ano é diferente, embora não seja bissexto. A micareta veio antes do carnaval. E veio em ritmo de rock pauleira.


Com o apoio integral dos meios de comunicação, Rio e São Paulo entregaram-se aos Rolling Stones e ao U2. Ensaio de empolgação ou substituto importado? Apesar das diferenças formais entre o rock e os desfiles carnavalescos, estes mega-eventos têm muito em comum. E não apenas por causa da percussão e da repercussão. Fazem parte do mesmo show-bizz, o fabuloso negócio do espetáculo, indústria sem chaminés e muitos holofotes que depende dos meios de comunicação. E os meios de comunicação dependem da publicidade. E a publicidade precisa da empolgação das platéias para manter-se economicamente viável.


Por ironia, os sambódromos aceleraram o processo de mercantilização ou monetização do carnaval. Pouco mais de 20 anos depois temos o mestre Martinho da Vila, o celebrado compositor da Unidos de Vila Isabel, afastado da sua escola e denunciando os desmandos dos carnavalescos.


Quando se revelou o divórcio, a mídia não se incomodou. A mídia, na verdade, não se importa com muita coisa que importa. Até a reportagem de capa da revista do Globo publicada neste domingo com o desabafo de Martinho saiu meio escondida na primeira página do jornal. Mick Jagger, obviamente, dominava o noticiário e no tocante ao carnaval, quem aparecia era a sensual Tatiana Pagung levemente vestida com as cores da brasilidade.


Carnaval é alegria, vamos a ela. Mas nos intervalos comerciais convém pensar naquele carnaval que acabou.


Assista ao compacto desse programa em:
www.tvebrasil.com.br/observatorio/videos.htm